Como brasileiros lidam com o desemprego?
17 de março de 2016Esperar aquela ligação que nunca vem. Deixar currículos pela cidade, ir a dezenas de entrevistas, voltar sem nada. A frustração é comum a milhares de brasileiros em busca de trabalho em meio à crise econômica. Segundo pesquisa do IBGE divulgada nesta terça-feira (15/03), a taxa de desemprego chegou a 9% no último trimestre de 2015.
"Já levei meu currículo a vários lugares, mas nunca me ligam. A crise está horrível, afetou geral", conta Jonathan Oliveira, de 18 anos. Antes de ser demitido, em janeiro, ele dividia o tempo entre a escola e o trabalho como jovem aprendiz, na função de auxiliar administrativo.
Ficou no emprego durante 11 meses, com um salário de 900 reais. Como não completou um ano no trabalho, Jonathan não tem direito ao seguro-desemprego – as regras de acesso ao benefício mudaram no ano passado.
"O seguro vai fazer muita falta", lamenta ele, que mora com a avó e os irmãos no bairro da Armênia, na zona Norte de São Paulo. "Ela trabalha como metalúrgica, mas o dinheiro não dá para a família toda", explica.
Para quem procura o primeiro emprego, em geral jovens como Jonathan, a situação é ainda mais difícil. De acordo com a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, a taxa de desemprego entre pessoas de 18 a 24 anos foi de 19,4% no último trimestre de 2015, mais que o dobro da percentagem de desocupados na população em geral.
"Ela não tem experiência, então, fica pior para achar uma oportunidade", diz José do Nascimento, de 40 anos, que acompanhou a filha ao Centro de Apoio ao Trabalhador (CAT), da Prefeitura de São Paulo, no centro da cidade.
Com a crise, as vendas no comércio de José caíram 40% nos últimos meses, e a filha, Daiane, decidiu procurar o primeiro emprego. "Não passei no vestibular de Farmácia. Vou prestar de novo no ano que vem, mas, até lá, queria ser atendente de uma farmácia", conta a jovem de 18 anos.
O caso de Daiane é cada vez mais comum. De acordo com o IBGE, entre o último trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, dois milhões de brasileiros ingressaram na força de trabalho, o que significa que estão em idade ativa e dispostos a trabalhar.
Com a crise, segundo o instituto, pessoas que não costumavam buscar emprego, como muitos estudantes, decidiram entrar no mercado de trabalho para complementar a renda domiciliar, seja porque um dos parentes foi demitido, seja porque houve alguma perda nos ganhos da família.
Negócio próprio
Depois de oito meses procurando uma vaga e dezenas de entrevistas, Clovis Pirinelli, de 31 anos, decidiu investir seu tempo num negócio próprio. O engenheiro de computação, com MBA no currículo, ganhava cerca de oito mil reais num banco quando foi demitido, em abril de 2015.
"Fui em média a três entrevistas por mês. Ou a vaga era fechada no meio do processo, ou me ofereciam menos da metade do meu salário anterior. Acabei desistindo, porque sempre tive o sonho de ter um negócio meu", conta.
Na época, o engenheiro havia se mudado para a casa dos pais, por questões pessoais. Quando veio a demissão, decidiu ficar com eles, para economizar com o aluguel. E a ideia para o negócio veio do próprio ambiente familiar.
"Há tempos queria abrir uma franquia no ramo de alimentos, mas não tinha escolhido nenhuma ainda. A minha mãe tinha uma empresa de bem-casados, que estava desativada, e decidi entrar no negócio com ela. Estou investindo em divulgação e em um novo site", afirma.
Mesmo com uma renda inferior ao que ganhava como engenheiro, Clovis acredita que a escolha foi acertada. "Estamos com uma boa demanda. No futuro, acho que vou ganhar melhor e vou construir algo próprio."
A opção de Clovis é comum entre brasileiros desempregados, que, muitas vezes, aproveitam o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para investir num projeto pessoal. Segundo uma pesquisa do Sebrae, o empreendedorismo por necessidade saltou de 29%, em 2014, para 44%, em 2015, devido à crise econômica.
Bicos e frilas
Outra opção para quem não encontra uma vaga fixa é se manter com bicos e trabalhos como freelancer, conhecidos como frilas. Enquanto não consegue emprego, a médica Barbara Mascarenhas, de 30 anos, faz plantões esporádicos.
"O dinheiro tem dado para me virar", conta ela, que veio do Pará e mora com a irmã, na Liberdade. Ainda assim, Barbara diz que as remunerações pelos bicos estão cada vez mais baixas. "Tenho recebido muito calote também", reclama.
O eletricista Ivan da Silva, de 33 anos, também tenta segurar as pontas com bicos. Ele trabalhava com manutenção predial, mas foi demitido há cinco meses.
"Não consegui nenhuma vaga ainda. A todo CAT que vou tem fila. No que tem perto da minha casa, as senhas de atendimento acabam às 9h. E o dinheiro do meu seguro-desemprego já quase terminou", lamenta.
Ivan mora em Pirituba com a esposa e o filho, de apenas dez meses de idade. "Minha irmã trabalha numa churrascaria e está me ajudando, mas fica apertado para ela e para nós", conta. "O dinheiro só dá para sobreviver."