Incentivos da UE contra blockbusters
19 de julho de 2005
A União Européia (UE) criou nos anos 90 um programa, cujos objetivos são incentivar o cinema europeu e protegê-lo da concorrência das produções de massa norte-americanas. Chamado inicialmente Media, depois Media Plus, o programa tem disponível um orçamento de 400 milhões de euros para o período que vai de 2001 a 2005.
O projeto inicial era incentivar a produção de filmes, mas a partir de 1995 também as salas de exibição passaram a receber apoio. Foi quando surgiu a Europa Cinemas, uma união dos cinemas europeus que se dedicam a exibir filmes de arte e pretendem atrair seus freqüentadores unicamente com a exibição de produções européias.
Qualidade e não quantidade
Um exemplo: o cinema Rex, de Bonn, exibiu recentemente a produção francesa L'Equipier, um filme que não passaria na maior parte dos cinemas por não ser dirigido ao grande público. O Media Plus existe exatamente para evitar que produções como essa acabem no ostracismo.
Por meio do programa, o exibidor e dono do Rex, Dieter Hertel, recebe dinheiro da UE para que o filme francês ocupe horários na sua programação. Hertel preenche o pré-requisito exigido: mais de um terço das produções em cartaz deve ter origem européia.
À parte os incentivos da UE, Hertel assegura colocar a qualidade do filme em primeiro plano. Como conseqüência, a quantidade de produções européias exibidas por ele é alta, já que a qualidade dos filmes europeus é, em princípio, maior do que a dos filmes americanos.
Convencer os jovens
O cinema Rex faz parte da rede Europas Cinemas desde 2002. A rede reúne 500 cinemas em 260 cidades européias. Ainda que filmes europeus não proporcionem grandes lucros, cada vez mais exibidores se juntam à rede.
É o que assegura Cornelia Hammelmann, a responsável pela seleção das salas e dos filmes alemães que receberão o apoio do programa europeu. Para ela, muitos cinemas dão preferência a filmes europeus com baixo potencial de atrair público por causa do incentivo oficial.
Existe já um público para filmes europeus, diz Hammelmann, e ele varia de acordo com os assuntos abordados e a nacionalidade. Para ela, o mais importante é atingir o público jovem, e mostrar a ele que há outras opções além das produções americanas.
Futuro difícil
Os cinemas recebem até 50 mil euros por ano do programa. Um terço desse valor é destinado a financiar ações voltadas para o público jovem, como por exemplo seções especiais para escolas. Para Hammelmann, os jovens devem ser apresentados a esse tipo de filme para que reconheçam o valor do cinema europeu.
O dono do cinema Rex estaria numa situação difícil sem os subsídios da UE. Seus rendimentos caíram 12% no ano passado. Até 2004, o dinheiro das subvenções foi gasto principalmente com publicidade ou material de divulgação, como folders e internet. "Mas agora passa a ser uma questão de sobrevivência", afirma Hertel. A esperança de que os cinemas europeus de arte possam sobreviver sem as subvenções da UE, como gostaria Cornelia Hammelmann, ainda está longe de se realizar.