Clima hostil na Venezuela antes das eleições
1 de dezembro de 2015"O assassinato é um mau presságio para o 6 de dezembro", comenta o jornalista venezuelano Juan Francisco Alonso, do diário El Universal. Nessa data, a Venezuela elegerá sua nova Assembleia Nacional, e às vésperas do pleito se acirra o conflito entre governo e oposição.
Na noite da última quarta-feira (25/11), o político opositor Luis Manuel Díaz, da aliança Mesa da Unidade Democrática (MUD), foi morto por um tiro durante um comício eleitoral na pequena cidade de Altagracia de Orituco, a sudeste de Caracas.
Na tribuna, ao lado dele, encontrava-se também Lilian Tintori, esposa do líder político preso Leopoldo López. No Twitter, ela falou até de duas tentativas de atentado contra si, no mesmo dia. De fato, ao decolar, o avião de sua equipe eleitoral pegou fogo, devido a um defeito. Todos os ocupantes sobreviveram.
Clima hostil
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, atribui o assassinato de Díaz a um conflito entre grupos criminosos. Porém, Tintori e outros membros da oposição apontam o governo socialista como responsável.
"No fundo, tanto faz se a coisa aconteceu por encomenda do governo ou se foi uma ação autônoma", observa o professor Fernando Mires, da Universidade de Oldenburg. "A origem é esse clima hostil que há anos reina na Venezuela."
A cientista política alemã Ana Soliz de Stange, por sua vez, está segura que o presidente anterior, Hugo Chávez, "passou anos preparando seus adeptos a defender a revolução interna e externamente".
Os socialistas governam desde 1998 a Venezuela. Ao assumir a presidência, Chávez, morto em 2013, proclamou a "revolução bolivariana" e investiu em programas sociais grande parte dos lucros bilionários do petróleo nacional.
Estabilidade de Maduro em jogo
Hoje em dia o país está mais dividido do que nunca. Há anos a oposição sofre chicanas do governo, as perspectivas econômicas são sombrias. Apesar de suas gigantescas reservas petroleiras, a Venezuela sofre com a hiperinflação e a má gestão de recursos. No pleito de 6 de dezembro de 2015, pela primeira vez as chances de reeleição não são tão boas para o partido de Maduro, o sucessor de Chávez.
Segundo o instituto de pesquisa de opinião Datanálisis, mais de 63% do eleitorado prefere um candidato da MUD. O apoio também vem decaindo nos bairros pobres, tradicional reduto eleitoral dos socialistas.
"Esta eleição não é uma questão de tudo ou nada", comenta Stefan Peters, cientista político da Universidade de Kassel atualmente realizando pesquisas na Venezuela. "Em caso de uma derrota, sem dúvida Maduro seria abalado, mas ele permanece presidente."
Na Venezuela, o presidente dispõe de amplos poderes, sendo logo eleito para seis anos. Se nada de extraordinário ocorrer, portanto, Maduro permanece no cargo até 2019. Entretanto o jornalista Juan Francisco Alonso ressalva que há alguns pontos importantes em jogo para o político socialista.
"Se a oposição vencer, vai-se discutir dentro do partido se ele ainda é a pessoa certa para o cargo." Além disso, aconteceria algo que há 16 anos não se vê na Venezuela: "A Assembleia controlaria o presidente."
A legenda de Maduro leva, sem dúvida, o pleito a sério, como demonstra seu slogan eleitoral: "En la Asamblea como sea" – na Assembleia, seja como for. "O Partido Socialista tem um potencial mobilizador incrível", diz Peters. "E é também muito orgulhoso de sua capacidade de ainda convocar rapidamente as grandes massas às ruas."
Possível troca de poder
No entanto, os socialistas são também acusados de conexões estreitas com grupos criminosos – como os que, segundo a oposição, mataram o oposicionista Luis Manuel Díaz. Antes mesmo da "revolução" de Hugo Chávez, as taxas de criminalidade do país já eram muito elevadas, mas nos últimos anos têm crescido continuamente, ainda mais.
Entre os bandos criminosos destacam-se os assim chamados "Colectivos", grupos armados autárquicos que se entendem como seguidores de Chávez. "Alguns desses Colectivos têm sua sede a 500 metros do palácio presidencial", assegura o jornalista Alonso.
Por sua vez, a oposição também já provou que não é de melindres: em 2002 vários oposicionistas tentaram um golpe de Estado contra o então presidente Chávez. Apesar de tudo, Stefan Peters vê a chance de uma transferência de poder relativamente pacífica, no caso de uma vitória oposicionista.
"Vão voar algumas pedras, mas não vejo que seja o caso de uma guerra civil, por causa disso", afirma. Decisivo para o cientista político é que um eventual novo governo não abandone inteiramente as conquistas dos chavistas. "Se a oposição não souber encarar as desigualdades sociais, ela não vai conseguir se manter por muito tempo."
Juan Francisco Alonso discorda: para ele os socialistas ainda não estão preparados para uma transformação: "O governo parte do princípio que sua ideologia e seu modelo são a única alternativa certa para o país." Quem tem pretensões tão absolutas, conclui o jornalista, terá grande dificuldade de entregar o poder pacificamente.