Campeã de exportação
8 de janeiro de 2010As especulações corriam há anos, mas agora parece ser oficial: após sete anos como líder mundial de exportação, a Alemanha perdeu o título para a China. O Serviço Federal de Estatística em Wiesbaden confirmou que em 2009 o país asiático esteve à frente nesse setor, pela primeira vez.
Os empresários alemães na China encaram a notícia com tranquilidade. No ponto de vista das mais de 3 mil empresas alemãs no país, esse ranking tem uma importância secundária.
A Alemanha exporta 734 bilhões de euros, enquanto a China, cerca de 746 bilhões de euros. Mas para Ulrich Maeder, presidente do conselho diretor da Câmera Alemã de Comércio em Xangai, essa listagem não tem a menor importância. "Não é nem um pouco importante. A China tem 1,3 bilhão de habitantes, temos 80 milhões. A Alemanha tem a política econômica mais estável e é, na minha opinião, o país mais estável do mundo. Acho que não há absolutamente razão alguma para a Alemanha entrar em qualquer forma de pessimismo, independente de ser verificado que agora, em termos de volume, estamos em primeiro ou segundo lugar", afirma.
Estatística inclui alemães na China
Assim pensam muitos empresários alemães. Ulrich Maeder tem há mais de 30 anos uma fábrica têxtil na China. Ele é um bom exemplo da serenidade dos alemães em relação ao tema, pois os números das exportações chinesas incluem as empresas estrangeiras que produzem na China.
No país asiático, a questão do ranking é observada menos atentamente do que na Alemanha. Os chineses estão muito mais preocupados em tentar reduzir sua dependência das exportações e fortalecer o mercado interno, que continua fraco. Esse é um projeto de longo prazo de grande importância, afirma o presidente da Câmara de Comércio Europeia na China, Jörg Wuttke. "O sistema que os chineses construíram, incentivando a exportação, criando uma grande quantidade de empregos, traz, naturalmente, esse grande superávit comercial em relação à Europa. São 17 milhões de euros por hora. O problema é o que fazer depois com o dinheiro. Por isso, a China tem que começar fortalecer o consumo interno. E é provável que, ao final eles sejam obrigados a valorizar sua moeda", comenta Wuttke.
China é um dos melhores fregueses dos alemães
Com a crise econômica, as exportações da China e da Alemanha caíram cerca de 18%. A Federação Alemã de Exportadores classificou a China, apesar da concorrência, como um de seus clientes mais dinâmicos.
Um exemplo é a indústria química. "Para nós, o mercado mais importante é a China, que representa quase metade do mercado asiático de produtos químicos. E tem potencial de crescimento nos próximos anos. Em relação às nossas taxas de crescimento, nos últimos anos as maiores são na China", afirma o presidente da BASF na Ásia, Martin Brudermüller.
Outro exemplo é a indústria automobilística. A Volkswagen admite que produz na própria China a maior parte dos 1,4 milhão de carros vendidos para esse país. Porém as importações da Alemanha aumentaram enormemente em 2009, segundo o presidente da Volkswagen na China, Winfried Vahland.
"Vamos importar este ano muito mais de 30 mil veículos, e não se trata apenas de carros simples, mas sim de luxo, que importamos da Europa, principalmente da Alemanha", afirma. "Nosso crescimento também contribui para o crescimento de empresas alemãs. Companhias alemãs fornecem para nossa joint venture de Zhengdu equipamentos para pintura no valor de millhões de euros", acrescenta Vahland.
A China quer deixar para trás sua imagem de fabricante de produtos baratos, através da produção de alta tecnologia. E os chineses estão conseguindo, na opinião dos donos alemães de empresas de médio porte na China.
Importante não subestimar
No entanto, o especialista em China da Sociedade Alemã para a Política Externa, Eberhard Sandschneider, alerta para alarmismo. "Os europeus conseguem competir em todas as principais tecnologias de ponta com nossos parceiros norte-americanos. Seja na concorrência do Boeing contra o Airbus, da Arianespace contra a NASA, do GPS contra o Galileo", ressalta.
"Os europeus aprenderam que não podem confiar que os nossos amigos norte-americanos compartilhem conosco o que sabem. O problema, na minha opinião, está no plano simbólico. Assim como pensamos que tudo o que vem dos EUA é melhor, tudo que tem relação à China associamos ao Dalai Lama ou aos problemas dos direitos humanos. E esta é uma visão distorcida que, a longo prazo, pode nos custar bastante caro", avalia Sandschneider. Ele acha, entretanto, que a única utilidade do ranking dos campeões de exportação é criar manchetes de jornal.
Autora: Astrid Freyeisen (md)
Revisão: Augusto Valente