CDU desorientada
31 de janeiro de 2008Os resultados das eleições estaduais em Hessen no último domingo (27/01) abalaram de tal forma o partido da premiê Angela Merkel que 17 políticos de peso da União Democrata Cristã (CDU) pleitearam, em uma carta aberta publicada no jornal Die Zeit, um "novo consenso suprapartidário para a política de integração".
Segundo o comunicado, assinado inclusive por diversos prefeitos de grandes cidades, a integração de migrantes na sociedade é "tão fundamental para o futuro do país, que não pode ser degradada a tema de campanha eleitoral".
O texto foi escrito em resposta a outra carta aberta publicada no mesmo jornal por 21 alemães de origem turca, na qual criticavam a estratégia eleitoral do atual governador Roland Koch e exigiam mais objetividade no debate político sobre a criminalidade juvenil.
O secretário de Integração da Renânia do Norte-Vestfália, Armin Laschet, cujo nome consta entre os assinantes, reconhece que foram cometidos erros na política de integração e adverte que o país mudou e a CDU deveria reconhecer que "a Alemanha é de fato um país de imigração". Afinal, "violência não é um problema étnico, e sim educacional".
Críticas suavizadas
O prefeito de Hamburgo, Ole von Beust, reforça que a CDU possui uma tradição pioneira na Alemanha, mencionando a Cúpula da Integração organizada pela chanceler federal Merkel e a Conferência Islâmica organizada pelo ministro do Interior, Wolfgang Schäuble.
No entanto, defende que nenhuma de suas críticas foi direcionada pessoalmente a Roland Koch. "Cada um faz sua campanha como quiser", disse. Pesquisas recentes indicam que, nas próximas eleições regionais em Hamburgo (24/02), onde a CDU hoje governa sozinha, uma coalizão entre verdes e social-democratas poderia assumir o poder.
Enquanto isso, a situação política de Roland Koch continua incerta. Segundo uma pesquisa realizada pelo instituto Forsa para a rede de televisão n-tv, cerca de 60% dos habitantes do estado defendem que Koch deveriam abdicar do cargo após o resultado as eleições estaduais. Em todo o país, 50% defende sua saída.
Tema certo, pessoa errada
Também um estudo publicado pela Fundação Konrad Adenauer, vinculada ao partido, concluiu que a brusca perda de popularidade de Roland Koch foi provocada em grande parte pelo polêmico debate sobre a criminalidade entre jovens de origem estrangeira.
Embora não seja a primeira vez que Koch lance mão de uma postura populista com relação a temas ligados à população migrante, desta vez a estratégia lhe causou uma queda de 12 pontos percentuais na aprovação dos eleitores.
A polemização da campanha seria como um tiro que saiu pela culatra, pois, ao mesmo tempo em que levou eleitores a ignorar os sucessos de seu governo, como o baixo nível de desemprego e os altos índices de desenvolvimento econômico, também teria provocado duas conseqüências fatais: de fato, grande parte dos eleitores passou a ver a criminalidade juvenil e a integração de estrangeiros como temas importantes, mas muito poucos teriam visto em Koch a pessoa indicada para solucionar tais problemas.
Enquanto a campanha da CDU teria provocado uma séria "perda de credibilidade" entre seus eleitores, o Partido Social Democrata (SPD), que apostou em temas como justiça social e salário mínimo, reforçou a "seriedade" de sua imagem para 74% de seus eleitores.
Para o governador de Baden-Württemberg, Günther Oettinger (CDU), o partido deveria reforçar seus interesses na política econômica e desenvolver uma resposta à campanha por salários mínimos do SPD.
Markus Söder, ex-secretário-geral do partido e atual representante da Baviera na União Européia, alerta inclusive que, "caso as eleições legislativas federais de 2009 aconteçam sob o signo da justiça social, será muito difícil para a CDU obter maioria no Parlamento".