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Berlim condiciona participação na guerra

(ef)10 de dezembro de 2002

O gabinete condicionou o uso das bases e do espaço aéreos alemães pelos EUA, conforme a posição dos verdes contra qualquer participação alemã numa guerra sem um mandato da ONU.

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Angelika Beer: participação alemã numa guerra contra o Iraque seria inconstitucionalFoto: AP

Em face da posição que os verdes aprovaram em sua convenção nacional, no fim de semana, o governo apresentou, de maneira precisa, as condições para cumprir a sua promessa de liberar o espaço e as bases aéreas alemãs para os Estados Unidos, no caso de uma guerra contra o Iraque: o não cumprimento da resolução da ONU para o desarmamento do Iraque por parte de Bagdá e a aprovação de uma operação militar contra o regime de Saddam Hussein pelas Nações Unidas. "Fora dessas duas condições, só há especulações", esclareceu o porta-voz do governo em Berlim, Bela Anda, nesta segunda-feira (9).

"Sem um mandato da ONU, seria uma violação da Constituição alemã e do direito internacional e não podemos participar," esclareceu, quase simultaneamente, a nova presidente do Partido Verde, Angelika Beer, eleita no fim de semana. Beer não admite sequer a hipótese de uma participação da Alemanha no contexto da OTAN. "A constituição está acima das obrigações de aliado na Organização do Tratado do Atlântico Norte", argumentou a líder do partido. Ela foi porta-voz dos verdes para questões de defesa, até poucos dias atrás.

Os parceiros de coalizão verde e social-democratas concordam, todavia, que soldados alemães não devem participar diretamente da guerra, como por exemplo, a bordo dos aviões de reconhecimento do tipo AWACS. Oficialmente, Washington não solicitou esses aviões à Alemanha, segundo a secretária de Estado do Ministério das Relações Exteriores, a deputada verde Kerstin Müller.

Peritos da ONU e da Agência Internacional de Energia Atômica começaram a examinar o relatório do Iraque sobre o seu arsenal. Os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança Internacional (EUA, Rússia, China, França e Grã-Bretanha) também receberam uma cópia do documento de quase 12 mil páginas .

Dilema e obrigações

O governo alemão está diante de um dilema. De um lado, está a palavra do chanceler federal, Gerhard Schröder, durante a campanha eleitoral, de que a Alemanha não participaria de uma guerra contra o Iraque, em circunstância alguma. De outro, as obrigações de aliado na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) são uma constante da política externa alemã, das quais o gabinete de Schröder não gostaria, nem poderia abrir mão.

Prova de fogo

Os alemães constituem quase um terço da tripulação dos aviões AWACS da OTAN. A ausência de alemães em eventuais vôos de reconhecimento numa operação da OTAN para apoiar os americanos criaria problemas consideráveis e submeteria as relações teuto-americanos a uma nova prova de fogo. A palavra de Schröder na campanha eleitoral já gerou a pior crise do pós-guerra entre Alemanha e EUA.

Schröder, por outro lado, já começou mal o seu segundo governo, por ter gastado, por antecipação, quase todo o seu crédito junto ao eleitorado. Mudar de posição agora seria quebrar seu juramento e colocar as bases dos verdes contra a coalizão de governo. Será muito difícil encontrar um meio termo.

O dilema confirma o que políticos com ampla experiência em questões externas previram durante a campanha eleitoral bem sucedida de Schröder: promessas eleitorais de manter a Alemanha distante de uma guerra no Iraque têm o seu preço e não só nas relações com os EUA. Agora, a Alemanha tem de encontrar um meio termo para não faltar com suas obrigações também na OTAN.

"Solidariedade irrestrita"

A tarefa mais provável dos AWACS seria a vigilância do espaço aéreo dos Estados Unidos durante uma guerra contra o Iraque. Alemães já cumpriram essa missão de proteger os flancos americanos depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, no contexto da missão da OTAN solicitada pela Casa Branca. AWACS foram substituir os aviões americanos de reconhecimento que haviam sido deslocados para a guerra no Afeganistão contra o regime talibã e a organização terrorista Al Qaeda de Osama Bin Laden.

Na ocasião, Schröder prometeu "solidariedade irrestrita" aos Estados Unidos. E cumpriu, na medida em que a participação alemã na coalizão antiterror "Liberdade Duradoura" só perde em contingente e equipamentos bélicos para os próprios americanos.