CIA: freqüentadora assídua do espaço aéreo alemão
3 de dezembro de 2005Segundo informações publicadas pelo semanário Der Spiegel, mais de 400 vôos secretos da CIA usaram o espaço aéreo ou aeroportos alemães nos últimos anos. De acordo com a revista, uma estatística destes vôos clandestinos foi concluída pelo departamento de segurança aérea do país, em resposta a um questionamento da bancada do Partido de Esquerda no Parlamento.
Governo alemão ciente de tudo?
Não se pode ainda provar que o governo alemão esteve ciente do uso do espaço aéreo do país pela CIA para transportar suspeitos terroristas. Um relatório sobre o alemão de origem libanesa Kahled al-Masri, porém, seria de conhecimento do ministério das Relações Exteriores desde junho de 2004, informa o Der Spiegel.
Al-Masri teria sido seqüestrado e torturado a bordo de um avião da CIA, antes de ser levado para o Afeganistão, onde ficou detido por um ano. Segundo a revista alemã, autoridades norte-americanas teriam confirmado informalmente o seqüestro no início de 2005.
Co-responsável em caso de tortura
Caso isso venha a ser provado, a Alemanha poderá ser acusada de co-responsável em caso de tortura e desrespeito aos direitos humanos. A diretora da Anistia Internacional no país, Barbara Lochbihler, declarou ao diário Frankfurter Rundschau que "os responsáveis na Alemanha estavam certamente informados" a respeito dos vôos.
Segundo Lochbihler, a chanceler federal Angela Merkel terá que pedir explicações detalhadas à secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice, que visita o país no início da próxima semana.
Prova de força para ministro do Exterior
A visita de Rice à Alemanha deverá, sem dúvida, acontecer à sombra dos escândalos envolvendo os vôos da CIA. A presidente do Partido Verde, Renate Künast, afirmou em entrevista ao diário Neue Ruhr/Rhein Zeitung que a questão deverá ser "uma prova de força" para o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier.
Künast observa que o ministro não deveria cultivar as relações diplomáticas com os EUA "às custas dos interesses europeus". Para a líder verde, a questão mais importante é saber com que fins o governo norte-americano usou o espaço aéreo alemão e principalmente se foram cometidas torturas de prisioneiros em território nacional.
"Total compreensão"
É pouco provável, porém, que o problema seja esclarecido durante a visita de Rice à Alemanha na próxima semana. Berlim já anunciou total compreensão, caso a secretária de Estado norte-americana não queira dar maiores explicações sobre o caso durante seu encontro com Merkel na próxima terça-feira (6/12).
O mais provável é que Rice, ao invés de dar explicações, queira forçar os governos europeus a não tocar mais no assunto. Lembrando inclusive a alguns deles o apoio dado à guerra do Iraque. Além da Alemanha, Rice visita ainda a Romênia, Ucrânia e Bruxelas. Uma rota, diga-se de passagem, no mínimo sui generis.