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Maduro inicia manobras militares em meio à luta de poder

Evan Romero-Castillo pv
11 de fevereiro de 2019

Com os exercícios, Caracas quer demonstrar poderio das Forças Armadas venezuelanas e união entre Exército e governo. Mas quem é o alvo a ser impressionado: os EUA, a Colômbia ou a própria população?

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Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebe explicações sobre um míssil durante manobras militares em Charallave
Durante manobras militares, Nicolás Maduro recebe explicações sobre um míssilFoto: Reuters/Miraflores Palace

As forças venezuelanas iniciaram neste domingo (10/02) exercícios militares abrangentes que estão planejados para durarem até a próxima sexta-feira. Numa cerimônia nos arredores de Caracas, o presidente Nicolás Maduro voltou a atacar o governo americano e citou investimentos militares.

"Que Donald Trump não nos ameace. Fora, Donald Trump, da Venezuela, fora as suas ameaças, aqui há Forças Armadas e aqui há povo para defender a honra, a dignidade e o decoro de uma pátria que luta há mais de 200 anos", disse. 

No seu discurso, o líder chavista anunciou que aprovará os investimentos necessários para que a Venezuela possua um sistema de defesa antiaérea e antimíssil. "Para tornar os nossos lugares e povoações locais inexpugnáveis, inexpugnáveis por ar. Por terra não se podem meter porque aqui estão os soldados de Bolívar que fariam pagar caro ao império americano qualquer ousadia de tocar o solo sagrado da pátria venezuelana", afirmou.

Quando anunciou os exercícios militares, em 27 de janeiro, Maduro classificou os cinco dias de treinamentos de "as manobras mais importantes da história da Venezuela".

Na ocasião, Maduro acusou o governo da Colômbia de querer incitar uma divisão das Forças Armadas venezuelanas. Ao mesmo tempo acusou os EUA de planejarem uma invasão na Venezuela para, em conjunto com a Colômbia, colocar no poder o líder da oposição, Juan Guaidó. O presidente eleito da Assembleia Nacional se declarou presidente interino do país em 23 de janeiro.

O segundo mandato de Maduro (2019-2025) é considerado inconstitucional pela maioria dos países ocidentais devido à controversa eleição presidencial de 20 de maio de 2018. Enquanto isso, cada vez mais países têm reconhecido Guaidó como presidente de transição legítimo.

Maduro, por sua vez, alega ser alvo de um "golpe de Estado imperialista" e pediu às Forças Armadas que o apoiem sob o argumento de manter a segurança nacional. As manobras militares em curso visam demonstrar o poder de combate das Forças Armadas venezuelanas. No entanto, na atual crise, a questão mais urgente para Maduro talvez não seja necessariamente o poder de combate das tropas.

"Uma coisa é manter o Exército venezuelano sob controle com a ajuda da inteligência cubana", diz o especialista em América Latina Evan Ellis, do Instituto de Estudos Estratégicos da Escola de Guerra do Exército dos EUA (Usawc). "Outra, bem diferente, é esperar que esses soldados obedeçam à ordem de combater tropas americanas", afirma o especialista.

A jornalista venezuelana Sebastiana Barráez tem opinião semelhante. "Maduro e seu entorno não têm a necessária liderança e autoridade moral, portanto não podem esperar obediência absoluta. Maduro só pode contar mesmo com a milícia bolivariana. Só que essa é composta apenas por civis não treinados", afirma.

De acordo com a Rede de Segurança e Defesa da América Latina (Resdal), a milícia bolivariana contava com 365.046 membros até dois anos atrás. Eles recebem suas ordens diretamente do presidente da Venezuela – e para a maioria deles este se chama Nicolás Maduro e não Juan Guaidó.

As Forças Armadas venezuelanas contavam com 365.315 militares e um orçamento de 8,5 bilhões de dólares, segundo levantamento de 2016 da Resdal. No entanto, esses dados devem ser tratados com cautela e variam muito dependendo da fonte.

Por exemplo, o site GlobalFirePower relaciona apenas 123 mil militares e um orçamento de 4 bilhões de dólares para as Forças Armadas venezuelanas. Esses números colocam a Venezuela em 46º posição na listagem da GlobalFirePower, que compara o poderio militar de um total de 136 países em todo o mundo. Os Estados Unidos lideram o ranking.

As forças de Maduro teriam chances de defender o país contra uma invasão de tropas americanas? Muito improvável, segundo o professor de ciência política Victor Mijares, da Universidad de los Andes, na Colômbia. "O Exército venezuelano tem pouca experiência de combate e consegue somente superar civis desarmados", afirma.

Ele menciona a recente derrota sofrida por soldados venezuelanos na fronteira com a Colômbia, onde enfrentaram os guerrilheiros do Exército de Libertação Nacional (ELN). Como resultado, o grupo guerrilheiro colombiano conseguiu assumir o controle de algumas minas de ouro no sul da Venezuela.

Militares da Guarda Nacional da Venezuela atiram contra manifestantes opositores ao regime de Maduro em julho de 2017
Em 2017, a Guarda Nacional da Venezuela reprimiu manifestações de oposicionistasFoto: Getty Images/AFP/C. Becerra

Por outro lado, de acordo com um relatório do instituto de pesquisas sueco Sipri, a Venezuela comprou grandes quantidades de armas e veículos de guerra durante os governos de Hugo Chávez e Maduro.

"A Venezuela tem entre cinco e sete mil Manpads, sistemas portáteis de defesa aérea que podem ser disparados por um único soldado. Além disso, em 2009 e 2010, as Forças Armadas receberam cerca de dois mil mísseis terra-ar russos Igla-S/AS-24", afirmou Mijares. Esses mísseis podem derrubar helicópteros ou jatos de combate.

China, Rússia e também os EUA são os principais fornecedores do arsenal venezuelano. Em 2015, o governo da Venezuela comprou 16 helicópteros leves TH28/480 dos Estados Unidos. No papel, as forças venezuelanas têm equipamentos relativamente sofisticados, segundo Mijares. "Mas eles ainda não foram testados, o que levanta dúvidas sobre o estado desses sistemas."

De acordo com o cientista político, o moral duvidoso das tropas e a condição incerta do equipamento sugerem outro propósito dos exercícios militares. "Não acho que as manobras de Maduro estejam tentando impedir Trump de fazer alguma coisa, mas demonstrar união entre militares e o governo para seu próprio povo e intimidá-lo o suficiente para que não saia às ruas para protestar."

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