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Meu avô, o nazista

(tj)23 de dezembro de 2005

Cineasta alemão pesquisou o passado nazista de seu avô e agora o apresenta num documentário, em cartaz nos cinemas alemães

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Jens Schanze formou a verdadeira imagem do avô em pesquisas própriasFoto: Tiberius Film

"Nunca diga 'nazista', diga 'nacional-socialista'", costumava pedir Antonie Schütze a seu filho, Jens Schanze. "Como se fizesse alguma diferença", pensava ele. Mas a mãe insistia no termo "nacional-socialista" ao referir-se a seu pai, a quem sempre se referia como "nosso bom pai".

"Bom pai?". Schanze nunca entendeu direito por que sua mãe falava assim de um homem que, apesar de seu pai, também tinha sido bem mais do que um simples funcionário do partido nazista.

Muito pelo contrário. Na realidade, o pai de Antonie ocupava um dos mais altos cargos no comando nazista na Baixa Silésia, que atualmente forma parte do território polonês. Ele integrava a SA (tropa de assalto) e era um anti-semita fervoroso. Depois que o avô de Jens morreu, em 1954, a filha manteve viva uma imagem idealizada de seu pai.

Aproximando-se da verdade

Winterkinder
Antonie Schütze com foto do pai, que sempre idealizouFoto: Tiberius Film

Foi com muito cuidado que Schanze, cineasta nascido em 1971, conseguiu que sua mãe falasse mais sobre essa admiração pelo pai. Sem censurá-la em nenhum momento, ele tentou fazer somente perguntas neutras e de uma maneira sensível.

O resultado foi o documentário Winterkinder – Die schweigende Generation (Crianças de inverno – A geração silenciosa, 2005), desde dezembro em cartaz nas salas alemãs. Aquilo que sua mãe parecia não lembrar com precisão, Jens Schanze foi buscar nas cartas do avô, das quais ele próprio lê alguns trechos no filme, em off.

Nessas cartas, o diretor encontrou discursos anti-semitas bastante inflamados e algumas canções glorificando Hitler. Com a ajuda das cartas, fotos de família e outros documentos ele formou uma nova imagem de seu avô.

Até suas irmãs mais velhas se uniram ao trabalho. Suas infâncias foram marcadas por frieza e silêncio. A guerra era – sem a necessidade da ordem explícita – tópico proibido em casa.

O envolvimento de seu avô com o nazismo foi mantido em silêncio durante muito tempo pela família. A decisão de Antonie, dando ao filho a permissão de produzir uma análise crítica do pai, causou uma grande confusão entre os familiares. Suas relações mudaram significativamente.

Mensagem do diretor

Numa das cenas mais fortes do filme, a filha do comandante nazista está em frente a um forno crematório num campo de concentração da Baixa Silésia. É neste momento que ela não contém suas lágrimas.

Winterkinder
Os pais de Jens Schanze contribuíram para sua pesquisaFoto: Tiberius Film

Winterkinder narra um pouco da história contemporânea da Alemanha, ao acompanhar a busca do diretor, seus pais e irmãos pelo passado do avô, paralelamente documentando o início de uma confrontação entre as gerações dos netos e dos filhos.

Com grande intensidade, o filme se dedica a analisar como a vivência da época nazista e o silêncio a respeito afetaram as gerações posteriores

Memória privada x memória pública

Em geral, reconhece-se, mesmo fora da Alemanha, que o país se ocupou de forma apropriada com seu passado recente.

Entretanto, uma pesquisa realizada há três anos entre os alemães trouxe um resultado bastante surpreendente: quase metade da população acredita que seus parentes tenham se posicionado criticamente contra o regime nazista.

O filme de Jens Schanze mostra de forma exemplar as origens dessa discrepância entre a memória privada e a pública. E talvez Winterkinder encoraje uma ou outra família alemã a finalmente conversar sobre esse passado (ainda) obscuro.