Estudo acusa Walesa de ter sido espião do regime comunista
31 de janeiro de 2017O debate se o ex-presidente polonês Lech Walesa, líder da oposição sindical dos anos 1980 e Prêmio Nobel da Paz, foi um espião da polícia secreta comunista SB no início dos anos 1970 atingiu um novo ponto alto nesta terça-feira (31/01) com a apresentação, em Varsóvia, de um parecer que tenta provar exatamente isso. A conclusão: a assinatura de Walesa em documentos da SB é verdadeira. "Não há dúvidas", disse o investigador Andrzej Pozorski.
A análise das assinaturas foi determinada depois da morte do general Czeslaw Kiszczak, antigo ministro do Interior do regime comunista polonês, no fim de 2015. Na casa dele foram encontrados documentos importantes que o chefe supremo de policiais e espiões teria simplesmente levado consigo para casa.
A suspeita de que funcionários da SB teriam falsificados documentos para incriminar Walesa levou o órgão responsável pelos arquivos da polícia secreta, o Instituto da Memória Nacional (IPN), uma agência do governo, a abrir um inquérito. Deste faz parte o parecer divulgado nesta terça-feira, o qual conclui que as assinaturas são verdadeiras.
Segundo a agência de notícias estatal polonesa PAP, os especialistas analisaram 52 documentos com a caligrafia de Walesa que estavam no arquivo da SB. Com base de comparação foram utilizadas 142 amostras escritas de próprio punho pelo antigo líder sindicalista, como passaportes e carteiras de identidade.
Os documentos analisados cobrem os anos de 1971 a 1974 e, segundo a PAP, são relatórios escritos por Walesa para a SB, assim como 17 recibos dos valores que ele teria recebido (ao todo 11.700 zlotys, o equivalente a vários salários mensais da época). Ele teria atuado com o codinome Bolek.
O contexto histórico da acusação é dramático: manifestações, algumas delas violentas, tomaram ruas de Gdansk e de outras cidades depois de o governo elevar os preços de alimentos em até 30% pouco antes do Natal de 1970. A atuação de militares e policiais para controlar as manifestações resultou na morte de 45 manifestantes. Cerca de 130 das pessoas detidas foram coagidas a colaborar com a polícia secreta. Aparentemente, Walesa também não teve outra opção para salvar a si e à sua família. Ele – se os documentos de fato forem verdadeiros – entregou à SB vários relatórios sobre seus colegas e o ambiente no local de trabalho, em Gdansk.
Em 2016, o próprio Walesa confessou que não escapou "totalmente limpo" da cadeia e que assinou um documento durante seus inúmeros interrogatórios, aparentemente um acordo para colaborar com a SB. Porém, ele garante nunca ter colaborado de fato, e foi inocentado das acusações por um tribunal, em 2000. Sobre a atual acusação, disse se tratar de uma mentira. Ao ser questionado sobre o parecer, o advogado dele, Jan Widacki, declarou que o caso ainda não está encerrado e que considera solicitar uma nova análise.
A disputa, portanto, continua. O biógrafo Jan Skorzynski afirma que todos os contatos de Walesa com a SB foram encerrados anos antes de ele ingressar no movimento oposicionista, no fim dos anos 1970. "Se ele colaborou com as autoridades polonesas depois de dezembro de 1970, soube novamente se livrar dessa relação." De 1976 até o fim da ditadura, afirma Skorzynski, Walesa era claramente considerado um inimigo do regime.
O historiador e antigo eurodeputado Pawel Kowal também alerta contra uma mentalidade mocinho-bandido no caso de Walesa. "Ele é uma figura tão importante para a história da Polônia e para os poloneses que cada pessoa forma sua própria opinião sobre ele. E a maioria dos poloneses já formou a sua", afirma. "As pessoas vão se dividir sobre se os méritos futuros de Walesa apagam sua culpa ou não." Assim como em outros casos da história polonesa, afirma Kowal, a imagem de Walesa ficará sendo a de um "herói com máculas".