Merkel inicia novo capítulo nas relações teuto-americanas
14 de janeiro de 2006Ao retornar de sua visita de dois dias a Washington, neste sábado (14/01), Angela Merkel fez um balanço positivo de sua primeira viagem oficial aos Estados Unidos na condição de chefe de governo da Alemanha.
Além da parceria no combate ao terrorismo, a chanceler federal sugeriu intensificar aspectos econômicos nas relações teuto-americanas, como as relações comerciais com a China e a Índia. Ao mesmo tempo, defendeu que os Estados Unidos sejam o país tema na Feira do Livro de Frankfurt: "Isto contribuiria com as relações culturais entre os dois países", justificou.
O presidente dos EUA, George W. Bush, havia dedicado três horas de sua agenda à primeira mulher chanceler federal da Alemanha, nesta sexta-feira (13/01), num sinal de que está superada a fase difícil das relações com o antecessor, Gerhard Schröder. Para Merkel, "talvez tenha sido iniciado um novo capítulo nas relações entre os dois países".
Merkel elogia franqueza de Bush
A chefe do governo alemão elogiou a franqueza de Bush: "Ele com certeza não é ninguém que esconde sua opinião. Isto por outro lado possibilita que a gente apresente a própria opinião e assim surge um diálogo bastante dinâmico".
A Alemanha é realmente o país mais importante no coração da Europa, por isso é de interesse vital que a Alemanha desempenhe um papel de liderança em temas centrais, salientou o presidente dos Estados Unidos. George W. Bush disse se alegrar com a parceria com Merkel: "Minha primeira impressão é enormemente positiva. Ela é esperta, é extremamente competente, tem um temperamento encantador e ama a liberdade. Teremos uma relação muito boa e isto é importante para as populações de ambos os países", salientou o presidente norte-americano.
Também o ex-secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, gostou de Merkel: "Ela fala clara, aberta e diretamente, o presidente gosta disto". Madeleine Albright, antecessora de Powell, salientou que Bush está muito interessado em uma boa relação com a chanceler federal alemã.
Críticas a Guantánamo
Merkel, que diferentemente de sua visita anterior a Washington só falou alemão na capital norte-americana, foi mais contida nos elogios e formulou claramente as condições de uma boa parceria. Se, por um lado, citou as experiências positivas da cooperação transatlântica nos Bálcãs, no Afeganistão e nas negociações da Organização Mundial do Comércio, por outro, reforçou as críticas a Guantánamo e sugeriu um debate nas Nações Unidas sobre a luta antiterror.
Bush argumentou que, apesar das divergências, os EUA não abrem mão do campo de prisioneiros. "Isto é necessário enquanto durar a missão antiterror e enquanto os cidadãos norte-americanos têm de ser protegidos". Bush garantiu ainda que os prisioneiros da base militar são tratados de forma humana e que, do ponto de vista norte-americano, as comissões militares são forma correta de julgá-los.
A crítica de Merkel a Guantánamo em Washington teve repercussão positiva na Alemanha, tanto de representantes do Partido Social Democrata, seu parceiro na coalizão de governo, como dos liberal-democratas, o maior partido de oposição.
China, Rússia, Iraque e BND
Também em relação aos papéis estratégicos da China e da Rússia no mundo e sobre a necessidade de uma solução diplomática para o impasse nuclear iraniano, há consenso entre Berlim e Washington, disse Merkel. Por seu lado, Bush agradeceu o engajamento alemão nas reconstruções do Afeganistão e do Iraque, "apesar das divergências teuto-americanas em relação à guerra".
Quanto às acusações de que agentes do serviço secreto alemão BND ajudaram a localizar alvos nos bombardeios dos EUA em Bagdá, o presidente disse ter "ouvido sobre isso pela primeira vez nos últimos dias".
Já em relação às relações com a Moscou, Merkel afirmou que a Alemanha ambiciona o papel de mediadora na Europa. Segundo ela, não se podem medir os valores empíricos da Rússia de forma paritária com os as nações ocidentais. "Estas devem buscar uma parceria estratégica e defender os próprios valores".
A chanceler federal alemã, que fala fluentemente russo, terá chance para isso nesta segunda-feira (16/01), quando será recebida em Moscou pelo presidente Vladimir Putin. Um dos temas da conversa entre ambos deve ser o abastecimento de energia, já que a Rússia é um importante fornecedor de petróleo e de gás natural à Alemanha.