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Juncker: "Europa precisa abrir caminhos para migração legal"

28 de novembro de 2017

Em entrevista à DW, presidente da Comissão Europeia diz que bloco não pode se calar diante dos leilões de migrantes na Líbia e defende ampliação da migração legal para a UE.

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O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em entrevista à DW em Bruxelas
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em entrevista à DW em BruxelasFoto: DW/D.Pundy

Esta semana, chefes de Estado e de governo africanos e europeus discutirão o delicado assunto da migração do continente africano para a Europa durante a 5ª Cúpula UE-África, que acontece esta semana na Costa do Marfim.

Todos os meses, milhares de pessoas tentam chegar à Europa pelo Mar Mediterrâneo. Porém, em conjunto com a Líbia, país de trânsito, e os países de origem dos imigrantes ilegais, a UE está tentando fechar essa arriscada rota.

Antes da cúpula em Abidjan, o diretor do estúdio da DW em Bruxelas, Max Hofmann, conversou com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. O político cristão-democrata foi primeiro-ministro de Luxemburgo entre 1995 e 2013 e presidiu o Eurogrupo [reunião mensal dos ministros das Finanças da zona do euro] também até 2013.

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DW: Na Líbia, pessoas estão sendo vendidas como escravas. A Europa não deveria fazer mais para impedir isso?

Jean-Claude Juncker: A Europa não pode ficar calada diante desses problemas absurdos que têm sua origem em outro século. A África conhece bem o problema da escravidão. Estou horrorizado com as informações que me chegam do continente africano.

Conhecemos o problema da Líbia. A Líbia não é um Estado como outro qualquer. E é impensável e inaceitável que a Europa feche seus olhos diante desse drama, que é um drama cotidiano para muitas pessoas – crianças, mulheres e homens – na Líbia. Já durante uma reunião anterior do Conselho Europeu, eu quis que concentrássemos todas as nossas atenções nesse problema. Não consigo dormir tranquilo pensando no que está acontecendo com aquelas pessoas que foram para a Líbia em busca de uma vida melhor e acabaram encontrando o inferno.

Resgate de 147 imigrantes ilegais em junho de 2017 no litoral de Zawiyah, 45 km a oeste da capital, Trípoli
Guarda costeira líbia resgata 147 imigrantes ilegais em junhoFoto: Getty Images/AFP/T. Jawashi

Sabia-se que a situação na Líbia era muito difícil, mas o senhor não ficou chocado diante da extensão do problema, de pessoas sendo vendidas como escravos?

Sim, fiquei muito chocado. Até dois meses atrás, eu não sabia que o problema tinha essa dimensão. Tornou-se um fenômeno constante e urgente. Apesar de a Europa ter relações regulares com a Líbia, não podemos nos calar – e não vamos nos calar.

Mas essa situação também não é um resultado direto do reforço dos controles no Mar Mediterrâneo, que tornam mais difícil chegar à Europa?

Os controles foram melhorados. Isso foi necessário. Mas o fato de existir um número crescente de migrantes na Líbia que não consegue mais chegar à Europa não é motivo para estuprar, matar e roubar pessoas que estão em campos que se assemelham mais a prisões que a campos de refugiados.

Não deveríamos estar buscando caminhos legais para as pessoas migrarem para a Europa, com o objetivo de abrandar esses problemas na Líbia?

Desde 2014, desde a campanha eleitoral para as legislativas europeias e também depois, durante meu discurso diante do Parlamento Europeu, eu sempre argumentei em favor da migração legal. Acredito que estaremos perdidos se não oferecermos caminhos legais de imigração para a Europa e para a migração dentro da Europa.

Se aqueles que vêm para cá – que são, de maneira geral, os mais pobres e necessitados – não podem mais entrar na casa Europa pela porta da frente, eles continuarão procurando meios de entrar pela porta dos fundos. Por isso, precisamos de caminhos legais, e a Comissão Europeia já fez sugestões nesse sentido. A Europa precisará, claramente, de imigrantes nas próximas décadas. Por esse motivo, precisamos possibilitar caminhos legais para aqueles que podem e querem vir.

Por que isso não funciona? Por que há tanta resistência?

Chamamos os países da União Europeia à responsabilidade: vamos ver o que os países-membros vão fazer. Os países-membros nem sempre seguem as sugestões da Comissão. Em 2001, a Comissão propôs um sistema para a proteção das fronteiras externas [da UE] que foi recusado pelos países, que depois passaram a reivindicá-lo. Agora existe um controle comum das fronteiras externas.

Precisamos deixar que os líderes que governam os países-membros pensem como querem solucionar os grandes desafios da nossa época. E a imigração é um grande desafio do nosso tempo. Precisamos não apenas preparar o futuro, mas já deveríamos ter preparado ontem o presente.

O medo da imigração e o temor dos populistas estão matando o bom senso dos países-membros?

Os populistas, em si, são perigosos. Mas será ainda mais perigoso se os partidos tradicionais, clássicos, adotarem as suas propostas prejudiciais. Partidos tradicionais que imitam os populistas já é um fenômeno reconhecível em alguns Estados-membros [da UE]. Mas não se pode ter medo dos populistas – é preciso gostar daqueles que os combatem.

Isso é o que deveria acontecer, mas não é o que acontece. O medo calou o bom senso?

De modo algum: há as propostas da Comissão Europeia, também aprovadas pelo Parlamento. Agora cabe aos países-membros seguir o caminho da sensatez.

O senhor pediu mais solidariedade com a África. Essa solidariedade é mais do que apenas financeira?

Sim, é uma solidariedade que precisa englobar todas as áreas da vida internacional. A África precisa tomar consciência de que a Europa não busca se distanciar das ambições gerais da África. O continente africano não é um continente que vai aparecer nos nossos livros de história só amanhã. A África sempre foi parte da nossa história, mesmo que alguns europeus não queiram enxergar isso.