Cinema
27 de agosto de 2010A ideia inicial de uma mostra dedicada exclusivamente a curtas latino-americanos veio do diretor do festival, o peruano Martín Capatinta, que vive em Berlim há seis anos e sempre sentiu falta de ter acesso à recente produção cinematográfica do continente como um todo. O LAKINO, diz ele, "tem uma temática relacionada à realidade do povo latino-americano, suas raízes, seus problemas e suas previsões para o futuro".
O festival começa nesta sexta-feira (27/08) e vai até o próximo domingo. Aberto a filmes de ficção, documentário, animação e experimentais, o LAKINO inclui duas mostras competitivas, um ciclo intitulado "Viagem pela América Latina", uma seção dedicada a "mulheres diretoras", uma restrospectiva dos filmes do realizador argentino Carlos Larrondo – que também faz parte do júri do festival – e uma mostra infantil.
O melhor da ficção
A viagem cinematográfica pelo continente é pensada pelos organizadores do festival como uma seleção "dos melhores filmes de ficção dos últimos três anos", que já tenham sido exibidos em outras ocasiões. Desta mostra fazem parte os brasileiros Ana Beatriz, de Clarissa Cardoso, e Terra, de Sávio Leite.
Enquanto o primeiro é baseado em um conto de Juliano Cazarré sobre um casal que, à primeira vista, poderia parecer perfeito, o filme de animação Terra parte da premissa que "coisas extraordiárias podem acontecer com as pessoas mais normais".
Além desses dois curtas, os também brasileiros Vela ao Crucificado, de Frederico da Cruz Machado, e O Gigante do Papelão, de Bárbara Tavares, fazem parte das duas mostras competitivas do LAKINO. O filme de Tavares documenta a arte de Sérgio Cézar de transformar o papelão. O protagonista do documentário aproveita o lixo para criar "maquetes" de fachadas, favelas e grandes cidades, tendo se tornado conhecido como o "arquiteto do papelão".
Já Vela ao Crucificado conta como os pais de um menino, em um bairro carente de uma grande cidade, sofrem por sua morte e por não poderem lhe garantir a integridade em seus últimos momentos de vida.
Homenagem às mulheres na direção
A série de filmes assinados por diretoras reúne o brasileiro Amadores, de Tuca Paoli, Tres Juntos, da argentina Laura Citarella, Temporal, da costarriquenha Paz Fábrega, Danzak, da peruana Gabriela Yepes, Debajo, da chilena Dominga Sotomayor e Cunaro, da venezuelana Alexandra Hanao.
Amadores tematiza as diferenças entre os gêneros e as dificuldades de relacionamento de um casal. "Um jogo de antagonismos entre romantismo e pragmatismo, que acaba sendo definido pelo destino", segundo o catálogo do festival.
Retrospectiva de Carlos Larrondo
A retrospectiva do LAKINO é dedicada aos filmes de Carlos Larrondo, argentino que se mudou para Barcelona no fim dos anos 1990 e realizou, entre outros, trabalhos sobre o cantor Manu Chao ("La rumba de Barcelona").
LT22 Radio La Colifata, o primeiro filme de Larrondo, que levou nada menos que 11 anos para ficar pronto, revela o dia-a-dia de uma emissora de rádio cuja produção é inteiramente assumida pelos pacientes de um hospital psiquiátrico de Buenos Aires. Com gravações e transmissões diretas dos jardins do hospital, a rádio pode ser ouvida em todo o mundo e sua própria existência já questiona os limites entre "loucura" e "razão", "sano" e "insano".
No documentário, os protagonistas, chamados de "los colifatos", revelam os bastidores da rádio e vivenciam, em uma viagem pela Europa, a repercussão desse trabalho pioneiro. A viagem acaba com o retorno a Buenos Aires em um estádio de futebol, onde o cantor Manu Chao fez um show para milhares de pessoas em benefício do projeto Radio La Colifata. Pelo documentário, o diretor Carlos Larrondo recebeu diversos prêmios.
"Sinfonias Urbanas"
Além de celebrar as produções latino-americanas e distribuir prêmios, o LAKINO desenvolve também, a médio prazo, o projeto paralelo "Sinfonias Urbanas", com apoio da União Europeia.
A proposta é reunir, em janeiro de 2011, um grupo de 20 jovens diretores – dez europeus e dez latino-americanos residentes na Europa – para que produzam, durante dez dias, um trabalho audiovisual relacionado à capital alemã.
"Este workshop está centrado em três aspectos: a busca, através da câmera, de temas sociais relevantes; o desenvolvimento de uma linguagem visual própria e a formação técnológica e prática desses processos em um curta-metragem", afirmam os organizadores do evento. Além da execução prática dos filmes em questão, a ideia é fazer com que se estabeleça um diálogo intercultural entre os realizadores no processo de elaboração de um filme.
Os diretores selecionados para o projeto deverão, além de expor suas visões particulares sobre Berlim, também trazê-las para discussões em grupo. Os resultados serão exibidos na próxima edição do LAKINO na capital alemã.
Autora: Soraia Vilela
Revisão: Rodrigo Rimon