Manifestantes deixam embaixada dos EUA no Iraque
1 de janeiro de 2020Manifestantes pró-Irã deixaram nesta quarta-feira (01/01) o complexo da embaixada dos Estados Unidos em Bagdá, um dia após a invasão que forçou Washington a enviar tropas extras ao local e ameaçar retaliar o Irã.
Apoiadores iraquianos de facções pró-Irã invadiram o complexo da sede diplomática depois de um protesto contra ataques aéreos realizados pelos Estados Unidos no domingo no Iraque e na Síria contra a milícia xiita Kataib Hisbolá, apoiada pelo Irã, e que mataram 25 pessoas, ferindo ao menos 50.
O pedido para o fim da ocupação partiu das Forças de Mobilização Popular (PMF), um grupo que reúne as principais milícias xiitas iraquianas, que afirmou que a "mensagem dos manifestantes já havia sido ouvida". Apesar de terem invadido o perímetro externo da região fortemente protegida, os manifestantes não chegaram a entrar no complexo principal.
Durante a noite, os manifestantes montaram barracas para dormir na região e na quarta-feira pela manhã trouxeram alimentos e equipamentos de cozinha, além de colchões, dando a impressão que dariam continuidade aos planos de permanecer na ocupação por um tempo indefinido.
Nesta quarta-feira, forças de segurança dos EUA que protegem a embaixada jogaram bombas de gás lacrimogêneo para tentar dispersar os manifestantes que responderam lançando pedras. Vários manifestantes ficaram feridos. Um grupo colocou fogo num telhado na região da recepção.
Depois do confronto, a PMF pediu que os manifestantes deixassem a embaixada. O pedido foi atendido e o grupo começou a sair do complexo entoando frases como "nós os queimamos". Caminhões transportavam as barras de ferro e lonas usadas para montar o campo de protesto. Jovens usavam galhos para limpar as ruas da região e outros empacotavam os equipamentos levados para a região.
Os protestos marcam uma nova virada no confronto entre Estados Unidos e Irã. Depois da invasão da embaixada americana por apoiadores iraquianos de facções pró-Irã, o presidente dos EUA, Donald Trump, acusou Teerã de orquestrar o ato e ameaçou inicialmente retaliar, porém, posteriormente disse que não desejava uma guerra.
O governo do Irã negou nesta quarta-feira que esteja envolvido com o ataque. "Essas acusações dos EUA contra o Irã são um insulto ao povo do Iraque. Como e de acordo com que lógica eles esperam que o Iraque permaneça em silêncio contra todos esses crimes?", questionou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Abbas Mousavi.
O porta-voz iraniano aconselhou as autoridades americanas a não esquecerem que os iraquianos ainda os consideram "ocupantes". Além disso, pediu para que a Casa Branca reconsidere as políticas "destrutivas" na região e advertiu as autoridades americanas sobre as consequências de quaisquer erros de cálculo e reações imprudentes.
Apesar de décadas de inimizade entre Irã e EUA, milícias apoiadas por Teerã e forças americanas lutaram do mesmo lado contra o grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI) no Iraque e ajudaram o governo iraquiano a recuperar territórios que foram tomados pelos jihadistas. Desde então, as milícias pró-Irã foram incorporadas às forças de segurança do Iraque. Já as tropas americanas permanecem no país.
O ataque à embaixada ocorreu após centenas de pessoas participarem de uma marcha para protestar contra cinco bombardeios americanos. As investidas aéreas foram uma resposta de Washington à morte de um civil americano durante um ataque com mais de 30 mísseis contra uma base militar dos EUA em Kirkut, no norte do Iraque. A reação dos EUA recebeu críticas duras de Bagdá, Teerã e Moscou.
Foi a primeira vez em anos que manifestantes conseguiram chegar à embaixada dos EUA, que está abrigada atrás de uma série de postos de controle na chamada Zona Verde de alta segurança no centro da cidade de Bagdá, onde ficam também outras representações diplomáticas e vários órgãos e ministérios do governo iraquiano.
Construída durante a ocupação americana após a invasão que derrubou Saddam Hussein em 2003, a embaixada americana é a maior missão diplomática dos EUA no mundo. Depois da ocupação, Washington afirmou que os diplomatas estão em segurança e enviou tropas extras para a região.
CN/rtr/afp/efe
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