Um ano de Iraque "autônomo"
28 de junho de 2005DW-WORLD – Há um ano, o presidente norte-americano, George Bush, transferiu no Iraque o poder para o governo de transição. A situação do país melhorou ou piorou neste período?
Halim Al-Hadjadj – As condições de segurança não melhoraram, em certas regiões até pioraram. Do ponto de vista econômico, a situação ainda é crítica, porque muitas empresas ainda não retomaram o trabalho até agora. Muitas estão aguardando uma fase de maior segurança.
O senhor poderia descrever seu cotidiano? Como é viver no Iraque?
Esta é uma pergunta difícil. Ao acordarmos, todos os dias, não sabemos se as ruas vão estar interditadas ou não. Quando marcamos um encontro com alguém, sempre calculamos uma margem de duas horas, pois às vezes precisamos de bem mais tempo até chegar ao ponto de encontro. Muitos compromissos têm que ser desmarcados por causa de congestionamentos ou interdições de ruas. Além do mais, não podemos excluir possíveis atentados.
Todos os dias há notícia de novos atentados à bomba. Isso faz parte do seu dia-a-dia? O senhor já presenciou algo do gênero?
Há mais ou menos três semanas, explodiu uma bomba a trinta metros de mim. Eu nasci de novo. É claro que qualquer um fica aliviado de não ter que passar por uma coisa dessas, mas isso acontece todos os dias.
Em que bairro o senhor trabalha?
Na parte oeste de Bagdá. Passei os últimos anos na zona leste da cidade. Mas como tinha que atravessar a ponte duas vezes ao dia, mudei para o oeste e agora estou morando num bairro nobre da cidade.
Como é o dia-a-dia em Bagdá? Existem restrições no abastecimento da cidade? Como está a população?
Só na semana passada, foram quatro dias sem água. Outro grande problema é a eletricidade. A cada quatro horas, a eletricidade volta por duas horas. Com um calor desses, é insuportável quando o ar condicionado não funciona. O que melhorou foi o fornecimento de alimentos. Pelo menos o que chega é suficiente. Mesmo assim, os alimentos continuam sendo racionados e, há três ou quatro meses, as rações não estão mais sendo distribuídas. Principalmente para a população pobre, a situação é muito difícil.
Como está o clima entre as pessoas? Há otimismo em relação ao futuro?
Há um ano, o otimismo era maior. Na época, eu também pensava que as coisas melhorariam sensivelmente em um ano. Hoje sou mais cético. Há muita gente que não sabe onde isso vai parar. Teme-se que os conflitos continuem.
Até que ponto as tropas norte-americanas estão presentes em Bagdá e qual a atitude da população em relação a elas?
Os soldados ainda estão aí e patrulham as ruas diariamente, inclusive as travessas menores. As pessoas reagem com apatia.
Como se manifesta isso?
Quando tudo começou, em 2003, havia entusiasmo nos primeiros seis meses. As pessoas acenavam para os soldados e até os abordavam para conversar. As crianças subiam nos tanques e podiam vê-los de dentro. Atualmente, a relação está bem pior. Precisamos manter uma distância de pelo menos cem metros das tropas norte-americanas, senão estamos arriscando a vida.
Os iraquianos pensam que estão vivendo numa democracia agora?
Diante das dificuldades momentâneas, pensa-se muito pouco nisso. As pessoas se dão por satisfeitas por estarem livres e poderem expressar suas opiniões, mas – diante dos outros problemas – este é um assunto de importância relativa.
Qual a imagem que o governo iraquiano tem junto à população? Até que ponto se nota sua atuação?
Até agora, o governo não fechou o orçamento. Os políticos recebem salário, mas a grande parte dos órgãos não tem o que fazer. Só que a população não quer um governo que só promete. As pessoas querem ver ação.
E não há nenhuma ação?
Como não! A questão da segurança é a prioridade do momento.
Nestas circunstâncias, dá para fazer negócios no Iraque? Como funciona a vida econômica? Chega mesmo a funcionar?
"De grão em grão, a galinha enche o papo", diz o ditado. É preciso simplesmente arranjar trabalho. A estagnação é a pior coisa que pode nos acontecer. As empresas alemãs têm muita chance aqui. As pessoas continuam construindo casas e precisam de cimento, mas não acham para comprar. Há demanda para cimento alemão, por exemplo. E para muito mais. Peças de reposição para veículos, por exemplo. Nos últimos dois anos, mais de 750 mil veículos alemães chegaram ao país. Isso já mostra o espaço que a indústria de peças tem aqui. Isso também se aplica à indústria de construção civil.
Dr. Halim Al-Hadjadj estudou na Alemanha entre 1959 e 1976. Ele é representante da German Industry and Commerce Limited (GIC Ltd), uma filial da Câmara de Indústria e Comércio Teuto-Árabe (DAIKH) e presidente do Clube Teuto-Iraquiano, em Bagdá.