Teatro
13 de março de 2007"O teatro é a arte que mais provoca sentimentos diferentes em seus espectadores. Ao representar e apresentar, de formas diferentes, sentimentos já vividos e conhecidos, os atores provocam na platéia novas formas desses mesmos sentimentos." Assim o cônsul geral de Portugal, João Bernardo Weinstein, em seu discurso preparado para a abertura oficial do festival de teatro luso-alemão, organizado pelo Studiobühne.
O Studiobühne de Colônia é o teatro universitário mais antigo da Alemanha e, há 20 anos, mantém em sua programação anual um intercâmbio entre grupos da cena alternativa do teatro europeu e alemão.
O festival começou com um intercâmbio entre a Alemanha e a Polônia em 1987 e, desde então, o Studiobühne já recebeu desde países com uma tradição teatral reconhecida internacionalmente, como França, Itália e Inglaterra, até países de um teatro, por assim dizer, mais "obscuro" para o mundo ocidental, como Eslováquia, Israel e Hungria. A exceção foi o ano de 1990, quando, logo após a queda do Muro de Berlim, foram convidados os grupos da então já antiga República Democrática Alemã.
O mote do festival chamado de Europaszene (Cena da Europa) é que os grupos participantes realizem um verdadeiro intercâmbio de conhecimento e tradições da arte teatral. Para isso, são organizados oficinas e workshops com diretores, dramaturgos e dramaturgistas, além de discussões diárias sobre as apresentações da véspera.
Além de ser um festival que não pensa só no público, mas nos artistas, muitas vezes em formação, o outro grande pilar da semana teatral organizada pelo Studiobühne é o fato de não serem trazidos os grandes nomes do teatro.
É a chamada cena alternativa, experimental, formada por aqueles que buscam a nova linguagem teatral a cada montagem, que está no foco dos organizadores do festival. O fato de o Studiobühne de Colônia ser ligado à universidade contribui muito para isso.
Os jovens artistas em formação parecem ávidos por encontrar suas próprias marcas, suas assinaturas e isso transforma a experimentação no carro-chefe das produções.
É o caso do grupo Grenzengänger, com integrantes vindos de toda os lados da Alemanha, que procura literalmente o sabor de Sófocles, e do GTIST, de Lisboa, que aposta no processo colaborativo para chegar aos seus resultados finais.
Conexão Alemanha-Portugal
No semestre em que a Alemanha passará a presidência rotativa da União Européia a Portugal, a cooperação entre os dois países pareceu muito óbvia aos olhos de quem está de fora.
Os organizadores do festival, entretanto, juram que o motivo da escolha de Portugal para a parceria não foi o fato de este país suceder a Alemanha na presidência do bloco, mas não negam que as datas coincidentes sejam, no mínimo, interessantes para os dois lados.
A bilateralidade do festival, que começou em uma época de fronteiras muito mais bem definidas do que nos dias de hoje, continua sendo de extremo valor educativo para artistas e espectadores em geral.
O encontro de dois mundos teatrais, sempre diferentes, dá a exata noção de que, apesar do alargamento político das divisas territoriais que parece acontecer no mundo, as diferenças culturais ainda são muito visíveis e, principalmente, que a arte só tem a ganhar com o reconhecimento das diferenças.
Na apresentação que abriu o festival, na noite de sábado (10/03), o performer Miguel Azguime trouxe com seu conjunto Miso Ensemble uma ópera multimídia que usa a linguagem e os problemas envolvidos com a utilização dela como fio condutor: uma poesia concreta colocada na cena, aliando elementos da música eletrônica, do som e da ressonância das palavras.
O Itinerário do Sal, título da obra, foi o escolhido para abrir o festival luso-alemão porque Azguime, premiado compositor português, autor e performer da ópera que tem duração de 60 minutos, foi o compositor convidado de 2006 para o Programa Artístico promovido pelo DAAD, Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico, em Berlim.
Uma semana para viver teatro
"Das Theater erleben", foi a expressão que um dos organizadores do festival, Georg Franke, utilizou para definir o que o público deve esperar dessa semana de festival. Em uma semana, passarão pelo Studiobühne 13 grupos e 22 apresentações serão feitas no palco do teatro que funciona onde há algumas décadas ficava o refeitório da Universidade de Colônia.
Traduzindo literalmente, a expressão significaria viver a experiência teatral. Como bem colocou o cônsul português Weinstein, viver novamente e de formas diferentes, sentimentos já conhecidos. Para quem tentar não perder nada do que o festival oferece, será mesmo uma semana de imersão na vida teatral, entre espetáculos, oficinas e discussões. Além de, é claro, muitas trocas de experiências e festas, como em todo bom festival.