Heróis desconhecidos ajudaram judeus durante o nazismo
19 de maio de 2012O empresário Oskar Schindler, que salvou mais de 1.200 judeus na Polônia, viveu solitário depois da Segunda Guerra, empobrecido em um pequeno apartamento perto da estação central de Frankfurt. Pouca gente sabia de suas ações corajosas durante a guerra. Em vida, ele nem ao menos sonhava que sua história seria contada, décadas mais tarde, e que ele se tornaria o protagonista de um filme norte-americano.
Durante o regime nazista, Schindler não foi o único a ajudar os judeus. Outros também se arriscaram a auxiliar os perseguidos pelo regime nazista. São heróis desconhecidos, cujas histórias vão, aos poucos, sendo reveladas. A exposição Gegen den Strom (Contra a corrente), em cartaz no Museu Judaico de Frankfurt até 14 de outubro de 2012, dedica-se a alguns desses personagens.
Um deles é a mãe de Nicole Jussek-Sutton. Falecida em 1996, ela pouco falava sobre o que passou durante a guerra, mas manteve o sentimento de estar sendo perseguida até seus últimos dias de vida. "Minha mãe sobreviveu escondida em uma casa afastada. Embora ela corresse risco não somente por ser judia, mas também por causa de seu trabalho de resistência", conta Nicole.
Gestos de solidariedade
As pessoas que se empenhavam em ajudar os judeus eram cidadãos comuns, que auxiliavam por amor ao próximo, por amizade ou por não serem coniventes com a política nazista. Ou simplesmente porque se solidarizavam com as vítimas e, de outra forma, não conseguiriam dormir em paz. Eles ajudavam com pequenos ou grandes gestos de solidariedade: alimentos, documentos falsos e esconderijos – até mesmo salvando vítimas da deportação ou de campos de concentração.
Havia o zelador que tentava suavizar a dor dos moradores de um asilo de judeus. Ou o casal de Frankfurt, que escondeu em seu sótão um jovem refugiado do campo de concentração de Majdanek. Ou ainda um padre que servia de ajudante para fugas. E até mesmo um funcionário da polícia, que manipulava os registros policiais, possibilitando a sobrevivência de vários judeus em Frankfurt.
Pessoas conhecidas também ajudaram
A empresa Leitz, de Wetzlar, – uma das primeiras fabricantes de instrumentos óticos e câmeras – empregou propositalmente funcionários judeus depois de 1933, dando-lhes a possibilidade de obter uma formação profissional, que mais tarde lhes seria útil para construir uma nova vida depois da emigração. A Leitz empregou ainda 600 funcionárias ucranianas antes vítimas de trabalho forçado. Diariamente, o dono da empresa e sua filha controlavam se as mulheres estavam vivendo em condições dignas e, sobretudo, se tinham o suficiente para comer. A filha de Leitz acabou ficando presa durante meses em Frankfurt por isso e por causa de outras ações de apoio a perseguidos.
Já o cônsul britânico Robert T. Smallbones abrigou perseguidos em seu consulado durante o pogrom do 9 de novembro de 1938, tendo ajudado os mesmos a fugir a seguir. Com o apoio de Smallbones, 48 mil judeus puderam receber um visto de trânsito para o Reino Unido e, a partir dali, seguir viagem.
Tabu e polêmica
Durante muito tempo, nada se sabia a respeito dessa "resistência pela salvação" praticada por cidadãos comuns. Nos primeiros anos do pós-guerra, o tema "ajuda a judeus perseguidos" permaneceu um tabu na Alemanha. "No país, comparando-se a outras nações europeias, foram muito poucos os que realmente ajudaram", diz Raphael Gross, diretor do Museu Judaico de Frankfurt. E eles acabaram não sendo reconhecidos como mereciam, completa Gross.
"Para a sociedade alemã do pós-guerra, isso era uma provocação. A resistência através da salvação praticada por uns poucos explicitava a inércia da maioria, mostrando que a ajuda também é possível mesmo sob as mais difíceis condições políticas", diz Gross. Os ajudantes e salvadores também não ficaram propagando suas ações, que haviam sido, para eles, algo óbvio de ser feito. Ou se calavam porque o clima político da então recém-fundada Alemanha Ocidental não lhes permitia falar sobre o passado.
Discriminados e ignorados
Por muito tempo, os adversários do regime nazista foram considerados "traidores da pátria". Mais tarde, discutiu-se muito a respeito do que seria considerado "resistência", em um debate concentrado principalmente na resistência militar. Embora esta também tenha sido mínima, alerta o historiador Wolfram Wette. "A Wehrmacht tinha aproximadamente 18 milhões de soldados. O número dos salvadores até hoje conhecidos não passou de cem", compara.
As homenagens e pesquisas sobre o assunto só surgiram mais tarde. "Foi um processo árduo", diz Heike Drummer, curadora da atual exposição em Frankfurt. Segundo ela, é difícil encontrar fontes e não há até hoje nenhum arquivo central sobre o assunto. "Aqueles que agiram nesse sentido fizeram de tudo para não deixar rastros, pois corriam perigo de vida", salienta Gross.
Hoje, o Memorial da Resistência Alemã, em Berlim, exibe uma mostra sobre esses heróis discretos e suas ações corajosas. O Museu Judaico de Frankfurt contribui agora com exemplos de testemunhos. O Memorial do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, já homenageou 22 mil "justos entre as nações" – pessoas de todo o mundo, que tiveram coragem de ajudar judeus perseguidos. Um deles é Oskar Schindler.
Autora: Cornelia Rabitz (sv)
Revisão: Luisa Frey