Sistema antimísseis
8 de julho de 2008Como parte dos planos de um sistema de escudo antimísseis no Leste Europeu, EUA e República Tcheca assinaram, nesta terça-feira (08/07) em Praga, um acordo de princípios que prevê o estacionamento de um sistema de radar americano na cidade boêmia de Brdy.
O radar faz parte dos controversos planos norte-americanos de instalação de um sistema de escudo antimísseis como forma de proteção contra ataques terroristas ou de países como o Irã. O acordo foi assinado pela secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, e por seu colega de pasta tcheco, Karel Schwarzenberg.
A visita de um dia de Rice à capital tcheca foi marcada por protestos. Pesquisas de opinião apontam que dois terços da população rejeitam o projeto militar. Devido à estreita maioria, o aval do Parlamento tcheco ao projeto ainda não está garantido.
Os Estados Unidos planejam instalar ainda dez mísseis antibalísticos na Polônia até 2011. Diferentemente do acordo assinado com a República Tcheca, não há progresso nas negociações entre EUA e Polônia. A Rússia rejeita estritamente os planos norte-americanos e ameaça com retaliações.
Colidir para matar
Os planejados mísseis antibalísticos não possuem explosivos próprios, mas levam, somente por meio da energia de impacto a 23 mil quilômetros por hora, o míssil de ataque à explosão através da tecnologia de intercepção hit-to-kill (colidir para matar).
Como parte deste aparelho, um sistema de radar deve ser instalado na República Tcheca. Este radar de faixa X percebe os mísseis agressores e possibilita o exato direcionamento dos mísseis antibalísticos.
Os Estados Unidos esperam que o sistema funcione como forma de defesa do próprio território, como também de parte da Europa contra mísseis inimigos, que podem estar equipados com ogivas nucleares.
Radar direcionado para a Rússia
De forma acirrada, Moscou criticou repetidamente o sistema de escudo antimísseis. Em fins de junho último, o presidente russo Medvedev advertiu, no encontro de cúpula UE-Rússia na cidade siberiana de Khanti-Mansisk, que o sistema não serviria à segurança da Europa, já que poderia ser visto como um convite à corrida armamentista mundial.
Washington afirma que o escudo antimísseis não está voltado para a Rússia e sugere que Moscou controle o sistema no local. A Rússia, contudo, sente-se cada vez mais ameaçada – não só pelo fato de a Otan, que na época da Guerra Fria se orientava diretamente contra Moscou, estar cada vez mais próxima, sendo até mesmo limítrofe de suas fronteiras com a Letônia e a Estônia.
No aspecto técnico, o sistema de escudo não representa uma ameaça concreta para Moscou, pois não oferece proteção contra mísseis intercontinentais russos. No entanto, os russos temem que o programa possa ser ampliado. Além disso, eles reclamam que o sistema de radar na República Tcheca pode ser direcionado também para a Rússia.
Locação alternativa para o projeto
Atrasos são uma constante no planejamento e execução do sistema de escudo. Enquanto políticos poloneses e tchecos se posicionam de forma positiva perante o projeto, pesquisas apontam que a maioria da população na Polônia e na República Tcheca o rejeita.
Já em abril de 2008, os Estados Unidos e a República Tcheca chegaram a um acordo básico sobre o estacionamento do sistema de radar. Por outro lado, a Polônia exigiu garantias adicionais antes de dar sua anuência ao projeto. Varsóvia exige, sobretudo, ajuda financeira bilionária para suas próprias Forças Armadas. Até agora, as ofertas de Washington estiveram bem abaixo das expectativas polonesas.
Devido às dificuldades de encontrar um denominador comum com Varsóvia, os americanos passaram a considerar a Lituânia uma locação alternativa para o projeto. Oficialmente, no entanto, os Estados Unidos se detêm na Polônia como local do projeto.
Parceria difícil
Chegando-se a um acordo em futuro próximo, os atuais planos prevêem que o sistema de escudo antimísseis entrará em funcionamento em 2011. No entanto, as objeções de Moscou não se extinguirão tão rapidamente, mesmo que diplomatas americanos tenham tentado fazer com que o sistema de escudo se tornasse atraente, repetidas vezes, através de concessões.
Uma nova corrida armamentista, como na época da Guerra Fria, parece ser atualmente uma possibilidade muito longínqua. Os medos dos russos, que querem manter seu status de superpotência também no novo século, devem ser levados a sério pelo Ocidente. A parceria entre a Otan e a Rússia não foi sempre fácil. O sistema de escudo pouco vai alterá-la. Ela continua uma parceria difícil.