Apesar de derrota extrema direita francesa tem apoio recorde
14 de dezembro de 2015A Frente Nacional (FN) não conseguiu assegurar para si nenhum dos distritos eleitorais, no segundo turno do pleito regional, apesar de ter estado à frente em seis das 13 regiões do país, no primeiro turno, uma semana antes.
No entanto, a mensagem lei-e-ordem e anti-imigração dos ultradireitistas parece ter ressoado junto a muitos eleitores franceses, neste domingo (14/12), um mês após os atentados por fundamentalistas islâmicos em Paris, pois mais de um quarto dos votantes optou pela FN de Marine Le Pen.
Com vista às eleições presidenciais em 2017, o analista Madani Cheurfa, do instituto político Cevipof, em Paris, avalia que "do ponto de vista político e eleitoral, todos os cenários são possíveis e abertos", inclusive uma vitória da extrema direita. "Temos três partidos quase em pé de igualdade, em termos das urnas. O mecanismo político é que determina que alguns vencem as eleições, outros não."
Como nas eleições departamentais de março, o grande vencedor foram Os Republicanos (LR), de centro-direita, liderados pelo ex-presidente Nicolas Sarkozy. A legenda arrebatou sete das 13 regiões da França, entre elas a Île de France, que inclui a área de Paris.
O Partido Socialista (PS), do presidente François Hollande, e outros grupos de esquerda ficaram com cinco regiões; enquanto os nacionalistas venceram na ilha da Córsega.
Esses resultados fragmentados denotam não a vitória dominadora de um partido, mas antes o esforço consolidado para derrotar a extrema direita. A esquerda retirou seus candidatos em duas regiões, pedindo ao eleitorado que votasse nos conservadores, de modo a bloquear a Frente.
Perigo da FN perdura
Os eleitores franceses aparentemente também responderam ao apelo da esquerda e centro para que marcassem presença nas urnas, reagindo ao avanço da FN no primeiro turno. A participação eleitoral foi superior a 59% – mais de nove pontos porcentuais acima do fim de semana anterior –, sobretudo nas três regiões onde era grande a chance de a legenda de Le Pen vencer.
Mesmo assim, a FN ficou com quase 28% dos votos entregues, num recorde absoluto. "Esta noite não há lugar para alívio nem triunfalismo nem mensagens de vitória", advertiu o primeiro-ministro Manuel Valls, ecoando observações feitas por políticos importantes da direita e da esquerda, ao serem divulgados os resultados. "O perigo que a extrema direita representa não foi embora."
"Precisamos dar provas, sem retornar à política de sempre, de que somos capazes, principalmente a esquerda, de dar uma razão aos franceses para votarem a favor, em vez de votar contra."
No subúrbio operário parisiense de Aubervilliers, a esquerda garantiu 60% da preferência eleitoral, porém no primeiro turno a FN ficou na segunda colocação. Mesmo ocorreu em outros bairros pobres da capital, onde sua mensagem lei-e-ordem encontrou ressonância, especialmente depois dos ataques dos últimos meses.
"A Frente Nacional está brincando com os medos das pessoas", comentou à DW Luc Tourbez, que votou na esquerda. "Estamos em guerra, mas também lembramos como foi a Segunda Guerra Mundial na França. E a minha geração não quer voltar a viver isso."
Expansão sem limites da ultradireita?
Falando a seus partidários na noite do domingo, a presidente da FN, Marine Le Pen, denunciou as supostas "campanhas de calúnia e difamação" pelos oponentes estabelecidos, com o fim de derrotar o partido. Ela perdeu a região de Nord-Pas-de-Calais-Picardie para a centro-direita, apesar de ter liderado o primeiro turno. Ainda assim, afirmou, os últimos resultados teriam confirmado a "inexorável ascensão" da Frente, "eleição após eleição".
De certa maneira, a atual situação já foi vivida antes pelos ultradireitistas. Em 2002, o fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, ficou em segundo lugar no primeiro turno das eleições presidenciais. No turno final, contudo, ele foi derrubado pelo então presidente em exercício, Jacques Chirac.
No entanto, desde que assumiu do pai a liderança partidária em 2011, a advogada de 47 anos Le Pen tem procurado conferir um rosto mais amigável e moderado à Frente Nacional. Esse novo perfil é reforçado por sua sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen.
Com 26 anos, ela encabeçou a lista da legenda na região de Provence-Alps-Cotes d'Azûr, como mais jovem deputada francesa. Contudo, depois de ter liderado o primeiro, também ela perdeu para os conservadores no segundo turno.
"Há vitórias que fazem os vitoriosos se sentirem envergonhados", comentou Maréchal-Le Pen a seus apoiadores na noite de domingo. Quanto às chances de expansão futura da Frente Nacional, "não há nenhum limite pré-definido".