Gauck: um 'conservador liberal de esquerda' a caminho da presidência
17 de março de 2012Na verdade, a principal função pela qual Joachim Gauck tornou-se popular não é mais necessária: a de um ativista dos direitos humanos da ex-Alemanha Oriental. A ditadura contra a qual ele lutou virou história. E, desde que Angela Merkel tornou-se chanceler federal, também não há mais nenhuma urgência em se colocar no poder um representante do leste alemão. Ainda assim, ao que tudo indica, o cargo de presidente passará para suas mãos neste domingo.
Em 1999 Joachim Gauck foi sondado para o cargo pela primeira vez. Naquela época, ele era conhecido como ministro do ainda jovem governo de Gerhard Schröder. Até então, durante nove anos ele havia sido o "comissário federal para os documentos do serviço secreto" da antiga Alemanha Oriental e, portanto, chefe de um gabinete que era mais conhecido como "Secretaria Gauck". Ele chegou a ter 2,7 mil pessoas sob seu comando, as quais analisavam os extensos arquivos da Stasi, concederam a centenas de milhares de cidadãos acesso a seus arquivos pessoais no antigo órgão de segurança alemão e verificaram possíveis complicações junto à Stasi de candidatos a cargos no serviço público.
Independente de partido
O presidente da CDU, Edmund Stoiber, queria ter lançado Gauck como candidato à presidência em 1999 contra Johannes Rau, social-democrata que também contava com apoio dos Verdes. Mas Gauck recusou. Sem reunir uma maioria, ele teria poucas chances. O mesmo aconteceu em 2010, quando indicado de surpresa pelos social-democratas e verdes.
Em 2010 Gauck já não era mais tão conhecido. Ele havia passado a chefia da "Secretaria Gauck" para as mãos de Marianne Bithler, dos Verdes, dez anos antes. Ele também tentou carreira como apresentador de um programa de TV, com limitado sucesso, e em 2003 tornou-se presidente da associação "Contra o esquecimento – pela democracia", que luta contra o racismo e pela elucidação de fatos ocorridos duas ditaduras alemãs. No entanto, Gauck permaneceu todos os anos como disputado palestrante e entrevistado.
Merkel não terá problemas com ele
Ironicamente, Angela Merkel terá um presidente que, em princípio ela não queria, mas com quem provavelmente se entenderá melhor com ela do que com os social-democratas e verdes, que já o lançaram por duas vezes. Gauck considera a si mesmo como um "conservador liberal de esquerda". Liberal para ele tem a ver com liberdade, o que não se ajusta muito facilmente com o conceito da esquerda.
Gauck chamou de "indescritivelmente estúpido" o movimento "Occupy-Wall-Street", que pede mais controle sobre os bancos. Ele chamou de "corajoso" Thilo Sarrazin, que causou furor em 2010 com seu livro sobre a integração de imigrantes muçulmanos. Na verdade, ele procurou distanciar-se já naquela época da controversa tese de Sarrazin: seu elogio foi à violação do politicamente correto. Faz parte do conceito de liberdade de Gauck recusar qualquer tipo de proibição de pensamento.
Influência do pai
Na infãncia, Gauck foi marcado pelo envio de seu pai à força para um campo de trabalho stalinista em 1951. Na época ele tinha 11 anos. Sua aspiração à carreira de jornalista lhe foi negada na Alemanha comunista, então ele estudou teologia protestante. Na Igreja ele encontrou certa liberdade, e a usou tão bem que, apesar de ter sido alvo constante da Stasi, nunca foi preso. Em um dos muitos documentos da Stati sobre ele, está escrito tratar-se de "um incorrigível anticomunista, que vê o socialismo/comunismo apenas como fenômeno passageiro e que abusa de sua posição de maneira hostil".
Como pastor em Rostock, Gauck sempre chamava a atenção por seus discursos críticos. Em 1989 ele presidiu os serviços religiosos semanais para a transformação da sociedade, que deram origem a manifestações de massa em Rostock. Nas primeiras eleições parlamentares livres, em 1990, ele chegou à Câmara como deputado dos movimentos sociais que formaram a Aliança 90.
Outros ativistas dos direitos civis da ex-Alemanha Oriental acusaram e ainda acusam Gauck de ter mais se esgueirado do que se oposto. Mas isso também já não terá mais importância quando ele assumir a presidência, quase certa, neste domingo.
Autor: Peter Stützle (ff)
Revisão: Mariana Santos