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Iraque a caminho da cisão?

(rr)29 de agosto de 2005

Imprensa alemã critica modo apressado como foi assinada constituição iraquiana, alertando para perigo que a desconsideração de exigências sunitas pode trazer e para situação delicada dos EUA.

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De um dilema para outroFoto: AP

Frankfurter Allgemeine Zeitung: "Em primeiro lugar, a elaboração de uma constituição necessita de muito tempo; isso vale também perante condições menos complicadas que as iraquianas. Mas o Iraque não tem muito tempo. O país precisa depressa de uma constituição para limitar a força de ação de rebeldes e terroristas. Para estes, não é conveniente que a constituição se materialize. Pois ela cobriria o vácuo político do qual insurgentes tiram proveito.

Além disso, ela significaria o começo da retirada das tropas de ocupação. Diante da enorme pressão, a comissão constitucional pura e simplesmente escondeu as diferenças fundamentais da fragmentada sociedade iraquiana debaixo do tapete. No entanto, uma constituição que não seja aprovada pelos três grandes grupos étnicos poderia se revelar uma verdadeira bomba-relógio e lançar o país em uma guerra civil".

Neue Zürcher Zeitung: "Enquanto os americanos e o governo eleito iraquiano continuarem interpretando qualquer progresso na reconstrução política do Iraque como uma derrota decisiva para a guerrilha, tanto mais ela perdurará: quanto mais essa resistência destrutiva contra o projeto americano de um novo Iraque perdurar, mais frágil parecerá a legitimidade do novo governo aos olhos dos iraquianos.

Foi exatamente por esse motivo que o presidente Bush pleiteou um acordo na semana passada ao telefone com Bagdá e nomeou seu embaixador para gerenciar a crise. No entanto, isso prejudica afirmações da comissão constitucional de que a nova ordem do Estado seria uma obra puramente iraquiana".

Süddeutsche Zeitung: "Quem estabelece prazos e ultimatos deveria ter ao menos uma idéia do que fazer caso estes expirem sem que seja estabelecido o acordo desejado. Três vezes foi prolongado o prazo para a constituição, sempre na esperança de que os sunitas se deixassem convencer. Três vezes isso falhou. O que mostra que os americanos não possuem nenhum plano B, nenhuma idéia do que fazer caso os sunitas continuem a rejeitar o texto. […]

O cálculo do governo Bush era tão claro quanto simples: um acordo quanto à constituição seria o tão esperado sinal de progresso no Iraque, e Washington teria um sucesso concreto para silenciar o coro de protestos nos EUA contra a guerra. No Iraque, isso seria um sinal de estabilização, prova de que, com a ajuda americana, a política, e não a violência, reina no país.

Agora aconteceu o contrário em todos os sentidos: a crítica à política de Bush aumenta. No Iraque, uma nova onda de violência surgirá, caso os sunitas se ausentem do discurso político e caiam nos braços de extremistas e rebeldes. Se isso acontecer, os americanos poderiam estar diante de um fracasso não apenas político, mas também militar."

Tagesspiegel: "Parece extremamente improvável que a nova constituição por um Iraque democrático entre realmente em vigor. De acordo com a constituição provisória, deveria ser eleita uma nova Assembléia Nacional, caso o projeto de constituição seja rejeitado pelo povo. Muitos sunitas reconhecem aí uma chance. Pois perceberam que seu boicote às eleições legislativas de janeiro não passou de um grande erro.

Se, desta vez, eles participarem ativamente das eleições, estarão bem melhor representados na Assembléia Nacional e poderão influenciar muito mais eficientemente o novo processo de elaboração de uma constituição. É exatamente esse cenário que temem os americanos: que novas eleições formem um governo em Bagdá que se submeta ainda menos que o atual aos interesses americanos".

Berliner Zeitung: "A rejeição [dos sunistas à constituição] não é nenhuma surpresa. E os sunistas não são os únicos culpados. Curdos e xiitas redigiram o texto praticamente sozinhos. Houve algumas alterações aqui, outras concessões ali. Mas nem curdos nem xiitas abriram mão de nenhuma de suas exigências. Por exemplo, quanto à federação. A constituição defende o direito de se criarem unidades federais. Como isso deve acontecer, será decidido pelo próximo Parlamento. (…)

Se a constituição for rejeitada – seja devido a xiitas que são contra os planos dos americanos, ou a grupos de mulheres ou a verdadeiros democratas insatisfeitos com o resultado –, a divisão do país não poderá mais ser evitada. E se até hoje revoltas e atos terroristas se concentraram em Bagdá, surge agora a ameaça de guerra civil, pois não há divisões claras entre os grupos étnicos.

Os EUA observam isso. Já que não é possível a retirada completa, eles terão que aceitar essa divisão. Essa seria a menos pior das soluções: um Estado teocrático xiita, um Estado semidemocrático curdo, um território cercado sunita. E o restante das forças americanas entrincheirado como em fortes cercados por índios inimigos".