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América Latina

Mirjam Gehrke (ca)17 de dezembro de 2008

Apesar da crise financeira e da recessão que afeta tanto os EUA como a Europa, a América Latina continuará crescendo no próximo ano, diz especialista alemão.

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Especialista acredita que AL continua sendo bom mercado de investimentoFoto: DW Montage/AP

Em entrevista à Deutsche Welle, Peter Rösler, vice-diretor executivo da Associação Empresarial da América Latina (LAV), com sede em Hamburgo, mostrou-se otimista quando às perspectivas latino-americanas em meio aos embates da crise mundial.

Deutsche Welle: A América Latina registrou nos últimos anos um crescimento econômico de 5%. Mas, agora, os EUA e a Europa, principais mercados de destino das exportações latino-americanas, encontram-se em recessão. Qual é a importância disso para países dependentes das exportações?

Porträt Peter Rösler stellvertretender Vorsitzender Ibero-Amerika Verein (IAV)
Peter RöslerFoto: presse

Peter Rösler: Os diversos países possuem diferentes graus de dependência das exportações. No caso do Brasil, as exportações são só uma pequena parte do Produto Interno Bruto. No caso da Venezuela, são bem mais, naturalmente: o petróleo representa mais de um terço das exportações venezuelanas. Ou seja, a crise terá efeitos diferentes para cada um dos países. Mas, em termos gerais, pode-se dizer que, à parte do setor de exportador, existe um mercado interno sólido, que se beneficiou, nos últimos anos, da receita proveniente das exportações e da conseqüente expansão da indústria, da agricultura, etc.

O senhor já mencionou alguns países, como o Brasil e a Venezuela. Para o Chile, por exemplo, que significa a queda de preços de matérias-primas como o cobre?

O Chile aplicou o dinheiro obtido com os preços anteriormente altos do cobre num fundo para tempos ruins. Esse fundo tem agora 20 bilhões de dólares. Isso significa que o Chile não se verá afetado diretamente, agora, pela queda do preço do cobre, pelo menos não na mesma medida que outros países no caso de outras matérias-primas.

Se analisarmos os casos da Argentina e do Brasil, vemos que suas exportações são, sobretudo, de produtos agropecuários. Em conjunturas econômicas menos favoráveis, precisa-se também de alimentos e justamente da Ásia continuam chegando grandes encomendas de alimentos. Quanto às exportações de minério de ferro, por exemplo, recentemente nos chegou a notícia de que a China voltou a importar mais ferro. Por isso, creio que, em termos gerais, a situação para a América Latina não será tão negativa como para a Europa e os EUA.

Apesar disso, esses processos econômicos estão muito ligados entre si. Com os EUA em recessão, também diminuirão as remessas de dinheiro para casa dos latino-americanos que trabalham na América do Norte? Qual é a importância disso para os países receptores?

Isso significa que os consumidores terão menos dinheiro à disposição e que, por exemplo, não se poderá construir tanto quanto hoje. Este fenômeno se constata, sobretudo, na América Central e no Caribe, onde o volume de construção diminuiu. No entanto, acabamos de saber que, na Colômbia, as remessas voltaram a aumentar e também no Brasil se registra um recorde de transferências de brasileiros que vivem no exterior. Por isso, acredito que não se pode tirar conclusões definitivas para toda a região.

O senhor avalia a estabilidade da América Latina em termos bastante positivos. A região continua sendo atraente para investidores estrangeiros?

Sim, sem dúvida. Mas, aqui também devemos diferenciar. Alguns governos aplicam uma política econômica bem mais populista. Continuará sendo difícil investir em tais países, já que não é incentivador temer que os investimentos sejam desapropriados ou que as filiais locais sejam nacionalizadas.

Porém trata-se de países que, juntos, não perfazem 10% do PIB da América Latina. Os grandes países, Brasil, México, também Peru, Colômbia, Chile, continuam sendo mercados de investimento muito interessantes. Também a Argentina é de interessante, principalmente nos setores industrial e de mineração.

Na Europa, vimos que a crise financeira nos Estados Unidos arrastou consigo instituições bancárias de grande tradição. Qual é a situação dos bancos na América Latina?

Em temos gerais, pode-se dizer que eles se encontram em situação bem melhor do que na Europa e nos Estados Unidos. Isso se deve, entre outras coisas, ao fato de os bancos latino-americanos não terem comprado hipotecas subprime, já que as altas taxas de juros na América Latina nunca tornaram atraente esse tipo de transação. Além disso, os bancos latino-americanos não têm o mesmo acesso que os norte-americanos ou europeus aos mercados financeiros globais e isso, nesse caso, é uma vantagem. Pois aquilo que para nós teve conseqüências tão desastrosas praticamente não chegou à América Latina.

Naturalmente, a América Latina sofre também pela escassez de crédito, já que não pode chegar tão facilmente a linhas de crédito internacionais. Além disso, registrou-se uma tendência a retirar investimentos da América Latina, o que prejudicou os mercados financeiros. Isso não pode se explicar a partir da economia real, já que as empresas latino-americanas têm, em geral, uma posição sólida.

Qual é seu prognóstico para América Latina em 2009? Que mercados exportadores restarão à América Latina no próximo ano?

É muito difícil realizar um prognóstico desse tipo em meio a uma volatilidade tão grande nos mercados financeiros. O prognóstico dos bancos internacionais para a região é de um crescimento de 2% ou menos. Nós prognosticamos um crescimento de 2% para toda a região. As razões são que diversos países acumularam grandes reservas de divisas nos últimos anos, reduziram a dívida pública e a dívida externa e seus mercados internos são sólidos. Também pensamos que a demanda da Ásia, apesar de se reduzir um pouco, continuará sendo relativamente grande, tanto no que diz respeito a produtos agropecuários como a determinados minerais.