Entenda o possível envolvimento peruano na Lava Jato
24 de fevereiro de 2016Durante a 23ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na última segunda-feira (22/02), a Polícia Federal obteve indícios de que o presidente do Peru, Ollanta Humala, teria supostamente recebido propina da empreiteira brasileira Odebrecht, que possui diversos contratos no país andino. Entenda o caso.
O que foi apreendido
Os investigadores da Operação Acarajé, a 23ª fase da Lava Jato, apreenderam recentemente uma planilha de gastos de um suspeito com "vínculo empregatício" com a empreiteira Odebrecht. Nela, são descritos certos pagamentos realizados pela construtora.
O "Projeto OH"
Entre os ordenados, no valor de 4,8 milhões de reais, está um certo "Projeto OH", que, segundo o relatório da Polícia Federal, pode se referir ao presidente do Peru, Ollanta Humala. Ele também é citado numa mensagem registrada no celular do presidente da construtora, Marcelo Odebrecht, que está preso desde meados de 2015 acusado de estar vinculado com o caso de corrupção na Petrobras.
Relatório da PF
Um relatório assinado pelo delegado da Polícia Federal Filipe Pace afirma que "a se confirmar esta hipótese investigativa, o então dirigente máximo do Peru teria sido beneficiado pelo Grupo Odebrecht e isso, de alguma forma, estaria atrelado aos investimentos feitos pelo governo federal naquele país".
Comissão no Congresso peruano
Em novembro de 2015, o Congresso peruano criou uma comissão, baseada nas investigações da Lava Jato, para investigar supostos pagamentos de subornos de empreiteiras brasileiras, como a Odebrecht, a funcionários públicos peruanos. A comissão também investiga supostos encontros entre a empresária brasileira Zaida Sisson, mulher do ex-ministro da Agricultura do Peru, com autoridades do segundo governo de Alan García (2006-2011) e do atual presidente Humala.
Contratos bilionários
A Odebrecht manteve contratos bilionários com o governo em Lima na última década. A última obra, iniciada na gestão de Humala, foi um gasoduto orçado em 5 bilhões de dólares. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) emprestou cerca de 1 bilhão de reais para obras feitas pela Odebrecht no Peru entre 1998 e 2014, de acordo com relatório divulgado no ano passado.
Humala rechaça suspeita
Na terça-feira, o presidente peruano negou o envolvimento com pagamentos feitos pela Odebrecht e convocou ao Palácio do Governo, na noite anterior, o embaixador do Brasil em Lima, Marcos Raposo Lopes. Segundo comunicado divulgado pela Presidência do Peru, Humala expressou "seu rechaço" e solicitou "informações oficiais" sobre o caso.
Odebrecht nega irregularidade
A empresa Odebrecht no Peru afirmou em comunicado que "nunca realizou doações nem a entrega indevida de dinheiro a partidos políticos ou autoridades públicas". De acordo com a nota, "as notícias na imprensa que relacionam o Peru na investigação Lava Jato evidenciam que não se trata de uma acusação formal, mas de avaliações preliminares baseadas na interpretação de anotações por parte da Polícia Federal do Brasil".