Argentina e credores não chegam a acordo
31 de julho de 2014Após uma maratona de discussões com mediação de um representante da Justiça de Nova York, o governo da Argentina não chegou a um acordo com os fundos credores nesta quarta-feira (30/07) e, 13 anos depois da crise de 2001, voltou a entrar em situação de calote.
Segundo o ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, presente na reunião em Nova York, os investidores que não aderiram aos planos de reestruturação da dívida recusaram uma proposta que lhes garantiria 300% de ganhos.
Sem acordo, o juiz americano Thomas Griesa, árbitro da disputa, manterá bloqueado o dinheiro depositado pela Argentina para o pagamento dos fundos que aceitaram a reestruturação da dívida em parcelas. Se não fosse pago até o fim desta quarta-feira, a Argentina entraria em calote técnico.
"A Argentina está em iminente default [calote]. Hoje, 30 de julho, era o último dia para que a Argentina pagasse centenas de milhões de dólares de juros aos detentores de bônus. Porém, tinha que pagar simultaneamente aos detentores de títulos que recusaram as trocas de 2005 e 2010", disse Daniel Pollack, representante da Justiça de Nova York que mediou a reunião.
A palavra "calote" foi rejeitada pelo ministro argentino, que garantiu que Buenos Aires está aberta a negociações, depositou o dinheiro dos credores e que tem a intenção de honrar todas as suas dívidas. O prazo para o pagamento, porém, terminou nesta quarta-feira. "É uma situação inédita e insólita", afirmou.
Antes mesmo do fim das negociações, a agência de classificação de risco Standard & Poor's havia decidido rebaixar a nota de crédito da Argentina, que passou de CCC- para SD (calote seletivo).
Existem dois tipos de aplicação para tal nota. Um é quando o país está demasiadamente endividado e não tem fundos para cumprir com as obrigações. O outro, que é o caso da Argentina, é quando o país está em condição de pagar a dívida, mas não consegue fazê-lo completamente por questões técnicas.
Longa batalha
A Argentina negociou em Nova York com os fundos de investimento – chamados de "abutres" pelo governo em Buenos Aires – que não aceitaram as propostas de reestruturação da dívida feitas pelo governo argentino entre 2005 e 2010 e ainda detêm títulos da dívida antiga, anterior ao calote de 2001.
Esses fundos recorreram à Justiça de Nova York para receber o valor integral dos papéis, algo em torno de 1,3 bilhão de dólares. O governo argentino argumenta que não pode pagá-los porque títulos da dívida reestruturada contêm a chamada cláusula Rufo, que, até o fim deste ano, impede acertar com credores um acordo melhor do que o obtido pelos que concordaram com a reestruturação.
O problema não estava em quitar a dívida de 1,3 bilhão de dólares, mas sim no que poderia acontecer caso Buenos Aires o fizesse. Outros credores antigos que concordaram em abrir mão de boa parte do dinheiro a que teriam direito poderiam, agora, reivindicar que também querem receber a dívida na íntegra. Isso colocaria a economia argentina na berlinda: são no total 120 bilhões de dólares em obrigações, o que quebraria novamente os cofres do país.
RPR/afp/rtr