Papa na Turquia
1 de dezembro de 2006"Um pedaço do meu coração fica em Istambul", agradeceu o sumo pontífice da Igreja Católica ao encerrar sua visita à Turquia, nesta sexta-feira (01/12). Sua visita ao país entusiasmou a população e a imprensa turcas.
Bento 16, que havia sido duramente criticado, justamente na Turquia, por suas declarações sobre a violência e o islã, em Regensburg em setembro último, conseguiu angariar, através de seus gestos e suas palavras, "grande simpatia" junto ao público turco, comentou o Hürriyet, maior jornal turco.
Sua oração ao lado do grande mufti [chefe religioso muçulmano] de Istambul, Mustafa Cagrici, na Mesquita Azul da cidade, foi celebrada pela imprensa como um gesto histórico de reconciliação e intitulada como "A Paz de Istambul" pelo jornal liberal Milliyet.
A oração na Mesquita Azul
Segundo informações do grande mufti de Istambul, a oração na Mesquita Azul foi combinada com o Vaticano. A Mesquita Azul é o mais importante templo muçulmano da cidade no Estreito de Bósforo e se localiza em frente à antiga Igreja de Santa Sofia, hoje um museu.
"Eu havia terminado minha oração, mas o papa devia estar tão contente que prolongou a sua", comentou Mustafa Cagrici.
Muitos turcos temiam que o papa viesse a rezar na Santa Sofia, mas para alívio de muitos "não na Hagia Sofia, mas foi na Mesquita Azul que ele rezou", como informou a manchete do jornal Hürriyet.
Embora não tão difundida como as declarações de Regensburg, a oração do papa também foi notícia na imprensa árabe. Alguns jornais publicaram, entretanto, a foto do papa rezando na Mesquita Azul. O diário de circulação internacional Al-Sharq Al-Awsat estampou como manchete: "O papa voltou seu rosto para Meca".
"História foi escrita em Istambul"
O jornal moderado islâmico Yeni Safak classificou como um "momento histórico" a cena do papa ao lado do grande mufti em direção a Meca. Até o jornal de Economia Referans levou o assunto à primeira página, descrevendo-o como histórico.
"História foi escrita em Istambul" foi manchete do jornal independente Vatan, que definiu o gesto de Bento 16 como uma "prece de perdão". O retrato do papa com o mufti de Istambul esteve em quase todos os jornais. Somente os jornais radical-islâmicos a esconderam em segundos cadernos sem comentar o assunto.
O colunista ultranacionalista Emin Cölasan salientou no Hürriyet que Bento 16 não perdeu nenhuma oportunidade de conquistar o coração dos turcos. "Se a visita tivesse durado mais um ou dois dias, o papa teria se convertido ao islamismo", comentou Cölasan.
Papas anticismáticos
No encerramento de sua visita de quatro dias à Turquia, o papa celebrou missa na Catedral Católica do Espírito Santo de Istambul, juntamente com o patriarca ortodoxo grego Bartolomeu 1° e o patriarca ortodoxo armênio Mesrob 2°.
O diálogo com o mundo muçulmano e a superação do Grande Cisma, que dividiu as Igrejas cristãs do Ocidente e do Oriente, foram os temas da visita de Bento 16 à Turquia.
Seu antecessor, João Paulo 2°, já havia expressado seu desejo de volta a uma "unidade completa" de ambas as Igrejas, em visita a Istambul 26 anos atrás.
Nesse contexto, o jornal radical-islâmico Milli Gazete estampou a foto de Bento 16 com o patriarca ortodoxo Bartolomeu 1°, desta vez na primeira página, com a manchete: "A Aliança dos Cavaleiros das Cruzadas".