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Falta de integração dos muçulmanos preocupa alemães

Ralf Jäckel (dre / sm)16 de novembro de 2004

A onda de violência a partir do assassinato do cineasta Theo van Gogh, na Holanda, assustou os europeus. Muitos temem que isso venha a se espalhar por toda a Europa. Políticos alemães se posicionam sobre o assunto.

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Muçulmanos protestam contra a política de Israel em BerlimFoto: AP
Filmregisseur Theo van Gogh erschossen
Cineasta holandês Theo van Gogh, assassinado em Amsterdã no dia 2 de novembro passadoFoto: AP

O assassinato do cineasta holandês Theo van Gogh, crítico do islamismo, marcou o início de uma série de atentados no início de novembro na Holanda. Mesquitas foram incendiadas, igrejas profanadas. A opinião pública se alarmou, referindo-se a uma escalada do fanatismo, de uma espécie de jihad, guerra santa, nas ruas.

O vice-premiê holandês, Gerrit Zalm, considera seu país já "em guerra contra o terrorismo". Até na União Européia cresceu a apreensão. O comissário de Justiça da comunidade, Antonio Vittorino, advertiu de que ondas de violência semelhantes poderão se espalhar pela Europa. "Aconteceu na Holanda, mas atinge toda a União Européia", alertou o comissário através de seu porta-voz.

Perigo, apesar de processo de integração

Bundesminister Otto Schily mit dem ersten Jahresgutachten des Zuwanderungsrates
Ministro alemão do Interior, Otto Schily, com o primeiro parecer anual do conselho da lei de imigração (19/10/2004)Foto: dpa

Nos jornais alemães, os editoriais desta semana não se cansaram de remeter à deficiente integração social dos dois milhões de muçulmanos que se consideram em casa na Alemanha. O ministro do Interior, Otto Schily, advertiu da tendência de exagerar o perigo suscitado pelos acontecimentos na Holanda. Ele lembrou que a nova lei de imigração alemã representa um passo importante no sentido da compreensão intercultural. A lei prevê medidas de integração, como por exemplo, aulas de alemão para imigrantes.

"No entanto, apesar dos nossos avanços no processo de integração", ressalvou Schily, "não podemos ignorar o perigo a que estamos expostos." Especialistas em terrorismo estimam que haja cerca de mil muçulmanos radicais, dispostos a praticar violência na Alemanha. Trata-se de membros de mesquitas fundamentalistas, nas quais os imams costumam criticar abertamente Israel e a sociedade ocidental.

Apelo por uma "cultura dominante" cristã

Os políticos conservadores aproveitaram a oportunidade para alertar contra um pretenso perigo de "choque de civilizações em solo alemão". O secretário-geral do partido conservador bávaro União Social Cristã (CSU), Markus Soeder, declarou que os acontecimentos na Holanda mostram a necessidade de uma leitkultur na Alemanha.

O termo ideologicamente carregado leitkultur pode ser traduzido como "cultura dominante" ou "cultura guia". "Ao observarmos os recentes acontecimentos na Holanda, notamos um choque de civilizações em andamento, algo que temos que impedir que aconteça aqui", disse Soeder. "Precisamos mudar nossa política de integração e baseá-la nos valores e na noção de uma sociedade cristã moderna."

Netos de imigrantes mal dominam o idioma

Para os mais moderados, a verdadeira causa dos recentes conflitos é o fracasso da política de integração e imigração. Apesar de diversos observadores políticos não verem a Europa em perigo, fato é que os conflitos culturais entre imigrantes e europeus se acirram cada vez mais. Esta é, por exemplo, a opinião de Marianne Zepp, da Fundação Heinrich Böll, ligada ao Partido Verde.

Ausländer in Deutschland Fußgänger in Berlin Kreuzberg
Passantes em Kreuzberg, um dos bairros mais interculturais de BerlimFoto: AP

Diversos países europeus enfrentam problemas de integração de imigrantes. Na Alemanha, na França e na Espanha, por exemplo, os filhos e netos de imigrantes ainda têm dificuldade em dominar o idioma e conseguir um emprego. As conseqüências são fatais: desemprego, pobreza e criminalidade. Até agora, a política de imigração da União Européia não mostrou eficácia para reverter este quadro social explosivo.

A proposta dos verdes neste sentido é clara. Volker Beck, encarregado de Política Interna do partido, não exclui maior rigor no tratamento de fundamentalistas, mas destaca a importância de maior moderação para com a juventude islâmica na Alemanha: "Exclusão social e não integração tornam os jovens muçulmanos vulneráveis a ideologias radicais e ao ódio. A saída deste problema não é estigmatizá-los como contraventores, mas sim deixá-los participar da vida social alemã".