O preço das mudanças climáticas
16 de abril de 2004Isabel, Queenie, Michaela, El Niño, La Niña – furacões, enchentes, ondas de calor. Chamados pelos comuns mortais por nomes singelos, eles são vistos pelas empresas de seguros de forma sóbria: “causadores de danos elementares”.
Há 30 anos, a resseguradora alemã Münchner Rück – a maior do mundo – pesquisa o quanto o comportamento humano contribui para o aumento do número destas catástrofes e, claro, como as seguradoras podem reagir a elas.
Mestre do desastre
Gerd Berz, diretor do Departamento de Pesquisa em Risco Geográfico da Münchner Rück, é chamado por seus colegas de master of disaster (mestre do desastre). Há três décadas, o meteorologista estuda as mudanças climáticas por que passa o planeta. Uma de suas principais conclusões é a de que as catástrofes naturais provocaram, nos últimos dez anos, prejuízos no valor de 333 bilhões de dólares – um montante seis vezes maior do que há 50 anos.
Uma das principais razões deste aumento é o aquecimento do planeta, provocado pelo efeito estufa. Até o fim deste século, a temperatura média da Terra deverá subir cerca de 1,5 grau. “Isso significa que teremos temperaturas tão altas como nunca, aliadas, obviamente, a um aumento sensível das temperaturas extremas. O último verão europeu (extraordinariamente quente) foi apenas uma pequena amostra disso. Ele nos mostrou como o clima vai mudar e com que ondas fortíssimas de calor e seca precisamos contar no futuro”, observa Berz.
Crescimento populacional
Os aumento dos danos a serem cobertos pelas seguradoras e resseguradoras não se dá única e exclusivamente em função das mudanças climáticas, mas também como conseqüência do crescimento populacional global. A população mundial duplicou nos últimos 50 anos.
“Além disso, as cidades não se tornam apenas maiores no número de habitantes, mas também na superfície que ocupam. Isso significa que a probabilidade de que um fenômeno natural atinja uma área urbana torna-se cada vez maior. Sem contar o fato de que várias dessas cidades se encontram em lugares especialmente expostos aos perigos, como por exemplo em regiões costeiras. Essa tendência é, inclusive, mundial”, analisa Berz.
Aglomerações urbanas suscetíveis
Segundo o especialista, as grandes aglomerações urbanas são especialmente suscetíveis às catástrofes: “Somos completamente dependentes de uma infra-estrutura que funcione. Se surge aí algum problema – efeito típico de uma catástrofe natural – então vai faltar energia, gás, petróleo. Com isso, interrompe-se o tráfego e a comunicação, ou seja, fatores de extrema importância para o fluxo econômico”.
Cerca de 20% dos danos causados por catástrofes naturais são cobertos por seguradoras, sendo que seis mil delas têm um resseguro feito pela Münchner Rück. Isso explica porque a maior resseguradora do mundo precisa reagir às mudanças climáticas, mesmo que os próprios assegurados tenham que assumir parte dos riscos.
“Precisamos esclarecer aos clientes que o futuro nos reserva danos ainda maiores, o que faz com que nós, resseguradores, tenhamos que acumular reservas de capital mais sólidas, pensando nas catástrofes que estão por vir. Este é o nosso grande problema”, expõe Berz.
Investir na infra-estrutura urbana
Pensando nisso, a Münchner Rück desenvolveu um programa de proteção contra catástrofes naturais. Com o objetivo de minimizar os danos provocados pelo desequilíbrio do meio ambiente, os especialistas da resseguradora acreditam que é necessário investir mais nos fatores sócio-econômicos responsáveis pela cadeia de catástrofes naturais, como na infra-estrutura urbana. Inclui-se aí um planejamento mais rígido em regiões predispostas a terremotos e a limitação do uso do solo em áreas propensas a inundações.
Embora os especialistas vejam a saída em iniciativas locais, o macro-problema requer soluções globais. Não é preciso apenas contornar os danos ambientais, mas principalmente evitá-los. Enquanto alguns políticos vêem nas declarações de especialistas como Gerd Berz um “alerta inicial”, países industrializados como os EUA ainda dão de ombros para os efeitos climáticos, respondendo por exemplo por mais de 25% do efeito estufa em todo o mundo e ainda se negando a ratificar o Protocolo de Kyoto.
Responsabilidade dos países ricos
“Os países industrializados são responsáveis por 75% das emissões. Sem os EUA, seriam 50%. Se reduzíssemos essas emissões em 30%, o resto do mundo, ou seja, o Terceiro Mundo, poderia até mesmo duplicar suas emissões, sem que isso fosse pesar no balanço global. Uma vez que as nações industrializadas, até hoje, só tiraram proveito dessa situação, estaria na hora de estes países assumirem a responsabilidade, fazendo de tudo para não impulsionar ainda mais o desenvolvimento, mas sim para estabilizá-lo”, conclui Berz.