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Decisão dos EUA de armar rebeldes ameaça abrir nova fase na guerra síria

Michael Knigge (ca)14 de junho de 2013

Governo Obama cede à pressão interna e externa e eleva participação no conflito. Justificativa oficial é uso de armas químicas por Assad, mas, para especialistas, esconde preocupação com debilidade da oposição síria.

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Foto: Reuters

Quando o governo Barack Obama anunciou, na quinta-feira (13/06), que passará a fornecer apoio militar direto à oposição síria, o vice-assessor de segurança nacional do presidente, Ben Rhodes, usou como justificativa o emprego de armas químicas por parte do regime de Bashar al-Assad.

No ano passado, o uso de armas químicas foi classificado por Obama como a linha vermelha, cuja ultrapassagem poderia ter consequências para o conflito sírio, já em seu terceiro ano. A acusação tornada pública na quinta-feira, no entanto, não é inteiramente nova.

Já no final do ano passado, circulavam os primeiros relatos sobre o emprego de armas químicas na Síria. Em abril, primeiramente França e Reino Unido e, depois, Israel afirmaram que possuíam provas de que o regime de Assad teria usado tal armamento.

Pouco tempo depois, o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, afirmou que era presumível que o regime sírio teria empregado armas químicas contra a própria população. No começo de junho, França e Reino Unido reiteraram suas avaliações e compartilharam suas provas também com Washington.

"Há alguns meses, ele [Obama] descreveu o uso de armas químicas como uma linha vermelha, e agora ele está sob pressão para empreender algo", diz Heinz Gärtner, especialista em Estados Unidos no Instituto Internacional de Política em Viena.

Gärtner lembra que, particularmente pelo lado da política interna, a pressão por parte de conhecidos republicanos como John McCain aumentou nos últimos tempos – ainda que os apelos vão além do anunciado apoio militar e defendam uma zona de exclusão aérea.

Enfraquecimento da oposição

No entanto, para Nathalie Tocci, vice-diretora do Instituto de Relações Internacionais (IAI) em Roma, a pressão nacional e internacional sobre Obama para que ações se sigam às suas palavras não é determinante para a decisão de intervir ativamente no conflito.

"Eu não acredito que este seja o verdadeiro motivo para as ações do governo Obama", diz Tocci, que lembra que o armas químicas já era conhecido há algum tempo. "Em minha opinião, a razão é que as tropas de Assad avançaram claramente para uma posição de liderança, com o apoio considerável do Hisbolá."

Desde a batalha perdida pela cidade de Qusair, no começo de junho, a oposição síria é considerada militarmente enfraquecida. No fim de maio, o serviço alemão de inteligência (BND) havia revisto, de acordo com relatos da mídia, seus prognósticos sobre o conflito na Síria. Segundo os dados, as tropas de Assad avançariam e estariam tão fortes quanto há tempos não se via.

Obama teve agora que reagir, diz Tocci, a fim de evitar um novo enfraquecimento ou uma derrota dos opositores de Assad – possivelmente até mesmo antes da segunda rodada de negociações sobre o fim do conflito da Síria planejada para julho. Caso contrário, prossegue a especialista, o regime de Assad não teria razão para participar das conversas.

Nesta sexta-feira (14/06), o governo russo disse que os argumentos dos Estados Unidos sobre o emprego de armas químicas na Síria "não são convincentes" e advertiu que uma ampliação do apoio militar aos opositores poderia minar os esforços comuns para uma conferência de paz.

Agora, com o iminente apoio militar dos EUA, que deverá ser feito através da CIA (a agência de inteligência americana), uma nova fase do conflito se inicia.

Syrien Konflikt Aleppo Rebellen
Rebeldes em Aleppo: Rússia criticou aumento da ajuda americanaFoto: Reuters

"Pelo fato de a eficácia do fornecimento de armas não funcionar ao ser feito somente através de tropas aliadas tenta-se agora um próximo passo com o fornecimento direto", assinala Heinz Gärtner.

Mãos erradas

Para os especialistas, está claro, porém, que o planejado fornecimento de armas vai provocar agora uma escalada da guerra, mas não será decisivo.

"Isso não é um chamado divisor de águas", diz Tocci. "O objetivo é tentar restabelecer um equilíbrio de forças. Se eles querem virar o jogo, então eles implantariam uma zona de exclusão aérea."

Até agora, porém, Washington não quis ir tão longe. Mas também o fornecimento direto de armas seria arriscado, porque, de acordo com especialistas, nunca se sabe aonde as armas vão parar de fato. Armas que os EUA haviam fornecido, por exemplo, aos guerrilheiros mujahedin no Afeganistão, na década de 1980, foram posteriormente utilizadas também contra os próprios americanos.

Embora ainda não se conheça que tipo de armas que Washington pretende enviar para os adversários de Assad, o objetivo é reforçar significativamente o poderio militar da oposição. Por exemplo, em questão estão mísseis ar-superfície de montagem no ombro.

"Pode-se supor que partes desse fornecimento de armas vá parar em mãos de grupos que, embora lutem contra Assad, poderão usá-las mais tarde também contra o Ocidente", afirma Gärtner. "Caso mísseis ar-superfície sejam fornecidos, eles poderiam ser um dia, eventualmente, empregados também por terroristas contra a população civil. No geral, enviar armas somente para os bons é um conceito muito problemático."