Em debate, presidenciáveis trocam acusações sobre Petrobras e nepotismo
15 de outubro de 2014A corrupção foi, mais uma vez, um dos temas centrais do debate entre candidatos à Presidência, transmitido pela TV Bandeirantes nesta terça-feira (14/10), a 12 dias do segundo turno. Aécio Neves (PSDB) usou a Petrobras para atacar Dilma Rousseff (PT), enquanto a presidente acusou as administrações tucanas de não punirem envolvidos em corrupção.
"Eu vi apenas um momento de indignação da candidata, quando houve o vazamento. Não vi a mesma indignação sobre o conteúdo dos vazamentos", disse Aécio, referindo-se aos escândalos envolvendo a Petrobras.
O candidato perguntou quais teriam sido os "bons serviços prestados" por Paulo Roberto Costa – elogios que estariam na ata de reunião do conselho da Petrobras, em que foi decidida a saída do ex-diretor da estatal.
Dilma respondeu que a sua indignação era a "mesma de todos os brasileiros". "Considero fundamental que saibamos tudo sobre essa operação Lava Jato", disse, referindo-se à operação da Polícia Federal que investiga o pagamento de propinas a partir de negócios firmados pela Petrobras.
A presidente defendeu a punição de corruptos e destacou leis contra a corrupção aprovadas em sua administração. "Duas leis aprovadas no meu governo dão base para esse processo de investigação da Petrobras. A lei que dá independência ao delegado e a que regulamentou a delação premiada", afirmou.
Em seguida, Dilma mencionou uma série de escândalos de corrupção ligados ao PSDB e disse que o PT havia mudado "essa lógica de fingir que investiga, mas não pune".
"Além disso, eu me pergunto, onde estão todos os envolvidos no caso Sivam? Todos soltos. E na compra de votos da reeleição? Todos soltos. Pasta Rosa? Todos soltos. Mensalão tucano-mineiro? Todos soltos. Envolvidos nas compras de metrôs e trens em São Paulo? Soltos. Não quero isso, candidato. Quero os culpados presos. É essa indignação que o senhor não enxerga", respondeu.
Na réplica, Aécio afirmou que a petista "compara coisas diferentes" e insistiu na gravidade do caso Petrobras. "Ao contrário do que a senhora diz, ele [Paulo Roberto Costa] não foi demitido. Ele renunciou."
Dilma disse que, na época, o conselho da estatal não tinha conhecimento da conduta do ex-diretor. "O conselho da Petrobras, do qual eu não participava, não sabia dos fatos. Os fatos estão saindo graças à investigação realizada no meu governo."
Aeroporto e nepotismo
A petista também questionou o adversário sobre o aeroporto construído em Cláudio, Minas Gerais, na fazenda de um tio de Aécio. "Não acho isso nada moral, nem ético", provocou.
Aécio acusou Dilma de ser "leviana" e disse que o Ministério Público havia atestado a regularidade da obra. A presidente lembrou que o caso estava sendo investigado como improbidade administrativa, isto é, mau uso dos recursos públicos.
"Hoje, no Brasil, é proibido o nepotismo, o emprego de familiares no governo. O senhor tem uma irmã, um tio, três primos e três primas no governo. Pode olhar no governo federal que não vai achar um parente meu", prosseguiu Dilma.
Em resposta, Aécio criticou a campanha da petista e a acusou de promover mentiras. "A senhora tem a obrigação de dizer onde a minha irmã trabalha. A sua propaganda é só mentira, não pode ser esse vale tudo. Eleve o nível desse debate. Eu não respondo a nenhum processo, ao contrário do seu governo, que virou um mar de lama", retrucou.
O tucano disse que, durante a campanha, eleitores lhe pediram para "libertar o povo do governo do PT".
Mentiras e Bolsa Família
Em diversos momentos do debate, os candidatos se acusaram de mentir e se colocaram como os detentores da verdade.
Uma das discussões mais acirradas foi sobre a paternidade do Bolsa Família. Aécio defendeu que o programa foi uma evolução de projetos do PSDB. "Se pegarmos o DNA do Bolsa Família, o pai será o presidente FHC e a mãe será Ruth Cardoso", disse.
Dilma afirmou que o PSDB nunca havia investido recursos em grandes programas sociais. "O povo brasileiro jamais vai acreditar nessa história. O senhor me desculpe, aí passou de todos os limites, chegamos à fabulação, nós estamos no perigoso terreno da lenda", retrucou.
Aécio voltou a criticar a campanha de Dilma. "Foi assim com Eduardo Campos, com Marina, e tem sido assim comigo. A senhora não se arrepende de ter feito uma campanha com ataques tão violentos e cruéis?"
A candidata à reeleição rebateu: "Eu acho que quem faz ataques cruéis é o senhor. Acho que o senhor distorce todos os fatos e a realidade".
Governo em Minas Gerais
Dilma também tentou desconstruir o governo de Aécio em Minas Gerais, apontando problemas na gestão do tucano. Logo no primeiro bloco, a petista acusou o ex-governador de "desviar" 7,6 bilhões de reais que iriam para a saúde.
Dilma disse que o governo tucano não cumpriu o investimento mínimo na área previsto por lei – de 12% do orçamento. "Candidata, lamento que a senhora esteja desinformada. Todas as nossas contas foram aprovadas pelo TCU [Tribunal de Contas da União], inclusive as da saúde", retrucou Aécio.
A petista também criticou o serviço do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Minas Gerais. "É o estado com o terceiro pior desempenho do país", citou. Aécio respondeu que Minas tinha a melhor saúde do sudeste.
As políticas de educação e segurança no estado também foram debatidas. Dilma acusou Aécio de ter "o pior índice de solução de inquéritos".
Aécio ironizou a petista: "Apesar de muito confusa a sua pergunta, eu vou tentar responder". O tucano afirmou que, durante o seu governo, os homicídios tinham diminuído. "Confuso é o senhor", rebateu Dilma, citando a origem dos dados sobre a violência.
As eleições atuais também foram discutidas, com a atual presidente afirmando que Aécio havia perdido em seu estado no primeiro turno, e o tucano destacando estar na frente da petista nas pesquisas. Ele também ressaltou os 92% de aprovação de seu governo em Minas Gerais.
"Candidato, você não pode usar as pesquisas para contrariar os resultados das urnas. Você perdeu as eleições em Minas Gerais. E, por ter perdido, foi mal avaliado", respondeu Dilma.
Economia e apoios
Outro assunto que dominou o debate foi economia. Dilma exaltou a geração de empregos e a valorização dos salários em seu governo. Aécio, por sua vez, criticou a inflação.
"Acho que o povo brasileiro tem que ter muito medo, porque está em jogo ter ou não emprego", disse Dilma.
"A senhora volta com o discurso do medo. Há medo que o PT governe por mais quatro anos. País que não cresce não gera emprego. É o pior desempenho da indústria dos últimos 50 anos", respondeu o tucano.
Nas considerações finais, Aécio mencionou os apoios que recebeu na semana passada. "Várias forças políticas extremamente importantes se somaram a nós, agradeço a cada uma delas, na figura de dois companheiros aqui presentes, Beto Albuquerque, candidato a vice de Marina Silva, e Walter Feldmann, [porta-voz] da Rede".
Ele agradeceu o apoio da viúva do ex-candidato Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto. "A você, Renata Campos, eu quero agradecer a singeleza, a forma extremamente leve e corajosa com que manifestou apoio a nossa candidatura."
Por fim, mencionou Marina Silva (PSB). A ex-candidata, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, anunciou recentemente o apoio ao tucano. "E a você, Marina, tenha absoluta certeza de que saberei, a cada dia dos próximos quatro anos, se vier a ser o Presidente da República, honrar cada um dos compromissos que juntos assumimos."