Estados alertam para risco de crescente xenofobia na Alemanha
12 de dezembro de 2014Os governos federal e dos estados da Alemanha alertaram para os riscos de xenofobia e preconceito anti-islâmico no país diante do crescimento do movimento popular Pegida, que se declara contra a "islamização" da Europa. A incitação contra estrangeiros e muçulmanos não pode ser tolerada, destacaram.
"Nós sentimos que o clima social na Alemanha ficou mais ríspido", afirmou o ministro do Interior, Thomas de Maizière, no encerramento de um encontro com os secretários do Interior em Colônia, nesta sexta-feira (12/12). No encontro, os governantes também discutiram como frear o salafismo em território alemão e a violência de hooligans no futebol.
Pegida é uma sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente". O movimento tem sua origem em Dresden e, entre outras bandeiras, defende o endurecimento das leis para asilo. Este ano, 180 mil refugiados receberam asilo na Alemanha – número que deve crescer em 2015. São principalmente pessoas em fuga da guerra civil na Síria ou das atrocidades cometidas pelos extremistas do "Estado Islâmico" (EI).
O secretário do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, Ralf Jäger, afirmou que o Pegida mostra, de forma assustadora, como radicais de direita manipulam manifestações para os seus fins. "Precisamos desmascarar esses agitadores", afirmou. Jäger se mostrou indignado com a propaganda contra os refugiados. "Essas pessoas já perderam tudo e precisam de ajuda, em vez de serem atacadas", disse.
No principal noticiário televisivo do país, De Maizière afirmou que os governantes devem levar os temores dos manifestantes a sério. Ele citou um estudo que mostra que uma parte dos cidadãos se sente como um estrangeiro em seu próprio país. "Nós políticos precisamos nos ocupar disso."
Já após o encontro, De Maizière adotou um discurso mais cauteloso: "Não há nenhuma ameaça de islamização da sociedade alemã". Ele também afirmou que o preconceito contra os muçulmanos se sustenta com argumentos vagos. "A grande maioria dos muçulmanos trabalha, paga impostos, fala alemão. Eles estão integrados e até mesmo torcem pela seleção alemã de futebol", disse o ministro.
Hooligans e salafistas
Porém, justamente no futebol está um dos embriões da xenofobia na Alemanha. O movimento HoGeSa, sigla em alemão para "Hooligans contra salafistas", cuja marcha resultou em graves conflitos em outubro, também está na mira dos ministros. Além de hooligans, o HoGeSa também reúne extremistas de direita. "Os atos desses tipos de alianças nefastas não serão tolerados", garantiu Jäger.
A situação é delicada para os políticos. De um lado, hooligans protestam contra o salafismo. Do outro, a cena radical islâmica está em crescimento. E, no meio, os governantes têm a missão de coibir e separar ambos os lados. Não são poucos os relatos de pessoas que vivem na Alemanha e ajudam a milícia jihadista do EI com a confecção de roupas militares ou doações de dinheiro.
E, segundo De Maizière, os serviços de segurança da Alemanha têm conhecimento do retorno de 180 pessoas que viajaram à Síria e ao Iraque. Oficialmente, cerca de 600 alemães entraram na chamada "Guerra Santa", mas há especialistas que falam de 1.500 a 2.000. Cerca de 60 já teriam morrido.
Os secretários do Interior decidiram pela criação de um plano nacional de prevenção contra o salafismo violento. O objetivo é evitar que jovens sejam atraídos para a cena salafista. Os secretários pretendem, além disso, lançar uma campanha online de esclarecimento sobre a propaganda salafista.
PV/dpa/afp