Armas alemãs podem ter sido usadas na morte dos estudantes mexicanos
15 de dezembro de 2014Os 43 estudantes desaparecidos no México podem ter sido mortos com fuzis da fabricante alemã Heckler & Koch que chegaram de forma ilegal às mãos da polícia local. Os estudantes estão desaparecidos há quase três meses, e as investigações sustentam a tese de assassinato.
Segundo o jornal alemão taz, investigadores mexicanos confiscaram, da polícia local, 36 fuzis do tipo G36, fabricados pelo maior produtor de armas de fogo portáteis da Alemanha. A empresa obtivera, do governo alemão, as necessárias licenças de exportação para o México, mas elas excluíam explicitamente o envio da armas para essa região mexicana.
Proibição inútil
Durante uma manifestação de protesto em 26 de setembro último, os policiais de Iguala, no estado de Guerrero, atiraram contra um ônibus, matando seis alunos da escola de magistério de Ayotzinapa. Mais tarde, um grupo de estudantes foi encurralado e entregue à quadrilha criminosa Guerreros Unidos. Ao todo, 43 estudantes desapareceram. Há uma semana, os restos mortais de um deles foram encontrados num depósito de lixo. Exames de DNA confirmaram a identidade.
No contexto das investigações sobre o sumiço dos normalistas, prenderam-se mais de 80 pessoas e foram apreendidas 228 armas dos arsenais policiais. Entre elas estão 36 fuzis de assalto G36, da firma Heckler & Koch, também utilizados pelas Forças Armadas alemãs.
Os investigadores indicam que 30 armas teriam sido empregadas nos assassinatos, embora não se saiba de que tipos elas eram.
Em 2007 o governo alemão liberara a venda de 9.500 fuzis G36 ao México, sob a condição de que não fossem fornecidos para as quatro regiões cujas forças de segurança são notoriamente corruptas – entre elas, o estado de Guerrero.
Apesar da proibição, em 2010 uma equipe da emissora de TV de direito público ARD noticiou que os fuzis estavam sendo usados nas províncias em questão e que funcionários da Heckler & Koch treinaram as forças de segurança locais.
Da polícia para os cartéis
Em reação, o pacifista alemão Jürgen Grässlin apresentou queixa contra a empresa, por violar a lei de controle de armas de guerra e a lei de comércio exterior. Até hoje, no entanto, o promotor público responsável, da cidade de Stuttgart, não apresentou denúncia.
"Sabemos por experiência que os fuzis de assalto da Heckler & Koch permanecem funcionais por até 50 anos", explicou Grässlin, em entrevista à DW.
"As consequências para o México são fatais. Nestes primeiros anos, policiais mexicanos extremamente corruptos abateram manifestantes indefesos e outras pessoas com essas armas exportadas ilegalmente da Alemanha. E nos anos e décadas seguintes, os cartéis das drogas vão comprar essas armas ou adquiri-las da polícia de um modo ou de outro."
O prognóstico do ativista se baseia em casos comparáveis. Em dezembro de 2011, a polícia da capital de Guerrero, Chilpanchingo, matou dois manifestantes a tiros. A arma do crime não pôde ser identificada, mas as investigações mostraram que, durante a operação, os agentes portavam fuzis do tipo G36.
Além disso, de acordo como o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, a polícia estadual recebia o equivalente a 50 mil euros por mês da gangue Guerreros Unidos.
Demora inexplicável
No início de dezembro, a Heckler & Koch perdeu uma ação jurídica movida por dois ex-funcionários, demitidos sob alegação de responsabilidade na venda das armas para o México. No decorrer do processo também teriam vindo à luz documentos que provariam que a transação teria sido concretizada através de documentos falsificados.
"Eu me pergunto por que essas investigações já duram quatro anos", comenta o deputado Jan van Aken, do partido A Esquerda e crítico das exportações de armas alemãs.
"A promotoria pública precisa finalmente apresentar denúncia e colocar todas as provas sobre a mesa. Aí talvez possamos também avaliar os inquéritos do México e descobrir se alguns desses assassinatos foram executados com armas da Heckler & Koch. Agora, quatro anos! Isso não dá para aceitar."
Questionada pela DW, a Heckler & Koch não quis comentar o assunto. Grässlin prevê que a denúncia será apresentada no primeiro trimestre de 2015. Antes, o departamento criminal aduaneiro publicará um relatório sobre o caso. Para o deputado Van Aken, porém, "há quatro anos já existem fatos uficientes para mover uma ação".