Chefe de governo espanhol descarta diálogo com Catalunha
8 de outubro de 2017O presidente do governo da Espanha, Mariano Rajoy, afirmou taxativamente que impedirá que uma eventual declaração de independência da Catalunha produza quaisquer efeitos e se disse contrário à negociação para resolver o desafio independentista catalão, ressaltando que "a unidade da Espanha não se negocia" e "sob chantagem não é possível construir nada".
"Enquanto não voltar à legalidade, claro que não vou negociar", afirmou Rajoy em entrevista publicada neste domingo (08/10) pelo jornal El País, na qual o chefe de governo disse que "a Espanha vai continuar sendo a Espanha e vai continuar durante muito tempo".
Na sua primeira entrevista a um diário espanhol desde o início da crise entre Madri e Barcelona, Rajoy assegurou que, para seu governo "a única coisa que existe é a ideia de que não se pode dialogar sobre a unidade da Espanha, nem intermediar nem ser objeto de mediação, nem negociar com a ameaça de romper a unidade do Estado".
Ao longo da entrevista, ele reiterou que a Espanha "não vai se dividir" e que o governo usará "todos os instrumentos que a legislação dá" para conseguir isso.
"O governo vai tomar as decisões que tiver que tomar no momento preciso", assegurou Rajoy, acrescentando que "quem tiver que tomar a decisão deve fazê-lo com prudência e estando consciente das consequências da decisão que tomar".
Rajoy condicionou essa tomada de decisões ao fim das "ameaças independentistas" que, diz, tornam "muito difícil" que o governo adote qualquer medida para acabar com a crise catalã.
Artigo 155
Entre as possíveis soluções, Rajoy não descarta a aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite ao governo central tomar o controle de uma região "caso o governo regional não cumpra as obrigações da Constituição”. Para ele "o ideal" não é adotar medidas "drásticas", a não ser que na Catalunha aconteçam "retificações".
O presidente opinou que é "imprescindível" que o governo conte com o "maior apoio possível" dos grupos políticos neste momento e que nisso concordam PP, PSOE e Ciudadanos.
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Um teste para a democracia espanhola
Rajoy defendeu a atuação policial no dia 1° de outubro e sobre a atitude da polícia regional, os Mossos d'Esquadra, naquele dia, declarou que os juízes serão os encarregados de decidir se a atuação da polícia catalã "foi correta ou não".
Rajoy respondeu com um rotundo "não" ao ser perguntado se pensa em antecipar as eleições gerais na Espanha e assegurou que lhe parece "um disparate essa possibilidade, porque seria ruim" para o país e uma mensagem "péssima para os parceiros europeus".
Sobre a Europa, o presidente considerou que a UE "tem que ganhar esta batalha" que representa o movimento independentista catalão, pois os valores europeus estão "em jogo", ainda que tenha se mostrado convencido de que os governos da união estão lado a lado na defesa da Constituição e no cumprimento da lei.
Novo protesto em Barcelona
Um dia após dezenas de milhares de pessoas terem ido às ruas de Madri, Barcelona e de outras cidades espanholas para pedir "diálogo" e "unidade", uma grande manifestação em Barcelona este domingo reuniu opositores da independência da Catalunha da Espanha. O Prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa fez discurso no fechamento do comício. Antes do ato, o escritor peruano, de cidadania espanhola, já havia condenado como "doença" o desejo de independência catalã e alertou para "uma nova Bósnia".
A polícia municipal calculou em 350 mil o número de manifestantes que desfilaram em Barcelona contra a independência da Catalunha e pela unidade de Espanha. A organização do ato falou em um milhão de manifestantes.
Milhares de pessoas saíram da praça Urquinaona em direção à estação de metrô de França, erguendo bandeiras espanholas e catalãs sob a palavra de ordem "Basta! Recuperemos a sensatez".
Entre a profusão de bandeiras espanholas, catalãs e europeias, a marcha começou a avançar lentamente a partir das 12h (horário local), entre gritos de "Puigdemont para a prisão", numa referência ao líder do governo autônomo catalão, ou "viva Espanha, viva Catalunha".
As tensões entre Madri e Barcelona mergulharam a Espanha na sua mais grave crise política desde o regresso à democracia, em 1977.
A crise divide a Catalunha, onde vivem 16% dos espanhóis e onde, segundo as sondagens, metade da população não defende a independência.
A Justiça espanhola considerou ilegal o referendo para a independência convocado para 1° de outubro pelo governo regional catalão e deu ordem para que os Mossos d'Esquadra selassem os locais de votação.
Perante a inação da polícia catalã em alguns locais, foram chamadas forças de segurança de âmbito nacional, que protagonizaram os maiores momentos de tensão para tentar impedir o referendo, realizando batidas policiais contra eleitores e forçando a entrada em vários locais de votação ocupados de véspera por pais, alunos e residentes, para garantir que permaneceriam abertos.
A violência policial fez 893 feridos mas, apesar da repressão, 43,03% dos 5,3 milhões de eleitores conseguiram votar, e 90,18% deles votaram a favor da independência, segundo o governo regional da Catalunha.
MD/efe/lusa/dpa/afp/rtr