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Ler ou não ler, eis a questão

Monika Hülsken-Stobbe (ms)28 de julho de 2004

A leitura está fora de moda no mundo moderno? Muitos, por falta de experiência, não sabem o que estão perdendo. Mas quem já descobriu o prazer da leitura sempre vai se interessar por um bom livro.

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Livro, sempre um bom companheiroFoto: Illuscope

O setor livreiro da Alemanha lamenta a queda no consumo de livros no país. A população está lendo cada vez menos e a situação não é diferente em outros países, como nos Estados Unidos, por exemplo, onde menos de 50% das pessoas se dedicam à leitura de romances. A pesquisa revelou ainda que apenas 4% dos entrevistados têm interesse em ler algum drama.

Thomas Anz, professor de Psicologia da Universidade de Marburg, garante que a leitura é um prazer. Ele tem autoridade para falar sobre o assunto. Autor de um livro que registra um estudo sobre a psicologia da leitura, Anz afirma que ler envolve "o prazer de se desligar do mundo", de se deixar levar por um estado de transe do qual se pode voltar à realidade a qualquer momento. Ler remete ao prazer de se envolver com emoções.

Buch auf dem Lande
Livro é diversão

A leitura é também a descoberta de afinidades intelectuais. É como o prazer de jogar, mas que neste caso se expressa através da relação que o leitor estabelece com o autor. Inclusive escrever um livro está diretamente relacionado à vontade do autor de "jogar" com seus leitores. No gênero policial isto é bem latente. O autor sempre tenta impedir que o leitor descubra o criminoso antes do final da leitura.

Criando hábito

Se a leitura é tão prazerosa, por que as pessoas lêem tão pouco, apesar do marketing do setor livreiro? "Como os jogos, a leitura precisa ser treinada", avalia o psicólogo. Assim como no esporte, quanto mais o indivíduo praticar a leitura, mais familiarizado estará com os livros. "Muitos desistem na fase de treinamento e não adquirem o verdadeiro prazer pela leitura."

Kanzler Schröder mit dem Buch "20 Punkte für Beschäftigung und Wachstum"
Sem tempo para a leitura?Foto: AP

O hábito da leitura implica também esquecer temporariamente o cotidiano. É preciso ter tempo para se dedicar à leitura. "Na atribulada vida moderna, este tempo simplesmente não existe", atesta Anz.

Tempos diferentes

O fato de poucas pessoas lerem não é nenhuma tragédia. O significado da leitura para uma sociedade está intrinsecamente relacionado com os valores sociais. No século 18, a leitura na Europa era considerada um vício e um hábito contrário aos bons costumes.

Naquela época, apenas 10% da população sabia ler. O conhecimento e a cultura eram transmitidos basicamente pelo teatro. "Na cultura ocidental moderna, a leitura é tida como imprescindível", resume Anz. Os tempos são outros.

Com a expansão da informática, é raro que alguém leia um texto literário pela internet. Por outro lado, muitos internautas aproveitam este poderoso veículo de comunicação para comprar livros. A livraria online alemã Amazon.de foi pioneira neste tipo de negócio. O projeto Gutenberg é outra boa referência. Há mais de dez anos, este site oferece clássicos da literatura alemã. São mais de 15 mil obras.

É preciso paciência

Harry-Potter-Fans am Kieler Hauptbahnhof vor einer historischen Dampflok
Crianças lendo as aventuras de Harry PotterFoto: AP

Seria este o caminho para a retomada do prazer pela leitura na sociedade? O professor Anz analisa a situação com tranqüilidade. "Sempre haverá fases em que se lê mais ou menos." O desejo pela leitura virá com certeza, mesmo que Harry Potter tenha de assumir esta missão em seu próximo livro.

Vale lembrar que a autora J.K. Rowling recebeu até o título de doutora honoris causa da Universidade de Edimburgo por ter conseguido, através do relato das aventuras do mago adolescente, que os jovens considerem a leitura algo muito legal.