Holandês sucede Jean-Claude Juncker na presidência do Eurogrupo
21 de janeiro de 2013Por muito tempo cogitou-se o nome do ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, como sucessor do luxemburguês Jean-Claude Juncker na liderança do Eurogrupo, nome dado ao grupo dos ministros das Finanças da zona do euro.
No entanto, quando o socialista François Hollande assumiu o governo da França, no primeiro semestre do ano passado, logo se opôs ao nome de Schäuble, conhecido como defensor intransigente de uma política de austeridade.
O ministro francês das Finanças, Pierre Moscovici, não foi aceito pelos países do norte, defensores da estabilidade. Em meio ao impasse, Schäuble chegou a fazer piada, afirmando que a situação era boa para os jornalistas, que "assim tinham algo com que se ocupar".
Defensor da política de austeridade
A questão, porém, foi enfim resolvida. Nesta segunda-feira (21/01), o ministro holandês das Finanças, Jeroen Dijsselbloem, se apresentou em Bruxelas como candidato único ao cargo. Nascido em 1966, Dijsselbloem certamente não traz na bagagem uma ampla experiência para o cargo.
Ex-assistente do Partido Trabalhista holandês no Parlamento Europeu, ele tem também no currículo uma estadia de pesquisa na Universidade de Cork, na Irlanda. O cargo de ministro das Finanças da Holanda ele ocupa somente desde o segundo semestre do ano passado. Diante de tudo isso, seus colegas europeus ainda não conseguiram formar uma opinião sobre ele.
Dijsselbloem já declarou claramente sua opção por uma linha dura de consolidação dos orçamentos dos países da zona do euro. Em sua primeira aparição como ministro holandês numa reunião em Bruxelas, em novembro passado, afirmou: "Na Holanda, temos que economizar muito, e não só na Holanda, mas em quase todos os outros países europeus. Seria imcompreensível se isso não funcionasse em Bruxelas".
Comentários irônicos em quatro línguas
Para Dijsselbloem será muito difícil, contudo, sair da sombra de seu antecessor, pois Juncker é uma verdadeira lenda europeia. Principalmente seus comentários são inesquecíveis. Em alguns casos era impossível saber se eram irônicos ou sérios, como por exemplo: "Os alemães, quando pensam que não estão sendo ouvidos, fazem observações inadmissíveis sobre o tamanho do meu país".
Muitos de seus comentários – em alemão, francês, inglês ou mesmo em luxemburguês – davam uma certa leveza às longas reuniões dos representantes da zona do euro, que se estendiam noite adentro. Por ocasião da falta temporária de som durante uma entrevista para a imprensa, Juncker soltou a frase: "Não existo mais. Nunca existi. E vou ressuscitar. Estou aqui de novo!". Muita gente diz que ele deixará saudades principalmente por causa dessas intervenções espirituosas.
Contra a saída da Grécia
No entanto, houve poucos motivos para rir nos últimos tempos, já que a crise do euro vem mantendo todos sob tensão. Neste contexto, Juncker precisou gerenciar uma situação complexa: por um lado, pressionou os países mais frágeis a implementar uma política de austeridade e reformas. Sobre os números falsificados do orçamento grego, disse certa vez: "Agora o jogo acabou!". Entretanto, sempre mostrou compreensão frente aos encargos que pesam sobre as populações.
E quando as tentativas de expulsar a Grécia da zona do euro foram ficando mais fortes, Juncker se opôs com veemência: "Não penso nem por um segundo na possibilidade de a Grécia deixar a zona do euro", declarou. Sua postura foi sempre a de exigir a solidariedade dos países de economia mais estável, mas sem intimidá-los com reivindicações exageradas. Dessa maneira ele manobrou de um lado para o outro durante a polêmica discussão sobre a coletivização do endividamento dos países da zona do euro.
Sua resposta sobre o tamanho dos riscos para o contribuinte alemão foi típica: "Quem não corre risco algum, corre o maior de todos os riscos". Mas ao menos uma vez ele se enganou redondamente. Em novembro de 2010, Juncker estava certo de que, "no caso da Grécia, não vai haver, até meados de 2013, nenhuma participação de credores privados" na renegociação da dívida. Poucos meses depois, era obrigado a declarar: "haverá participação de credores privados".
Ouvir e entender os outros
Segundo a avaliação geral, Juncker executou bem suas tarefas. Poucas críticas foram feitas à sua atuação à frente do Eurogrupo. E quando eram feitas, não eram contra a pessoa. Além disso, ele sempre se mostrou disposto a chegar a um acordo.
O deputado europeu independente Hans-Peter Martin conclamou Juncker certa vez, com entusiasmo, durante uma sessão de comissão parlamentar, a se tornar o próximo presidente da Comissão Europeia. Sugestão à qual Juncker reagiu com um yes, deixando em aberto com um sorriso se estava falando sério ou não.
Na sessão de despedida, ele não quis fazer um balanço de seus anos à frente do Eurogrupo nem dar conselhos a seu sucessor. Mas, por fim, acabou resumindo que a Europa é uma estrutura complicada, na qual a maioria reluta em compreender o ponto de vista dos outros. E, segundo Juncker, o aprendizado que ele leva deste tempo é: "Entender as dificuldades dos outros é essencial para que as coisas fluam na Europa. E esse é meu conselho: é preciso amar os outros para se dar bem".
Depois de décadas de atuação política, Juncker, do alto de seus 58 anos, afirmou há poucos dias que o poder perdeu para ele "qualquer dimensão erótica". Como primeiro-ministro de Luxemburgo, sem ocupar a presidência do Eurogrupo, ele afirma que poderá se posicionar com muito mais liberdade frente a questões da política europeia. "Vocês ainda vão ouvir o que tenho a dizer", alertou.
Autor: Christoph Hasselbach (sv)
Revisão: Alexandre Schossler