Merkel: EUA admitem erro em seqüestro de alemão
6 de dezembro de 2005O tour de Condoleezza Rice pela Europa poderia servir como paliativo para a situação atual, não fosse sua declaração de que as informações envolvendo a luta contra o terrorismo são delicadas demais para serem reveladas.
Por outro lado, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse que o governo norte-americano admitiu que o seqüestro do alemão de origem libanesa Khaled El-Masri ocorreu de "forma equivocada" pela CIA. Sobre o assunto, Rice comentou que a luta contra o terrorismo é passível de falhas. "Se ocorreram erros, nosso governo trabalhará duro para corrigi-los", enfatizou.
Declarações
Condoleezza Rice fez sua primeira parada em Berlim, onde teve encontro nesta terça-feira (06/12) com a chanceler federal Angela Merkel. Após a reunião, a secretária de Estado afirmou que "os Estados Unidos agem de acordo com a lei e que não praticam tortura". Reforçou também o "compromisso do governo em Washington de proteger seus cidadãos diante das novas guerras e do terrorismo".
Por outro lado, Rice, que seguirá para Bruxelas, Ucrânia e Romênia, deixou claro que não falará sobre a existência de prisões secretas da CIA. "Não discutiremos informações que possam comprometer o sucesso de operações militares e de inteligência", enfatizou antes de deixar os EUA.
Já a chefe de governo alemã insistiu na necessidade de buscar "um equilíbrio" entre a defesa dos cidadãos e a luta contra "as ameaças globais" e a manutenção "das regras" democráticas.
Prisões fechadas
A rede de televisão Americana ABC informou que a agência norte-americana fechou duas prisões secretas (na Romênia e na Polônia) dias antes do início da viagem de Rice. Segundo fontes da própria CIA, citadas pela emissora, 11 presos foram transferidos para estabelecimentos no norte da África.
A CIA se nega a comentar o assunto, enquanto o governo polonês afirma não ser verídica a informação. A Romênia deverá iniciar investigação. O país espera ingressar na União Européia em 2007, e Bruxelas já ameaçou que as negociações de ingresso no bloco correm risco de não acontecer, caso seja comprovada a veracidade das acusações.
Sem saída
Em relação aos vôos da Agência Central de Inteligência americana (CIA), o ex-ministro do Interior alemão está contra a parede. Tanto o governo quanto a oposição exigem que Otto Schily esclareça seu papel no escândalo.
Para tentar aliviar a tensão, Angela Merkel disse após encontro com Condoleezza Rice que o atual ministro das Relações Exteriores, Franz-Walter Steinmeier, explicará ao Parlamento alemão a denúncia de que o governo anterior sabia do incidente envolvendo a prisão de Khaled El-Masri.
"Steinmeier dará as explicações não como atual titular do Ministério das Relações Exteriores, mas pelo cargo que ocupou no Executivo de Gerhard Schröder, como chefe da Casa Civil", disse Merkel.
Aproveitando o ensejo, Merkel pediu também a Rice a colaboração para o fim do seqüestro da alemã Susanne Osthoff no Iraque. A secretária de Estado norte-americana respondeu expressando sua confiança em uma "boa resolução" do caso.
Malabarismo diplomático
O momento da visita de Rice à Alemanha não poderia ser mais inapropriado. Justamente quando o novo governo alemão tenta restabelecer laços mais firmes com os Estados Unidos é que surgem denúncias graves e a cobrança da sociedade e de partidos políticos por respostas concretas.
Angela Merkel precisou usar, além da diplomacia, a intuição feminina para que não fosse por água abaixo a tentativa de esquecer a posição alemã sobre a invasão do Iraque. Qualquer pergunta que fosse feita no momento errado poderia colocar tudo a perder.