Monet inédito
5 de fevereiro de 2011Götz Czymmek é um homem paciente. Durante duas décadas, ele guardou um segredo que qualquer amante da arte adoraria bradar ao mundo.
Em 1991, na função de curador do Museu Wallraf Richartz, em Colônia, Alemanha, ele recebeu um telefonema anônimo de uma senhora, informando que uma tela de Claude Monet (1840-1926), original e bem preservada, estava à sua disposição.
Guardada numa caixa de papelão no porão da misteriosa mulher, a obra só seria cedida sob determinadas condições: a doadora queria permanecer anônima e o Monet só poderia ser exibido após sua morte.
"De início, não levei a senhora muito a sério", confessa Czymmek. "Ela insistiu que eu levasse imediatamente o quadro comigo, pois não queria tê-lo em casa. Assim, dirigi de volta a Colônia com um Monet numa caixa de papelão, no banco de trás do meu carro."
O curador nunca mais viu a doadora, embora, pelo menos uma vez por ano, ela lhe enviasse uma breve mensagem: "Ainda estou viva!". Neste meio tempo, ela faleceu, e Götz Czymmek ficou livre para revelar seu segredo.
"Cena primaveril em Vétheuil"
Muitas obras de arte são doadas ao museu, porém ganhar de presente uma tão valiosa assim, só acontece uma vez na vida, comenta o curador. "Frequentemente recebemos pinturas e estamos felizes com as muitas aquisições, mas às vezes esses quadros nos chegam por não serem vendáveis, e geralmente estão em más condições", explica.
Au-dessus de Vétheuil – Effet de printemps (Acima de Vétheuil – Efeito primaveril) é uma exceção. Tendo como motivo uma cena na cidade onde Monet viveu de 1879 a 1881, ele foi identificado como um original de 1880. Trata-se de um momento-chave na vida do artista. Foi em Vétheuil que sua esposa Camille faleceu, e que ele conheceu sua segunda companheira, Alice.
Na primavera de 1880, o artista realizava sua primeira exposição individual, após recusar-se a participar da 5ª Mostra de Pintura Impressionista, em Paris, sinalizando, assim, o intento de se distanciar de seus contemporâneos. Foi nesse ano também que ele lançou as bases de sua pintura paisagística, as quais vigorariam pelo século 20 adentro.
O cheiro da autenticidade
Entretanto o quadro inédito, em si, não preenche nenhuma lacuna na obra de Monet, comenta à Deutsche Welle Mario von Lüttichau, curador do Museu Folkwang de Essen. "Claro, é sempre significativo descobrir uma obra de um artista de ponta como Monet. Mas essa paisagem não é especialmente reveladora, e os historiadores da arte não estavam à procura dela."
Em 2008, descobriu-se que o suposto Monet Margem do Sena perto de Port Villez, exposto no Museu Wallraf Richartz desde 1954, era uma falsificação.
Porém Czymmek está absolutamente seguro de que o Monet inédito é verdadeiro. E, como prova, aponta na parte de trás da tela, para um velho selo da Galeria Bernheim-Jeune de Paris, que vendeu algumas peças daquele expoente do Impressionismo.
Só que selos podem enganar, ressalva Von Lüttichau. São certamente um indicador, porém são conhecidos casos de pinturas que se revelaram falsificadas, "apesar de terem os selos certos atrás". "Para mim, decisiva é a experiência de ver – até de cheirar – a pintura. Só assim se pode dizer que seja autêntica."
Götz Czymmek relata que a idosa doadora entrou de posse da paisagem na década de 1940. Assim, não se pode excluir a possibilidade de que os nazistas a tenham roubado do proprietário anterior, durante a guerra. "Contudo a pintura já foi divulgada há alguns meses, e até agora ninguém a reclamou."
Efeito primaveril está exposta ao público na sala impressionista do Museu Wallraf Richartz, que celebra 150 anos de fundação em 2011.
Autoria: Sasha Pavey (av)
Revisão: Carlos Albuquerque