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Empossado novo presidente alemão

(sv)1 de julho de 2004

Ao assumir o "comando simbólico" da nação, destinado ao posto de chefe de Estado, Horst Köhler discursa em defesa dos países em desenvolvimento e conclama o governo a arregaçar as mangas para promover reformas internas.

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Horst Köhler: ex-FMI na presidência do paísFoto: dpa

O economista de 61 anos Horst Köhler é o segundo presidente na história da Alemanha que consegue ser eleito pela oposição. E é também o primeiro chefe de Estado no país que não traz na bagagem uma biografia política de peso. Köhler vem dos meandros da Economia, tendo sido diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional).

Talvez venha daí sua insistência em acentuar os tropeços econômicos do país nos últimos anos, ponto em que tocou mais uma vez durante seu discurso de posse nesta quinta-feira (1º/7): "Não conseguimos ajustar a tempo o Estado do bem-estar social às condições de uma população que envelhece e a novas formas de trabalho".

Não à passividade e à inércia

Indicado em maio último pelos partidos de oposição – democrata-cristãos e liberais – Köhler concentrou a tônica de seu primeiro pronunciamento nas críticas ao governo social-democrata-verde, encabeçado pelo premiê Gerhard Schröder.

Para isso, recorreu ao discurso de um de seus antecessores, Roman Herzog, que assumira a presidência em 1997 com uma cobrança geral em relação à suposta passividade e inércia reinantes no país: "Por que não conseguimos dar uma arrancada? Porque ainda estamos esperando que algo aconteça".

Segundo Köhler, o que falta à Alemanha e aos alemães seria exatamente uma nova mentalidade, que permitisse mudanças efetivas na conduta política, na conjuntura econômica e nas formas de comportamento. "Precisamos vencer essas cisões em nossa sociedade", disse o novo presidente em tom de alerta.

Suas outras críticas foram direcionadas à mísera cota de mulheres ocupando posições de liderança no país ("Neste sentido, a Alemanha ainda é um país em desenvolvimento") e a aversão de boa parte da população a crianças ("Ações na Justiça contra barulho provocado por crianças não poderiam ocorrer no país").

Acordos para evitar "perda de tempo"

Vereidigung von Bundespräsident Dr. Horst Köhler
Dieter Althaus, presidente da Câmara Alta (Bundesrat), presidente empossado Horst Koehler e Wolfgang Thierse, presidente do Parlamento (Bundestag)Foto: AP

O alerta de Köhler foi direcionado teoricamente tanto à coalizão de governo quanto aos partidos da oposição, que não "deveriam perder mais tempo e entrar logo em acordo" sobre as reformas agendadas para o país. Declaração que deve ter causado um certo alívio no governo, provavelmente preparado para ouvir críticas ainda mais veementes de um presidente de oposição recém-empossado.

Esta oposição democrata-cristã, por sua vez, vê na posse de Köhler o prenúncio de uma futura mudança de chefe de governo. Segundo a presidente da União Democrata Cristã (CDU), Angela Merkel, a escolha de um chefe de Estado aliado à oposição "é um claro sinal contra o governo social-democrata-verde".

Abertura de mercados e identidade européia

Na condição de ex-presidente do Banco Europeu da Reconstrução e Desenvolvimento (Berd), o economista Köhler não surpreendeu ao tocar em seu discurso de posse em temas como "a necessidade de os países industrializados abrirem seus mercados" em prol das nações mais pobres.

As primeiras viagens de Köhler serão à Polônia e à França. Se uma passada por Paris após a posse faz parte do ritual básico dos chefes de Estado alemães, a ida à vizinha Polônia tem razões autobiográficas. Pois foi neste país que Köhler viveu durante a ocupação nazista, depois que sua família, de origem alemã, havia fugido da Romênia. Nessas viagens como chefe de Estado, Köhler pretende, como declarou pouco depois de sua posse, "fortalecer o sentimento da identidade européia".

Ficção científica, arte moderna e cooper

O posto de chefe de Estado na Alemanha tem funções meramente representativas. Para evitar o selo de tecnocrata alheio à política, Köhler, que volta a viver na Alemanha após seis anos ocupando cargos no exterior, vem tentando mudar sua imagem perante a opinião pública. Uma imagem ainda praticamente "neutra", como ironizou o diário berlinense Der Tagesspiegel, ao comentar a reação típica à sua eleição para o posto em maio último: "Horst de quê?".

Na campanha para polir sua imagem, o novo presidente procura dar sinais de que não passa seus dias apenas em companhia dos áridos números da economia, declarando seu amor pela ficção científica ("Devorei Orwell e Huxley") e pela ópera, além de se dizer um colecionador de arte moderna e um adepto do cooper. Duas vezes por semana.