Visita à frente de batalha
6 de maio de 2007Somente no ano passado, 34 mil civis foram mortos no Iraque, outros 26 mil ficaram feridos. Os EUA, que queriam levar a paz e a democracia ao país, já admitem uma derrota pior do que a que sofreram no Vietnã. Após sofrerem mais de 3 mil baixas, suas tropas no Iraque parecem perdidas no tiroteio.
O historiador e politólogo Dietmar Herz, da Universidade de Erfurt, acaba de fazer algo inusitado para um cientista: ele passou um mês no Iraque, na condição de "jornalista embedded" [sob proteção das tropas dos EUA] para tentar entender a tragédia que ocorre no país.
"Li tudo o que foi escrito sobre o Iraque nos últimos dez anos e acompanho o noticiário, mas só vim a entender in loco o quão complexa é esta guerra, quais são as suas facetas e como os soldados de fato reagem", disse em entrevista à DW-TV.
Durante quatro semanas, ele acompanhou as tropas dos EUA, fez fotos e recolheu impressões. E constatou que há dois mundos paralelos no Iraque. "Um mundo é o dos acampamentos militares norte-americanos, a zona verde [em Bagdá] talvez seja o centro de tudo. Em parte, são camps enormes, verdadeiras cidades com linhas de ônibus próprias. Entre eles circulam os comboios norte-americanos e principalmente os helicópteros. Esse mundo não tem nada a ver com o Iraque", relata.
Onipresença do perigo
Dietmar Herz já visitou muitos países em crise. Em nenhum outro o perigo lhe pareceu tão onipresente como no Iraque. "É difícil para os soldados viver nessa situação. Porque eles não têm um adversário a combater. Na maioria das vezes, não se vê esse adversário. De repente, ocorre uma explosão".
O terror e o medo fazem parte do cotidiano. Somente nas últimas seis semanas, morreram mais de 100 soldados norte-americanos. O número de civis e integrantes das forças de segurança iraquianas mortos foi muito maior.
"Vê-se que esses jovens soldados iraquianos, na maioria muito valentes, sofrem graves ferimentos, porque não têm boa formação nem equipamentos de proteção ou atendimento médico razoáveis. Dói ver isso", conta.
Até mesmo a coleta do lixo ou trabalhos na canalização podem ser mortais no Iraque. Herz diz ter "muita simpatia tanto pelos civis quanto pelos militares que estão dispostos a ajudar o país nessa situação. Isso vale também para a maioria dos soldados norte-americanos. Inclusive oficiais, que muitas vezes me diziam: 'Essa guerra provavelmente foi um erro, o governo em Washington não tem uma estratégia. Mas eu tento fazer o melhor possível para ajudar os iraquianos'".
Dilema iraquiano
Herz diz que o Iraque se encontra diante de um dilema: a situação é ruim com os norte-americanos, mas pode piorar sem eles. Após uma retirada das tropas dos EUA, os combates continuariam com mais violência. Qual seria a solução?
"Os trabalhos de reconstrução precisam ser coordenados. O conflito precisa ser internacionalizado. Mais países precisam participar. Não se trata de uma coisa só dos americanos", afirma Herz.
Nada disso se vislumbra no momento. Depois de quatro semanas no Iraque, Dietmar Herz voltou à Alemanha com expectativas contidas. "Um caminho previsível é que o Iraque afunde numa 'guerra de todos contra todos', como ocorreu na Somália ou em Serra Leoa, caso não mude muita coisa nos próximos tempos. E isso é uma perspectiva muito sombria".