EUA cancelam visita de Blinken à China após balão suspeito
3 de fevereiro de 2023Os Estados Unidos decidiram nesta sexta-feira (03/02) cancelar a viagem do secretário de Estado americano, Antony Blinken, à China, enquanto o governo de Joe Biden estuda uma resposta a um balão chinês suspeito que sobrevoa a região de Montana.
O anúncio foi feito horas antes de Blinken partir de Washington para Pequim e marca um novo golpe nas já tensas relações entre os Estados Unidos e a China.
A decisão abrupta ocorreu apesar da alegação da China de tratar-se de um balão de pesquisa meteorológica que saiu do curso devido aos ventos. Os EUA suspeitam se tratar de um veículo de espionagem.
"O propósito do balão é, claramente, de vigilância", disse um oficial americano que não quis se identificar na quinta-feira. Ele afirmou que o objeto sobrevoou o nordeste dos EUA, onde estão localizadas bases aéreas de alta sensibilidade e mísseis nucleares em silos subterrâneos.
Os EUA não se pronunciaram sobre se aceitam a justificativa chinesa. No entanto, um alto funcionário afirmou que a gravidade da violação do espaço aéreo, da soberania e do direito internacional é tanta que a viagem de Blinken não poderia ser mantida.
O funcionário chamou a presença do balão de "inaceitável" e disse que a mensagem foi entregue por Blinken ao conselheiro de Estado chinês Wang Yi nesta sexta-feira. A visita será remarcada assim que as circunstâncias permitirem, disse um alto funcionário do Departamento de Estado em Washington.
A versão da China
O Ministério das Relações Exteriores da China lamentou o ocorrido e disse que o balão tem capacidade limitada de "autodireção" e "desviou-se muito de seu curso planejado" por causa dos ventos.
"O lado chinês lamenta a entrada não intencional do balão no espaço aéreo dos EUA devido a força maior'', diz o comunicado.
A China informou que continuará se comunicando com os EUA para lidar adequadamente com essa "situação inesperada".
Viagem a Pequim
A visita de dois dias de Blinken à China ocorreria no domingo e na segunda-feira e incluiria um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping.
Seria a primeira viagem de um chefe da diplomacia dos EUA à China desde 2018. Entre os temas a serem discutidos estariam o abalo das relações bilaterais gerado pelas tensões envolvendo o território insular autogovernado de Taiwan, que Pequim pretende colocar de volta sob o jugo chinês.
Taiwan tem se revelado uma das questões mais controversas entre Washington e Pequim. Várias vezes em sua presidência, Biden disse que os EUA defenderiam a ilha no caso de uma invasão liderada pela China.
Oficialmente, Washington reconhece Pequim como o governo do país e não mantém relações diplomáticas com Taipei, embora tenha contatos não oficiais com a ilha e forneça equipamentos militares para a defesa do território.
Possibilidade de derrubar o balão
Dois pré-candidatos à presidência dos EUA em 2024, o ex-presidente Donald Trump e a ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley, defendem que o balão seja abatido imediatamente. No entanto, a hipótese foi descartada pelo governo americano.
O secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, e autoridades militares de alto escalão teriam avaliado a possibilidade de abrir fogo contra o objeto, após Biden inquirir sobre alternativas militares para lidar com a questão. Aviões de combate chegaram a ser enviados para examinar de perto o balão, e caças a jato, incluindo F-22s, estariam prontos para abatê-lo, caso solicitado.
As autoridades, porém, teriam chegado à conclusão de que isso poderia colocar em perigo vidas em solo, visto que, mesmo que o balão estivesse sobre uma área pouco povoada de Montana, seu tamanho criaria um campo de detritos grande o suficiente para colocar pessoas em risco.
Além disso, o balão não representaria riscos à aviação civil, segundo informou um oficial da Defesa americana citado pela agência de notícias AFP.
"Avaliamos que esse balão possui valor adicional limitado, da perspectiva de coleta de material de inteligência", disse um oficial sob anonimato. Ele afirmou que o balão entrou no espaço aéreo dos EUA há poucos dias, mas que a inteligência americana já o rastreava bem antes disso.
Um porta-voz do Pentágono confirmou que o objeto ainda estava sendo rastreado no espaço aéreo americano. "O balão está atualmente em uma altitude muito acima do tráfego aéreo comercial. Não representa ameaça militar ou física às pessoas em solo", afirmou, em nota.
Um balão espião é um equipamento de espionagem, como uma câmera ou um radar, preso a um balão. Costuma ser movido por correntes de vento.
le/ek (AFP, AP, Lusa, ots)