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Viagem de Obama

26 de março de 2011

Passagem do presidente Obama por Brasil, Chile e El Salvador trouxe poucos resultados concretos e evidenciou que a América Latina não é prioridade para a política externa dos Estados Unidos, dizem especialistas.

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Obama com Dilma em BrasíliaFoto: dapd

Após uma viagem de cinco dias a três países da América Latina, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixou El Salvador nesta quarta-feira (23/03) – duas horas antes do horário previsto. Antes ele havia passado pelo Brasil e pelo Chile.

Durante a viagem, os assessores do presidente tiveram que se esforçar para mostrar que as relações com a América Latina, apresentadas como uma "nova era de relações de igualdade em condições", eram tão importantes para o chefe da Casa Branca quanto a crise na Líbia.

Além do Brasil, seu maior parceiro na América do Sul, e do Chile, um aliado já consolidado, a visita a El Salvador "enviou um sinal de que existe uma esquerda moderada com a qual os EUA podem cooperar sem que isso afete o rumo 'antichavista' da política americana na região", observa o subdiretor do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão), Günther Mailhold.

Para o especialista, a viagem foi uma tentativa de recolocar a América Latina, ao menos no nível do discurso, entre as prioridades políticas dos norte-americanos. "A agenda foi fundamentalmente econômica, justamente para marcar certa presença diante da crescente influência da China na América Latina", avalia o cientista político do Instituto GIGA de Estudos Latino-Americanos de Hamburgo, Leslie Wehner.

As expectativas dos latino-americanos, no entanto, eram maiores. O Brasil, por exemplo, não recebeu apoio explícito para a sua candidatura como membro permanente do Conselho de Segurança – cargo que pleiteia há anos. E o discurso direcionado à América Latina, realizado no Chile, foi recebido sem entusiasmo e tachado de "burocrático" e "genérico" por vários veículos de comunicação e por ambos especialistas ouvidos pela Deutsche Welle.

Além disso, o discurso foi pronunciado num momento em que os Estados Unidos enfrentavam críticas na região devido à ofensiva militar internacional na Líbia. Ao final, El Salvador foi provavelmente o país mais satisfeito com a viagem, devido a gestos financeiros e simbólicos. Em San Salvador, o presidente americano anunciou uma ajuda de 200 milhões de dólares para um programa centroamericano de segurança.

Negócios com o Brasil

O principal interesse dos EUA era o comércio bilateral com o Brasil, pois já existe um tratado de livre comércio com o Chile – ainda que a China seja o principal parceiro comercial dos dois países latino-americanos. Obama, no entanto, não fez nem no Brasil nem no Chile ofertas específicas para relançar a agenda bilateral, como a remoção das barreiras agrícolas, salienta Wehner.

Obama Brasilien Rio de Janeiro Jesus Christus Statue
Família Obama no RioFoto: dapd

No campo político, o Brasil esperava que os EUA aprovassem sua candidatura a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, assim como Obama fizera com a Índia. Mas, se no caso da Índia está claro que o país pode servir como um contrapeso à ascensão da China, o cientista político Wehner acredita que apoiar o Brasil pode ser contraproducente para os norte-americanos, que continuam vendo a América Latina como parte de sua esfera de influência.

Ator secundário

Nem mesmo a presença de atores extra-regionais como China, Rússia ou Irã é vista como um risco para o papel dos Estados Unidos na região, analisa Mailhold. "Esses países seguem projetos econômicos que não parecem, até agora, resultar em influência política na região". Por isso, os EUA priorizam os seus interesses de segurança na região do Caribe. Mas sem deixar de lado, claro, o Brasil, maior país do subcontinente.

"A América Latina continua sendo um ator secundário na política externa norte-americana", avalia Wehner. Apesar das grandes expectativas geradas pela presença de Obama na região, a agenda para esses países continua marcada por temas clássicos como a migração e o combate ao narcotráfico – "uma realidade para alguns países, mas não para todos", afirma o cientista político.

Além de ter deixado de lado a Argentina – ausência justificada pela proximidade das eleições presidenciais no país – também ficou pendente a visita de Obama à Colômbia, provavelmente devido à incapacidade de sua administração de fechar um tratado de livre comércio com o país, bloqueado pelo Congresso.

Autora: Rosa Muñoz Lima (msa)
Revisão: Alexandre Schossler