Novas conversas confrontam palestinos e israelenses com velhos impasses
23 de julho de 2013Pela primeira vez em três anos, israelenses e palestinos aceitaram se sentar à mesa em negociações de paz. O acordo é fruto da mediação do secretário de Estado americano, John Kerry, e chega após uma quase maratona diplomática pelo Oriente Médio.
As conversas se darão, inicialmente, a nível de negociadores. Depois, se avançarem, devem levar à mesma mesa, pela primeira vez desde o início da Primavera Árabe, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Entenda o que estará em jogo nas negociações:
Como as duas partes chegaram ao acordo?
O mérito é do secretário de Estado John Kerry. Incansável, Kerry tem viajado com frequência à região nos últimos meses. Ele conseguiu, através de uma combinação de paciência, pressão e discrição, levar os dois lados de volta à mesa de negociações.
Nos próximos dias, Tzipi Livni, negociadora-chefe de Israel, e Saeb Erekat, à frente do lado palestino, vão se reunir em Washington. Apesar de serem apenas preparações preliminares para a retomada das conversações de paz, a iniciativa já pode ser considerada um sucesso, levando-se em conta as complicações da situação no Oriente Médio.
O que será discutido?
Kerry tenta agir de forma discreta, por entender que chamar a atenção ao processo agora poderá prejudicar seus esforços. “O acordo ainda deve ser trabalhado formalmente, por isso não vou comentar detalhes”, afirmou o secretário de Estado, ao anunciar à imprensa o reinício dos contatos diretos entre as duas partes.
As discussões iniciais provavelmente vão lidar com o planejamento de conteúdo e da estrutura para as futuras negociações de paz.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, sempre manteve claras as suas condições para o reinício das conversações: o congelamento dos assentamentos judaicos e a aceitação das fronteiras de 1967, quando Israel ocupou Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza. A exigência sempre foi rejeitada pelo premiê israelense, Benjamin Netanyahu.
O jornal Wall Street Journal, citando uma fonte palestina, afirma que Kerry teria dito a Abbas que Netanyahu prometeu uma “paralisação sigilosa dos assentamentos” durante o período das negociações. Kerry também haveria “garantido pessoalmente” que as conversas seriam conduzidas com base nas fronteiras de 1967.
Qual o objetivo principal das negociações?
Como sempre, o estabelecimento de dois Estados. Os palestinos querem a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e o estabelecimento de um governo independente na Faixa de Gaza com soberania plena. Israel, porém, teme problemas de segurança e requer a desmilitarização de um futuro Estado palestino, além do controle de seu espaço aéreo e de suas fronteiras externas. Além disso, as Forças Armadas israelenses deveriam permanecer estacionadas por décadas ao longo do Vale do Jordão.
De acordo com uma pesquisa recente, dois terços da população israelense apoiam a solução de dois Estados. Netanyahu afirmou diversas vezes que é a favor de uma Palestina independente que possa coexistir pacificamente com Israel. No entanto, essa solução encontra muitos opositores dentro da atual coalizão de governo.
“A prova de força virá no momento de tomar decisões concretas”, explica o analista político Hanan Chrystal.
Além disso, afirma, a organização palestina Hamas, que detém o poder na Faixa de Gaza, rejeita a solução de dois Estados. O porta-voz do Hamas, Sami Abu Suhri, chegou a declarar que Abbas não tem o direito de negociar em nome do povo palestino.
Por que as fronteiras de 1967 são tão importantes para os palestinos?
Os palestinos desejam estabelecer seu Estado com as fronteiras anteriores a 1967. A Faixa de Gaza foi liberada por Israel em 2005. Já Cisjordânia e Jerusalém Oriental se tornaram alvos dos assentamentos judaicos nos últimos anos. Em torno de 600 mil colonos vivem nessas regiões, que entrecortam o território palestino. De acordo com as leis internacionais, os assentamentos são ilegais. Se Israel vier a aceitar as fronteiras de 1967, eles terão de ser retirados.
Qual seria uma solução possível para a questão dos assentamentos?
Israel não quer abrir mão dos assentamentos – quer que eles se tornem parte de seu próprio Estado. Uma das soluções possíveis seria uma troca de territórios. Abbas declarou que aceitaria essa saída, mas Israel já a rejeitou.
A situação é particularmente complicada quando se trata de Jerusalém Oriental. A região abriga atualmente em torno de 200 mil colonos judeus. Para os israelenses, a capital Jerusalém é “eterna e indivisível”. No entanto, os palestinos desejam que Jerusalém Oriental se torne a capital de seu próprio Estado.
Qual será o destino dos refugiados palestinos?
Em torno de 5 milhões de palestinos vivem nos países vizinhos. A maioria é descendente dos 760 mil palestinos que tiveram que fugir ou se exilar durante a criação de Israel, em 1948.
Os líderes palestinos insistem no direito do retorno dos refugiados e de seus descendentes também para o território israelense, o que faria com que os judeus não fossem mais a maioria em Israel. O governo israelense nega o direito de retorno dos refugiados a seu território, e insiste que eles devem viver num futuro Estado palestino.