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Brasil na rédea curta

18 de março de 2011

Em sua primeira visita oficial ao país, Obama tem como objetivo ampliar o comércio bilateral e comprovar a popularidade que ainda tem nos países latinos.

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Presidente Obama chega a Brasília no fim de semanaFoto: AP

A primeira visita oficial do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil tem dois pontos fundamentais, na visão de especialistas: garantir que o maior e mais influente país da América do Sul se mantenha alinhado à potência do norte, e ampliar o comércio bilateral.

Há também um terceiro ponto que parece animar a Casa Branca: com a popularidade em queda em seu país, Obama poderá mostrar, durante sua passagem pelo Brasil, Chile e El Salvador, que ainda conta com a simpatia dos vizinhos latinos. E assim, fazer um bom marketing para os EUA.

Questão de prestígio

Nesta linha, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil abriu espaço em seu website para que brasileiros deixem mensagens de texto ou mesmo vídeos de boas-vindas ao presidente norte-americano. As "mais sinceras e criativas", segundo o site, serão premiadas. A embaixada também está convocando a população do Rio de Janeiro para participar do discurso público que Obama fará no domingo (20/03) na cidade.

"A vinda do Obama será amplamente coberta pela imprensa norte-americana. Então, mostrar o prestígio que ele tem no Brasil também será um importante componente da visita", avalia o cientista político da Universidade de Brasília, David Fleischer. "E também demonstrar o prestígio que está sendo dado ao Brasil, pois será o primeiro dos três países a ser visitado", afirma Fleischer.

Obama desembarca na manhã deste sábado em Brasília, onde fica até o fim do dia. Depois segue para o Rio de Janeiro, antes de ir para o Chile, no domingo. Na segunda-feira o presidente chega a El Salvador, onde fica até a terça.

Retomando o diálogo

Para o professor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Washington, Jonathan Warren, uma das bases da atual relação positiva entre Brasil e EUA seria a boa atuação no campo econômico do ex-presidente Lula. Apesar de ser um líder de esquerda, conseguiu manter distância da imagem mais radical que os norte-americanos associam com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Bolívia, Evo Morales.

"Lula foi muito sagaz ao usar a linguagem do neoliberalismo para encaixar sua política econômica. Sua maior crítica aos EUA e a outros países no norte, por exemplo, era com relação a subsídios que eles davam ao setor agrícola em violação aos princípios neoliberais", ressalta Warren.

Dilma Rousseff Präsidentin Brasilien
Críticas de Dilma ao Irã agradaram aos EUAFoto: dapd

Para a continuidade dessa boa política entre os dois países, a visita à presidente Dilma Roussef ganha contexto de importância. Apesar de Obama ter se referido a Lula como "o cara" em um encontro internacional há dois anos, a aproximação do Brasil com o Irã não agradou aos EUA. Em 2010, Lula chegou a defender um acordo nuclear com o presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad.

"Assim que assumiu o mandato, Dilma sinalizou que iria mudar esta posição, que adotaria uma postura mais pragmática e menos ideológica com relação ao Irã", avalia Fleischer, ressaltando que as mais recentes críticas da presidente brasileira ao apedrejamento de mulheres naquele país asiático foram bem recebidas pelos norte-americanos.

Na verdade, segundo avaliação de Jonathan Warren, aos EUA interessa manter o Brasil como "um aliado no qual não precise prestar muita atenção". E essa posição seria boa para a economia brasileira.

Fechando negócios

Os negócios entre Brasil e Estados Unidos serão tema dominante nos compromissos agendados para o sábado do presidente norte-americano. O empresariado dos dois países quer obter de Obama e de Dilma Rousseff compromissos com o fim das tributações de produtos no comércio bilateral.

O dia em Brasília será reservado a encontros empresariais: pela manhã haverá uma reunião menor no Itamaraty e à tarde ele deve se encontrar com cerca de 400 empresários e executivos das áreas de indústria e infraestrutura. Há expectativas de que as conversas possam resultar em acordos na área de tributação e também de patentes.

De olho na futura exploração do petróleo no pré-sal da costa brasileira, os norte-americanos ainda impõem grandes barreiras à importação do etanol à base de cana-de-açúcar produzido no Brasil.

"O Brasil quer uma relação de igual para igual. As circunstâncias no mundo de hoje favorecem isso", disse à Agência Brasil na quinta-feira passada o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.

Mantendo a neutralidade

Os Estados Unidos aparecem hoje como um dos maiores importadores de produtos brasileiros e também o que mais vende no mercado nacional. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, apesar de a exportação brasileira para o mercado norte-americano ter caído nos últimos anos, por causa da crise mundial, a queda do dólar aumentou o volume de produtos importados dos EUA no mercado nacional. No ano passado foi registrado um déficit na balança comercial de quase 8 bilhões de dólares.

A fortalecida economia brasileira faz com que o país seja um parceiro interessante para os EUA, do ponto de vista comercial. Hoje, o Brasil ainda é o oitavo destino das exportações norte-americanas.

A pretensão brasileira de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU também deve entrar na pauta dos dois presidentes. Para o Brasil seria importante contar com o apoio explícito de Obama sobre a questão, mas aqui a probabilidade é reduzida. "Isso (o apoio) não é politicamente viável para a administração Obama. Ele iria apanhar da ala direita norte-americana", opina Warren. Há anos o Brasil pleiteia uma cadeira permanente no conselho.

Autoria: Mariana Santos / Nádia Pontes
Revisão: Augusto Valente