1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

No Natal, alemães pagam preço da própria negligência

Clarissa Schimunda Neher
Clarissa Neher
14 de dezembro de 2020

A Alemanha voltou a ser paralisada pela pandemia. A população, que às vezes parecia viver como se não houvesse coronavírus, é em grande parte responsável por isso, escreve a colunista Clarissa Neher.

https://p.dw.com/p/3mgog
Aglomeração durante a pandemia em Berlim: barracas de quentão viraram atração turística
Aglomeração durante a pandemia em Berlim: barracas de quentão viraram atração turísticaFoto: Fabian Sommer/dpa/picture alliance

O ano de 2020 foi marcado e paralisado pela covid-19. O que no início parecia ser uma doença passageira, que em poucos meses seria controlada, provou ser o contrário. No verão europeu, havia a falsa sensação de que o pior passara, com o cotidiano funcionando quase normalmente e planos para a realização dos tradicionais eventos natalinos. A máscara de proteção era praticamente a única lembrança da pandemia. Já o distanciamento social foi completamente esquecido por muitos.

Em outubro, porém, soou um novo alerta com o aumento exponencial de casos. Na tentativa de evitar um lockdown, o governo alemão impôs o fechamento de bares, restaurantes e espaços culturais – medida que deveria durar um mês. Na época ainda se cogitava a realização dos tradicionais mercados natalinos, mas quanto mais o tempo passava, mais claro ficava nos números que as medidas restritivas estavam tendo pouco efeito.

Assim, o lockdown parcial foi estendido, e os mercados de Natal cancelados. O advento chegou sem o alvoroço das feiras natalinas, dos jantares de trabalho, dos encontros para assar biscoitos, das reuniões familiares. Apenas a típica decoração de casas e espaços públicos, que iluminam as ruas neste período onde o dia é cada vez mais curto, remetem a essa época do ano.

Embora as restrições para conter a pandemia tenham sido reforçadas nas últimas semanas, elas não estavam surtindo efeito. Na semana passada, novamente o número de casos de diários de covid-19 bateu recorde na Alemanha. Hospitais estão com mais pacientes do que na primeira onda, e os óbitos também aumentaram. Em Berlim, por exemplo, vários pacientes tiveram que ser transferidos de uma das maiores emergências da cidade, pois, devido à lotação, o hospital precisaria fechar as portas para quem chegasse procurando ajuda.

A própria população é a responsável por grande parte deste atual cenário. Diariamente autoridades e especialistas em saúde fazem apelos na imprensa alemã para a redução de contatos, para o cumprimento das medidas restritivas em vigor, mas muitos simplesmente ignoravam tudo ao redor. Basta sair de casa para ver aglomerações.

Em Berlim, assim como em outras cidades da Alemanha, donos de restaurantes resolveram vender na frente de seus estabelecimentos quentão para viagem. A iniciativa virou atração turística, atraindo pequenas multidões. Aqui em Berlim foram criados circuitos de quentão em diferentes bairros, com dicas em plataformas na internet de como curtir melhor o passeio alternativo. Sem máscara, grandes grupos passaram a se reunir para beber nas ruas – contrariando as leis de proteção contra infecções.

Também era comum ver muitos sem máscaras em locais públicos onde seu uso seria obrigatório. Com frequência, a polícia na capital alemã é chamada para acabar com festas clandestinas. Isso sem falar nos negacionistas que não acreditam na doença, espalham mentiras que colocam muitos em risco e querem protestar contra uma "ditadura", que só existe na cabeça deles e cuja prova seria a obrigatoriedade das máscaras de proteção em determinados locais.

Graças a esse comportamento egoísta de muitos, a covid-19 vai se alastrando cada vez mais. Por se recusarem a ter que viver um pouco restritivamente, evitar encontro com amigos e familiares, viagens desnecessárias e também sair de casa, obrigaram o governo a tomar medidas mais drásticas: um lockdown total válido pelas próximas semanas.

A situação não é fácil, requer muita paciência e também solidariedade e amor ao próximo. Por mais ruim que seja, não é o fim do mundo ficar só em casa, restringir contatos, deixar de ir a restaurantes, bares, eventos culturais ou usar máscara em público. Há tantas pessoas em outros países que enfrentam situações muito piores, como guerras, violência, fome, que não têm acesso à água e eletricidade, são diariamente confrontadas com a discriminação. É só sair um pouco de sua bolha para ver a realidade. Não custa muito seguir o distanciamento social e quem sabe passar um Natal longe de amigos e familiares para que, no próximo ano, a vida que levávamos até 2019 comece a ganhar ares de normalidade. Na atual situação, ouvir especialista e restringir um pouco da nossa liberdade são gestos de amor que cairiam muito bem neste período do ano.

--

Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy. Siga-a no Twitter.

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Mais dessa coluna

Mais dessa coluna

Mostrar mais conteúdo
Pular a seção Sobre esta coluna

Sobre esta coluna

Checkpoint Berlim

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Nesta coluna, ela escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.