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Diálogo musical entre Ocidente e Oriente

(sv)21 de setembro de 2006

Regente Daniel Barenboim recebe em Berlim prêmio "Vintém da Cultura" pelo seu trabalho à frente da West-Eastern Divan Orchestra.

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Daniel Barenboim à frente da orquestra que reúne músicos israelenses e palestinosFoto: AP

A homenagem concedida pelo Conselho da Cultura a Daniel Barenboim na capital alemã é apenas uma das diversas premiações que o pianista e regente obteve no decorrer das últimas décadas. Nascido em Buenos Aires, no ano de 1942, filho de judeus-russos e cidadão israelense, Barenboim não é apenas conhecido pela sua trajetória musical, mas também especialmente pelos seus esforços em prol da paz no Oriente Médio.

Edward Said
Edward Said: parceiro de Barenboim na busca de soluções para os paralelos e paradoxos do Oriente Médio

Um deles foi a fundação, em agosto de 1999, em Weimar (terra de Johann Wolfgang von Goethe) da West-Eastern Divan Orchestra, ao lado do falecido pensador palestino Edward Said. Filho de árabes cristãos, nascido em Jerusalém em 1937, Said foi criado no Cairo, manteve durante a infância uma estreita ligação com o Líbano e passou a viver nos EUA aos 16 anos, onde deu aulas de Literatura em Nova York, até morrer vítima de um câncer, em 2003.

A West-Eastern Divan Orchestra, formada por músicos israelenses, palestinos, egípcios, sírios, jordanianos e espanhóis, foi criada visando a formação de jovens entre 14 e 25 anos, estudantes ou profissionais de escolas de música de Tel Aviv, Jerusalém, Beirute, Damasco, Cairo e Amã. O projeto reunia jovens israelenses e árabes no verão, por algumas semanas, para a prática musical sob a regência de Barenboim. A idéia era promover a paz pela música e pela educação artística, com ênfase na cooperação entre músicos judeus e árabes.

Homenagem a Goethe

Goethe
Johann Wolfgang von Goethe: primeiro olhar para o OrienteFoto: DW

O nome West-Eastern Divan é uma alusão à coletânea homônima de poemas de Goethe (West-Östlicher Diwan), repleta de imagens orientais e inspirada na obra do poeta persa Hafiz. A etimologia da palavra divan (divã) – conhecida popularmente e eternizada por Freud como um sofá baixo, sem encosto – remete aos idiomas turco e persa, significando respectivamente "conselho de Estado" e coletânea de poemas orientais.

A opção pela homenagem ao escritor alemão se deu em função do fato de Goethe ter sido um dos primeiros alemães realmente interessado em outros países, que começou a aprender o árabe com mais de 60 anos. No volume Paralelos e Paradoxos (publicado no Brasil pela Companhia das Letras), Barenboim e Said refletem sobre música, literatura, política e, last but not least, sobre as relações entre israelenses e palestinos.

Passaportes diplomáticos espanhóis

03.05.2006 Kultur.21 Daniel Barenboim
Daniel BarenboimFoto: DW-TV

Em entrevista à Deutsche Welle em Colônia, onde a orquestra se apresentou recentemente, Barenboim lembrou que ele e Edward Said sempre estiveram conscientes de que o projeto não poderia ter qualquer ligação direta com os governos de Israel ou de algum país árabe.

A prova da complexidade do projeto está, por exemplo, no fato de que, há alguns anos, uma integrante da orquestra chegou a ser detida na Síria, país cujos cidadãos estão proibidos de manter qualquer relação com Israel. Para viajar com tranqüilidade durante as inúmeras turnês da orquestra, seus integrantes possuem passaportes diplomáticos espanhóis.

Tocando nos EUA há 18 anos, o trombonista Mahmoud Ayesh Abu-Eid diz que passou a integrar a orquestra "porque queria mostrar que muitos palestinos e árabes são pessoas pacíficas. Alguns de meus melhores amigos são israelenses e para mim é uma honra trabalhar com Barenboim", diz Abu-Eid.

Educação através da música

Kunstfest in Weimar Daniel Barenboim
West-Eastern Divan Orchestra, em agosto últimoFoto: AP

Hoje, a orquestra é financiada, entre outros, pelo governo regional da Andaluzia e conta, por isso, com músicos espanhóis ao lado dos israelenses e palestinos. Por trás da Orquestra está a Fudação Barenboim-Said, criada em 2004 com o apoio do governo da Andaluzia, que ao lado de outras organizações locais e de doações particulares destina anualmente três milhões de euros para o projeto.

A diretora da fundação, Muriel Páez, explica que ao lado da orquestra propriamente dita há uma Academia de Estudos para Orquestra em Sevilha, que conta com 130 alunos e 14 solistas da Staatskapelle de Berlim.

"Além disso, a fundação desenvolve ainda um projeto de educação musical na Palestina, voltado, por um lado, para a educação musical de crianças de várias idades, com a colabaoração de professores escolhidos por Barenboim e enviados da Europa e dos EUA ao Conservatório de Ramallah. Por outro lado, há um jardim-de-infância musical conduzido por regentes locais, voltado para o ensino a crianças de três a cinco anos de idade", conta Páez.