Futebol de rua pela cidadania
26 de agosto de 2004Não há como negar: o futebol fascina milhões de pessoas, sejam elas brancas, negras, ricas ou pobres. Em todas as cidades sempre haverá um grupinho aqui ou ali batendo uma bola em um campinho qualquer, improvisando traves, dividindo as equipes entre os com ou sem camisas, por exemplo.
Isto ocorre até em regiões onde não se imagina que o futebol de rua possa existir, como no Iraque. O ex-treinador da seleção iraquiana, o alemão Bernd Stange, recordou: "Se você estiver na cobertura do hotel Palestine ou Sheraton, os dois prédios mais altos de Bagdá, e olhar para baixo, vai ver crianças e adultos jogando futebol nos estacionamentos ou em várzeas com bolas velhas. Esta é a base do futebol iraquiano, o futebol de rua".
Mais do que diversão
Tal prática esportiva é tida como mera diversão, mas pode ser bem mais do que isto. Canalizar a atração pelo futebol de rua para a divulgação e manutenção de princípios sociais é o objetivo do StreetFootballWorld. O projeto criado pela Stiftung Jugendfussball (Fundação Alemã de Futebol Jovem), fomenta há dois anos projetos em todo o mundo voltados para a paz, o aprendizado da vivência coletiva e a cidadania, além de lutas contra as drogas e a violência.
Personalidades famosas, como o kaiser Franz Beckenbauer, o atual técnico da seleção alemã, Jürgen Klinsmann, e o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, estão envolvidos com a fundação. Enquanto o Ministério da Cooperação Econômica financia o projeto, a Deutsche Welle assumiu toda a parte de divulgação das iniciativas internacionais ligadas ao StreetFootballWorld.
Jovens são prioridade
O projeto tem como prioridade ajudar jovens e crianças. O amplo espectro de ação inclui o combate à pobreza infantil, a divulgação de valores sociais e de noções de saúde e cidadania, além da luta contra o racismo e pela tolerância quanto a diferenças culturais e religiosas.
O futebol de rua é capaz até de servir de ponte entre povos inimigos. No Oriente Médio, o ex-primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, fundou o Peres Center for Peace, que há dois anos mantém escolas de futebol para jovens palestinos e israelenses.
Em Cabul, capital do Afeganistão, desde 2003 o técnico alemão Holger Obermann já ensinou o jogo, antes proibido pelos talibãs, para mais de 4 mil jovens e ajudou a formar 40 treinadores de futebol. O projeto, entretanto, não se restringe a regiões de crise.
Brasil, o país do futebol
No Brasil, é claro, tal projeto não poderia ficar de fora. O programa de futebol Mais Esporte, mantido pela prefeitura paulistana, trabalha em conjunto com o StreetFootballWorld. Ambos pretendem democratizar o futebol de rua possibilitando o desenvolvimento integral das crianças e dos adolescentes.
Como parte da parceria, o Mais Esporte recebeu do projeto alemão uma doação de materiais esportivos no valor de 20 mil reais. Foram 300 jogos de camisas, calções e chuteiras, além de bolas de futebol.
Entendendo o processo
Atualmente mais de 150 mil jovens, tanto meninos quanto meninas, estão sendo atendidos por cerca de 50 projetos espalhados pelo mundo. "O futebol é um meio para promover o diálogo entre as pessoas ou para chamar a atenção sobre uma determinada situação", esclareceu Jürgen Griesberck, dirigente do projeto.
Um exemplo são as campanhas de saúde. É muito mais eficaz juntar os jovens para uma pelada de futebol e aí aproveitar o momento para fazer uma ampla divulgação sobre o perigo da aids e distribuir preservativos do que unir o mesmo público para uma palestra sobre o assunto. Muitos simplesmente ignorariam o convite. Já com a perspectiva de jogar uma partida de futebol, a situação é diferente.
O projeto, que visa também divulgar o esporte, prevê um campeonato de futebol entre os jovens que estão participando do StreetFootballWorld. O evento será realizado durante a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha. Mais um bom motivo para treinar e fazer parte deste time.