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Condenação de informante do Wikileaks divide Estados Unidos

Gero Schließ (md)31 de julho de 2013

Após julgado culpado em quase todas as acusações, soldado Bradley Manning pode pegar mais de 130 anos de prisão. Veredicto gera controvérsia. Para alguns, ele é um exemplo de coragem. Para outros, um traidor da pátria.

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Foto: Reuters

Após um processo complexo, o veredicto anunciado na terça-feira (30/07) pela juíza Denise Lind pouco surpreendeu. O soldado Bradley Manning foi considerado culpado em 19 das 21 acusações a que respondia, por passar informações sigilosas do Exército dos Estados Unidos ao Wikileaks. Entretanto, livrou-se da pior das acusações: a de "ajudar o inimigo", que poderia levá-lo à prisão perpétua.

O soldado, de 25 anos, foi responsável pelo maior vazamento de arquivos secretos da História dos EUA. Entre 2009 e 2010, ele entregou mais de 700 mil documentos ao Wikileaks, expondo segredos diplomáticos e detalhes das campanhas americanas no Iraque e no Afeganistão. Sua atitude abriu um debate, renovado após o veredicto, sobre os limites entre liberdade de expressão e traição à pátria.

"Não havia dúvida de que Manning passou adiante documentos secretos", diz Larry Korb, assessor de segurança durante o governo Ronald Reagan. Ele questiona as alegações da promotoria de que as publicações teriam minado os esforços dos EUA na guerra contra o terror. "Dizer que a al-Qaeda não sabia que estávamos no seu encalço é ridículo. É claro que eles sabiam."

Já Mark Jacobsen, do German Marshall Fund, considera a acusação de "apoio ao inimigo" justificada. "Eu acharia bom se Manning tivesse sido condenado pelo crime mais grave, o de apoio ao inimigo. O tribunal deve ter discutido intensamente esse ponto e chegado a uma conclusão diferente."

Symbolbild Snowden und Manning
Ativistas com máscaras de Snowden e Manning: condenação destinada a dar exemploFoto: Reuters

No entanto, Jacobsen vê o veredicto como positivo. "A mensagem mais importante é a de que Manning foi considerado culpado em quase todas as outras acusações. Essa é uma mensagem clara para todos os que divulgam informações estritamente secretas, colocando em risco os Estados Unidos, seus aliados e aqueles que trabalham para eles."

Wikileaks vê "extremismo"

No processo, iniciado em junho, Manning havia se declarado culpado em dez de 21 acusações, incluindo espionagem e fraude de computadores. Ele refutou a acusação de apoiar o inimigo.

Para o jornalista James Bamford, que ficou famoso por seus livros sobre a recentemente criticada Agência Nacional de Segurança (NSA), o que Manning fez não justifica a acusação de "apoio ao inimigo". Embora o soldado tenha divulgado uma grande quantidade de documentos, eles não eram, na opinião de Bamford, relevantes do ponto de vista da segurança. Segundo o especialista, a maioria dos documentos nem poderia ser classificada como secreta pelo governo.

"O documento mais importante que vi, mostra como o governo Barack Obama, assim como o próprio Obama, mentiram para os americanos", afirma Bamford. "Os americanos usaram bombas de fragmentação em suas operações no Iêmen. Essas bombas são banidas em 109 países, devido a seu impacto devastador sobre civis. E quando veio à tona que elas mataram muitas mulheres e crianças em uma aldeia, Obama negou que os americanos tivessem algo a ver com o ocorrido."

O Wikileaks condenou o veredicto do tribunal militar como um "perigoso extremismo de segurança nacional do governo". Muitos especialistas concordam que a sentença de Manning também teve como meta dar um exemplo para aqueles que pensam em futuramente usar a plataforma de Julian Assange para publicação de documentos secretos.

"Este governo processou mais pessoas por espionagem do que todos os governos anteriores juntos", constata Korb. "Eu acho que, certamente, eles queriam dar um exemplo a partir de Manning, para impedir que outros façam o mesmo. Por isso, eles também não aceitaram o fato de ele ter se reconhecido culpado de infrações menos graves. Na minha opinião, isso teria sido suficiente para dissuadir outras pessoas."

Bradley Manning Prozess Demonstration Fort Meade
Manifestação de apoio a Manning: caso divide americanosFoto: DW/C. Bergmann

Alerta para Snowden

Para o Ministério Público americano, assim como para setores da política, da mídia e do público, Manning continua sendo um traidor. Para seus simpatizantes, no entanto, ele é um corajoso lutador em busca da verdade. Bamford também ressalta que Manning não entregou um documento sequer em troca de dinheiro. Para ele, o soldado é um informante.

É possível imaginar que esse julgamento tenha sido acompanhado com especial atenção por duas pessoas na distante Moscou: Vladimir Putin e Edward Snowden. Para Jacobsen, o veredicto deixa uma mensagem clara para Snowden e potenciais imitadores.

"Vejam, os Estados Unidos podem realizar um processo livre e independente. E se alguém se colocar diante do tribunal, verá que pode ser absolvido de certas acusações, mas condenado por outras. O que eu diria a Edward Snowden é: volte aos Estados Unidos, lute em um sistema judicial livre e justo e deixe o tribunal decidir", opina.

Segundo relatos, Manning teria ouvido o veredicto sem demonstrar exaltação. Segundo a agência de notícias Associated Press, o advogado do soldado disse: "Ganhamos uma batalha, mas não a guerra". A pena para Manning pode chegar a mais de 130 anos de prisão.