Os inocentes e a UE
21 de dezembro de 2008O encarregado do governo federal alemão para questões de direitos humanos, Günter Nooke, instou Berlim a ajudar o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, a cumprir sua promessa de fechar o campo de Guantánamo. Segundo entrevista de Nooke ao jornal Frankfurter Rundschau, para tal a Alemanha e outras nações européias deveriam se prontificar a acolher os presos inocentes.
"Guantánamo é um problema norte-americano. Porém não se pode permitir que o fechamento fracasse por ninguém saber onde colocar os prisioneiros." Em especial, a Alemanha deveria estar preparada para abrigar alguns dos 17 uigures mantidos no campo em Cuba, aconselhou o democrata-cristão.
Guantánamo, e depois?
Na qualidade de minoria muçulmana, os uigures enfrentam perseguição política em sua pátria, a China, de acordo com associações de direitos humanos. Pequim opõe-se frontalmente a seus esforços de independência.
A Alemanha possui uma pequena comunidade uigur, a maior parte da qual vive em Munique. A presidente do capítulo alemão da Anistia Internacional, Barbara Lochbiler, também urgiu o governo a dar atenção especial aos uigures em Guantánamo, ao considerar quais prisioneiros aceitar. Segundo ela, não há qualquer evidência do envolvimento dos 17 homens em atos terroristas.
"Os uigures possuem uma rede de conexões na Alemanha. Por isso seria mais fácil para eles iniciar uma nova vida aqui", lembrou Lochbiler à agência de notícias DPA. E acrescentou: os alemães, juntamente com outras nações da União Européia, deveriam demonstrar sua disposição a acolher os internos aparentemente inocentes de Guantánamo. "Está mais do que na hora de uma ação rápida."
A presidente do Partido Verde alemão, Claudia Roth, igualmente apelou a Merkel para que "comunique ao governo dos Estados Unidos que a Alemanha está preparada para receber prisioneiros de Guantánamo":
Vácuo legal
Grupos de direitos humanos e governos de todo mundo saudaram a recente decisão de Barack Obama de terminar com o famigerado campo de prisioneiros na base naval norte-americana na Baía de Guantánamo. Essa prisão tornou-se símbolo de práticas agressivas de detenção, e expôs os Estados Unidos a alegações de tortura.
Por outro lado, é consenso que a tarefa de fechar o campo – criado pelo presidente George W, Bush após os atentados de 11 de setembro de 2001 – será uma tarefa delicada, do ponto de vista legal. Especialistas duvidam que algum dos supostos combatentes da Al Qaeda e do Talibã, lá detidos, jamais receberá julgamento público justo.
O governo alemão vem, há muito, insistindo pelo fim de Guantánamo. Em conversações com Bush, a premiê alemã, Angela Merkel, tem trazido o tema repetidamente à baila,. Um dos primeiros suspeitos levados ao campo em Cuba, em 2002, foi o alemão de origem turca Murat Kurnaz. Ele foi mantido preso sem provas até 2006 e alega haver sido torturado. Seu caso nunca foi levado a juízo.