Checkpoint Berlim: Cerca antiprostituição
11 de setembro de 2017Em geral, os alemães são bastante liberais em relação à prostituição, que é legalizada no país. Mas a aceitação tem limites. Após um deles ser ultrapassado numa escola em Berlim, a instituição resolveu construir uma cerca para restabelecer a fronteira ignorada.
Há tempos, pais, alunos e professores da escola Französische Gymnasium reclamam da invasão noturna do pátio do colégio por prostitutas que fazem ponto na Kurfürstenstraße – rua perpendicular à da instituição –, e seus clientes. No cair da noite, o espaço se transforma numa espécie de motel a céu aberto.
O anúncio da construção da cerca de 1,8 metro de altura e 125 metros de extensão soou como um alívio para pais e alunos. Afinal, as visitas noturnas costumam deixar rastros: camisinhas e seringas usadas são frequentemente encontradas no dia seguinte por alunos e funcionários. Além disso, há relatos sobre prostitutas que caminham no terreno da escola durante o dia.
De acordo com a imprensa local, a cerca pode custar até 57 mil euros à prefeitura. E os pais terão que esperar mais alguns meses pela proteção: a barreira em torno da escola Französische Gymnasium deve ficar pronta somente no fim do ano.
Essa não é a primeira vez que uma cerca antiprostituição é construída na região da Kurfürstenstraße. Pelo mesmo motivo, uma praça com um parquinho infantil, localizada a duas quadras da rua, foi cercada no ano passado. Agora, o local é fechado durante a noite.
A Kurfürstenstraße é um dos pontos de prostituição mais conhecidos de Berlim. Estima-se que entre 200 e 400 mulheres – dependendo da época do ano, dia e noite – esperem pacientemente por clientes ao longo do 1,6 quilômetro da via que liga a movimentada Potsdamer Straße à estação de trem Zoologischer Garten.
A rua ficou conhecida mundialmente após a revelação da história de Christiane F., em 1978, no livro Christiane F. - Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, título traduzido no Brasil como Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída. Na década de 1970, a adolescente se prostituía na Kurfürstenstraße para alimentar seu vício em heroína.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.