Nobel da Paz premia trabalho silencioso contra armas químicas
11 de outubro de 2013Por muito tempo, os inspetores da Opaq trabalharam longe dos olhos do grande público, uma situação que só começou a mudar recentemente, com o conflito sírio. A situação no país devastado pela guerra civil, disse o Comitê Nobel nesta sexta-feira (11/10), ilustra a importância do trabalho da organização, premiada por seu "extenso trabalho" para abolir armas químicas.
A Síria deverá, na próxima segunda-feira (14/10), se tornar o 190º Estado a se juntar à Opaq. Depois de grande pressão internacional, o ditador sírio, Bashar al-Assad, aceitou abandonar seu arsenal de armas químicas – evitando, assim, um ataque militar dos Estados Unidos.
No momento, 27 inspetores da Opaq estão na Síria para verificar os locais de armazenamento e produção e, depois, iniciar a destruição do arsenal químico. Em breve mais especialistas deverão se juntar ao grupo, que chegou ao país no começo de outubro.
Até agora, de acordo com dados da organização, eles já visitaram três locais. Segundo estimativas, o regime de Assad possui cerca de mil toneladas de armas químicas, que devem ser eliminadas até meados de 2014, segundo resolução do Conselho de Segurança da ONU.
Organização "invisível"
A Opaq é responsável pela implantação da Convenção sobre Armas Químicas de 1997, que proíbe o uso e a produção de tal armamento, e exige sua destruição. A organização tem sede em Haia, na Holanda, e emprega 500 funcionários, que lidam diariamente com problemas relacionados a armas químicas.
Investigar e controlar são o trabalho da organização. Já a tarefa das Nações Unidas é apresentar resultados, de acordo com o porta-voz da Opaq Michael Luhan: "A ONU é, na condição de quem nos passa as tarefas, o proprietário dos resultados das nas nossas investigações", explica.
Tão desconhecido como o trabalho da Opaq é seu secretário-geral, o turco Ahmet Üzümcü, à frente da organização desde 2010. Ele conhece bem a Síria, já que, entre 1982 e 1984, viveu e trabalhou no país, como cônsul-geral na cidade de Aleppo, duramente castigada pela atual guerra civil.
Primeira vez na guerra
Uma ação como a na Síria é novidade para a Opaq – essa é a primeira vez que inspetores da organização são enviados para investigar uma suspeita de uso de gases tóxicos em uma zona de guerra. A principal tarefa da entidade é outra.
Todos os Estados que aceitaram a Convenção sobre Armas Químicas se comprometeram, eles mesmos, a destruírem seu arsenal de armas químicas. A Opaq foi fundada em 1997 para supervisionar e acompanhar esse processo. Seus 125 inspetores têm acesso garantido e ilimitado a instalações militares nesses países.
A organização é financiada pelos países-membros, da mesma maneira que eles financiam as Nações Unidas. Apesar de sua estreita ligação com a ONU, a Opaq é uma instituição independente, que atua contratada pelas Nações Unidas.
Quase todos os países do mundo aceitaram a Convenção sobre Armas Químicas. Há algumas exceções, como Angola, Egito, Coreia do Norte e Sudão do Sul. Israel e Mianmar ainda não ratificaram o tratado.
Êxito em números
De acordo com o porta-voz da Opaq, a grande maioria das armas químicas produzidas no mundo foi destruída. "Podemos atestar que 80% de todo o armamento químico existente foi destruído", diz Luhan.
Ralf Trapp, que ajudou a criar a Opaq e hoje trabalha como consultor de desarmamento independente, confirma os números, mas, ao mesmo tempo, relativiza o progresso alcançado: "Todas as armas químicas deveriam ter sido destruídas dez anos depois da fundação da Opaq, em 1997, ou no máximo em 15 anos."
Na verdade, o processo de destruição já deveria ter sido concluído. Particularmente, a Rússia e os Estados Unidos estão atrasados no processo – os dois países têm o maior arsenal de armas químicas do planeta. De acordo com a Opaq, a Rússia possuía cerca de 40 mil toneladas de armas químicas, e 75% já foram destruídos. Os EUA tinham 30 mil toneladas, e 90% foram eliminados.
"É dez vezes mais caro destruir armas químicas do que é gasto para produzi-las", diz Trapp. "Não é fácil destruir completamente esses grandes arsenais sem prejudicar a população e o meio ambiente. É um processo que demanda tempo, e especialmente, dinheiro."