Cólera no Haiti
15 de novembro de 2010Mais de 900 pessoas já morreram de cólera no Haiti e quase 15 mil pessoas de contaminação foram examinadas em hospitais desde o início da epidemia, três semanas atrás, segundo informam fontes oficiais.
Na capital, Porto Príncipe, onde centenas de milhares de pessoas vivem em acampamentos desde o terremoto ocorrido em janeiro, haviam morrido 27 pessoas até domingo. A Cruz Vermelha teme uma possível propagação do cólera entre os desabrigados que ainda residem em acampamentos provisórios, em parte sob condições altamente precárias. Se isso acontecer, advertiu Jean-Pierre Guiteau, diretor da Cruz Vermelha no Haiti, "será uma tragédia humanitária sem precedentes".
Postos de saúde ameaçam se tornar focos de propagação
A Organização das Nações Unidas (ONU) fez um apelo por ajuda humanitária para reunir 164 milhões de dólares para combater o cólera no país caribenho. Os recursos precisam chegar o mais rápido possível ao Haiti, "a fim de impedir que essa epidemia nos atropele", declarou Elizabeth Byrs, do escritório de coordenação de ajuda humanitária da ONU, sediado em Genebra.
Segundo Byrs, as Nações Unidas, outras organizações de ajuda humanitária e o Ministério da Saúde do Haiti necessitam de 163,8 milhões de dólares para conter a propagação da epidemia no país. "Precisamos urgentemente de médicos, enfermeiros e produtos médicos", afirmou Byrs.
A organização não governamental alemã Ação Agrária Alemã anunciou seu apoio ao combate do cólera no Haiti. Sua meta é abastecer os postos de saúde públicos das regiões rurais com água potável, comprimidos contra desidratação, sabão e anti-inflamatórios.
"Nessas situações de crise, os postos de saúde estatais ficam tão lotados que acabam se tornando centros de propagação da doença", explicou Federico Motka, coordenador de ajuda emergencial da Ação Agrária Alemã no Haiti. "Uma ajuda profissional nesses postos pode reverter esse quadro sobretudo nas regiões rurais."
Para Nick Ireland, da organização Save the Children, o importante agora seria informar as pessoas sobre as vias de propagação do cólera e oferecer à população água potável e sabão. A organização está cooperando com as autoridades haitianas e outras instituições de ajuda humanitária na elaboração de um plano de emergência para combater a epidemia que já atingiu todo o país.
Oposição se beneficia com epidemia
Duas semanas antes das eleições presidenciais e parlamentares no Haiti, a epidemia de cólera vem favorecendo a oposição, conforme revelaram pesquisas de opinião. A candidata favorita para suceder o presidente René Préval na chefia de governo é a oposicionista Mirlande Manigat, segundo enquetes divulgadas neste fim de semana. A professora universitária obteria 33% dos votos, mantendo uma vantagem considerável em relação ao candidato do governo, Jude Célestin, que tem 21% do apoio do eleitorado. No dia 28 de novembro, os haitianos irão às urnas para eleger o presidente, deputados e um terço do Senado.
O ministro alemão de Relações Exteriores, Guido Westerwelle, apelou por solidariedade internacional para com o Haiti, advertindo que a eclosão do cólera representa um problema grave para o país assolado este ano por um terremoto. Westerwelle lembrou que a epidemia acirra ainda mais a situação já precária da população haitiana. Na semana passada, o ministro alemão já liberara ajuda emergencial para o país caribenho.
Falta experiência para conter o cólera
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta é a primeira epidemia de cólera a se propagar pelo Haiti em mais de cem anos. Isso significa que o país não tem experiência no combate à doença.
Nesse ponto, as autoridades haitianas estão recebendo a apoio de Bangladesh. "Nosso plano é treinar as pessoas in loco, a fim de que os órgãos de saúde possam lidar com essa e outras eventuais epidemias", declarou o chefe da equipe, R.N. Mazumder. Os profissionais que integram a equipe provêm do renomado Centro Internacional de Pesquisa de Doenças Diarréicas, que desenvolveu um método de tratamento simples e eficiente para esses casos.
A maioria das pessoas são infectadas por meio de água ou comida contaminadas pela bactéria Vibrio cholerae. Ela se instala no intestino delgado e expele substâncias tóxicas, causando diarreia e vômito.
Os pacientes com cólera podem perder mais de 20 litros de água por dia, inclusive diversos sais minerais vitais. Isso pode levar a uma insuficiência renal aguda e a um colapso circulatório. Os doentes podem se desidratar e morrer de sede dentro de poucas horas.
Na ausência de tratamento, o cólera geralmente leva à morte. Se a doença for diagnosticada e tratada a tempo, sobretudo por meio da reposição de líquidos e eletrólitos e da ingestão de antibióticos, a chance de sobrevivência é grande.
SL/epd/efp/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer